O que é voltar para casa? Até 2019, voltar para casa poderia ser visto como sinônimo de descansar, dormir, já que a vida, principalmente profissional, era vivida fora; a partir de 2020, com a chegada da pandemia da Covid-19, as moradias precisaram se transformar no escritório, na sala de aula e no momento de lazer das famílias. Com isso, ter uma casa confortável e que trouxesse qualidade de vida em meio a um cenário devastador que se desenrolava Brasil afora foi uma tendência seguida por muitas famílias.

Gerente do Grupo Plaenge, Rodolfo Sugeta pontua que o setor imobiliário na região de Londrina se comportou de forma muito positiva durante a pandemia, o que ele considera como “surpreendente”. Segundo ele, apesar de um momento inicial bastante tenso, que afetou todos os setores, a retomada da construção civil foi rápida e forte, principalmente pelo fato de que as pessoas passaram a ficar mais dentro de suas casas.

LEIA MAIS:

- Zona sul de Londrina tem ainda muito espaço para crescer

- Veja as vantagens de morar em um condomínio horizontal

- Na construção civil, sustentabilidade é a palavra da vez

“Elas começaram a enxergar a moradia de uma outra forma”, explica, ressaltando que muitas pessoas passaram a ter uma visão mais crítica, desejando imóveis maiores e mais confortáveis, com escritórios ou áreas gourmets, por exemplo. Neste ano de 2023, mesmo com uma retomada gradual à normalidade e uma mudança de governo, ele considera que os resultados foram os melhores dos últimos quatro anos. Faz parte do Grupo Plaenge a Construtora Vanguard.

Cenário favorável

Sergio Cano, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) do Rio de Janeiro e especialista em mercado imobiliário, explica que durante o segundo semestre de 2020 e o primeiro de 2021 houve uma redução das taxas de juros, o que impulsionou a venda de imóveis. “Houve uma ressignificação dos conceito de moradia para as famílias porque, no período anterior à pandemia, o imóvel era visto muitas vezes como um imóvel dormitório”, ressalta, acrescentando que a rotina era vivida em sua grande maioria fora de casa.

Mercado imobiliário em Londrina: boas novas para 2024
Mercado imobiliário em Londrina: boas novas para 2024 | Foto: Roberto Custodio

Segundo o professor, por conta do distanciamento social, muitas pessoas foram em busca de imóveis maiores ou até mesmo deixaram de lado os apartamentos para viverem em casas localizadas em condomínios. Naquele momento, ele ressalta que muitas pessoas optaram por sair dos grandes centros urbanos para morarem em casas que antes eram consideradas apenas como um destino de férias, como em regiões praianas ou serranas. Aliados, a taxa básica de juros na casa dos 2% e a busca por uma qualidade de vida possibilitaram que as pessoas investissem em um imóvel.

Entretanto, com a elevação das taxas e o aumento do preço dos materiais de construção - por conta da escassez de matéria-prima - já no segundo semestre de 2021, o preço dos imóveis voltou a subir, com a taxa Selic atingindo um pico de 13,75% em 2022 . Segundo ele, com os bancos mais seletivos na hora de liberar o crédito e as famílias com uma perda de renda, as oportunidades para a compra de imóveis foram reduzidas.

Aterrissando em 2023, em uma situação de normalidade e já falando em um cenário de pós-pandemia, a taxa de juros começa a sofrer cortes, apesar de ainda permanecer elevada, mas com novas alternativas em programas, como a retomada do Minha Casa, Minhas Vida, que trazem oportunidades de financiamento para as pessoas com uma renda menor.

O FUTURO

Para 2024 e já pensando nos próximos anos, o professor Sérgio Cano reforça que existe um indicativo de queda nas taxas de juros, saindo de 12,25% para chegar próximo de 9% no final do ano que vem, o que sinaliza que as taxas do crédito imobiliário também devem cair. “Isso gera um efeito colateral muito positivo para o mercado em vários sentidos, já que se a taxa de juros do crédito imobiliário cai, ela dá condições de mais famílias adquirirem a casa própria”, pontua. Segundo ele, existe um estudo que aponta que com uma redução de 1% da taxa de juros imobiliária é possível colocar mais de um milhão de famílias em condições de compra de um imóvel.

