Dar tchau aos amigos, conhecer novos ambientes e fazer outros laços. Como é para a criança e adolescente a mudança de escola e a nova etapa?

Ao atravessar um novo ano, muitos encontram a mesma rotina e obrigações, os planos e promessas ao início do ano servem para todos, mas quando se é criança ou adolescente, o “feliz ano novo” pode significar uma mudança ainda maior.

Felipe de Souza Barbeiro: "Em alguns casos, a escola representa um instrumento reparador em muitas faltas que ocorrem em casa”
Felipe de Souza Barbeiro: "Em alguns casos, a escola representa um instrumento reparador em muitas faltas que ocorrem em casa” | Foto: Arquivo pessoal

O calendário escolar, geralmente iniciado no mês de fevereiro, traz a busca pela compra de materiais, uniformes e a expectativa dos estudantes para uma nova fase. Muitos desses acabam enfrentando alguns motivos para trocar de escola, pode ser a mudança de endereço, alteração no orçamento familiar, preferência por novos tipos de ensino, entre outras razões pessoais que levam a novas instituições.

Para os adolescentes já habituados com o seu dia a dia, ter uma mudança brusca de ambiente pode gerar um grande efeito. Para o psicólogo Felipe de Souza Barbeiro, este impacto na troca de escolas vai se diferenciar de um caso para outro. “Justamente porque a escola é um ambiente extremamente importante na vida da criança e do adolescente, ela se torna o segundo lugar de interação social que auxilia como uma continuação do desenvolvimento da criança. Em alguns casos, a escola representa um instrumento reparador em muitas faltas que ocorrem em casa”, explica o psicólogo, já que o ambiente escolar passa a ser um lugar muito simbólico para os alunos, podendo corresponder a maior porcentagem do seu ciclo social.

O aspecto acadêmico e toda a grade escolar é algo muito importante. Na maioria dos casos, o que está na mira dos pais ao buscar a melhor escolha em instituição para os filhos são bons currículos de professores e locações seguras, mas o suporte psicológico também deve ser observado como importante.

Adaptação

Conhecido por um período intenso em emoções até mesmo por sua questão hormonal, a adolescência é uma etapa determinante na formação dos indivíduos. Construção de personalidade, grupos sociais de amigos e todos os conflitos emocionais que possam ser originados nesse momento devem ser tratados com atenção redobrada da família e profissionais da área educacional.

A pedagoga Vanessa Farias de Souza fala sobre a importância do "aluno anjo"
A pedagoga Vanessa Farias de Souza fala sobre a importância do "aluno anjo" | Foto: Arquivo pessoal

Vanessa Farias de Souza, é pedagoga do Colégio Positivo Londrina, onde há algumas estratégias de adaptação para os alunos recém chegados. “Existe o tempo de adaptação de cada aluno, neste período a família e a escola estão bem próximas para que o aluno se sinta seguro e acolhido no ambiente escolar. Acreditamos que essa ação de aproximação reflete diretamente na criação de um sentimento positivo, de satisfação e confiança entre a família e a instituição”, diz.

Encerrando ciclos

Para alguns a chance de conhecer novos amigos e ambientes pode ser sedutora e empolgante, mas para os mais tímidos a ideia de se apresentar novamente e chamar atenção como um rosto ainda desconhecido acaba gerando muito estresse. As mudanças de amizades e perdas de fortes vínculos podem ocasionar uma desconfiança. “Há o medo pelo desconhecido, pois tendemos a resistir ao que é novidade. E como todo luto, vai depender de cada um, de como cada um elabora a perda do vínculo e o que se faz para mantê-lo, se for possível. É a despedida afetiva de um lugar e a preparação para um novo, nem sempre sendo do desejo do estudante. Será o reconhecimento de uma nova fase, de um novo lugar, de novas regras e novas cobranças, o que nem sempre é fácil”, explica o psicólogo Felipe de Souza Barbeiro.

`Aluno anjo´ está sempre pronto para ajudar

No momento em que se formam novas turmas no início do ano letivo, com os corredores lotados de assuntos frescos e novidades das férias é uma deixa para se enturmar. Nessa hora, ter a ajuda daquele colega mais extrovertido pode ser uma boa opção. “Em todas as salas temos o ‘aluno anjo’, que é o estudante que vai ajudar o novo aluno a se familiarizar com o espaço e a rotina escolar. Eles sentam juntos, lancham juntos, brincam e assim, esse ‘aluno anjo’ vai promovendo a integração e a aproximação com os demais alunos da sala e o espaço da escola”, conta a pedagoga Vanessa Farias de Souza, do Colégio Positivo Londrina, uma das responsáveis por esse período de integração.

A adaptação é uma construção diária e também desenvolvida através de diversas atividades de integração, rodas de conversas, entre outras formas de amenizar qualquer obstáculo social do jovem e da criança. “São dias dedicados ao planejamento e formação da equipe docente até chegar o grande dia do encontro entre alunos e professores. Pensamos esse processo sempre com muito carinho, principalmente no acolhimento aos alunos, como forma de promoção à integração e ao fortalecimento de vínculos entre os estudantes e os professores”, diz a pedagoga.

Uma das propostas pedagógicas que podem auxiliar é a sociointeracionista, em que os alunos se tornam o foco do processo, tendo as habilidades individuais e coletivas priorizadas, realizando trocas das suas experiências, assim conseguem valorizar os seus potenciais e de seus colegas. Esta é outra maneira encontrada para ampliar a sensação de acolhimento. Para o psicólogo Felipe de Souza Barbeiro, trabalhar essa rede de apoio ao alunos é essencial para que eles passem por isso da maneira mais saudável possível. “Cada espaço tem sua importância e sua característica: família, escola e psicoterapia, e todas juntas podem ser uma excelente oportunidade de viver e se desenvolver criativa e genuinamente”.