“Então se a gente está falando de chegar ao final de 2024 com um taxa [de juros] em torno de 9% e se a gente for pensar que o crédito imobiliário, a taxa de juros vai cair pelos menos 1,5% ou 2% também, a gente vai dar uma acessibilidade muito maior para as famílias na compra de um imóvel”, afirma.

Esse cenário, segundo ele, também influencia com que as empresas lancem mais empreendimentos, o que, por sua vez, vai permitir com que elas empreguem mais, fazendo com que exista um efeito em cadeia no setor da construção civil. “A gente sabe que a construção civil é um dos principais segmentos de geração de emprego e renda para a economia de qualquer país, então você tem mais gente trabalhando, mais renda sendo gerada e, consequentemente, mais pessoas em condições de compra”, explica.

TENDÊNCIAS

Célia Catussi, presidente do Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil) no norte do Paraná, ressalta que, mesmo durante a pandemia, o setor da construção civil teve um desempenho muito positivo, com um crescimento de 17,59% entre 2020 e 2021. Em 2022, esteve na casa de 7% e, para 2023, a expectativa é fechar o ano com uma expansão entre 2% e 2,5%, no cenário nacional, de acordo com dados da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção)

A presidente do Sinduscon, Célia Catussi, diz que Londrina tem perfil de compradores para todo tipo de moradia
A presidente do Sinduscon, Célia Catussi, diz que Londrina tem perfil de compradores para todo tipo de moradia | Foto: Divulgação

Ela reforça que um dos principais desejos do brasileiro é a aquisição da casa própria e que Londrina tem o perfil para todo e qualquer tipo de moradia. Segundo ela, apesar de ser uma cidade muito verticalizada, mais de 30 projetos de condomínios horizontais estão em fase de aprovação ou lançamento.

Em relação aos tamanhos, ela ressalta que Londrina ainda tem um público que gosta de moradias médias ou grandes, que vão desde os 50 até 400 metros quadrados. “Apartamentos menores são mais para investidores para aluguel ou para pessoas que querem ter uma segunda moradia aqui”, pontua.

Apesar do bom cenário futuro para o setor da construção civil, um dos principais gargalos é a falta de mão de obra qualificada. “Nós não conseguimos identificar o motivo de não estarmos conseguindo atrair essa mão de obra e [fazer com] que ela fique”, aponta, a presidente do Sinduscon, Célia Catussi. Ela acrescenta que o mercado imobiliária traz muitas possibilidades de atuação e que esses trabalhadores podem estar migrando para outros setores dentro da construção civil. Rodolfo Sugeta concorda que o maior desafio agora é a mão de obra qualificada.

PREFERÊNCIAS

Da casa ao apartamento e do pequeno ao grande, a verdade é que cada pessoa tem suas preferências e entende suas necessidades na hora de escolher um imóvel para chamar de seu. A nível nacional, o professor e especialista em mercado imobiliário, Sergio Cano, da FGV (Fundação Getúlio Vargas) do Rio de Janeiro, aponta um recente crescimento na procura pelos chamados estúdios.

Pesquisa nacional mostrou que os estúdios continuam em alta nas grandes e médias cidades
Pesquisa nacional mostrou que os estúdios continuam em alta nas grandes e médias cidades | Foto: iStock

Segundo ele, esse tipo de imóvel, que tem de 20 a 40 metros quadrados, já vem se destacando desde 2015 no mercado e tem como principal foco as capitais e os grandes centros urbanos, além de serem localizados próximos de transportes públicos e em regiões que tenham diversos serviços, como hospitais, faculdades e shoppings.

SERVIÇOS

“Como o preço do metro quadrado nesses grandes centros ficou caro, então quanto menor o imóvel, menor o valor final de compra. Mas esses imóveis vêm com uma gama de serviços para ser oferecida, como lavanderia, concierge, lazer, academia. Você tem muita coisa agregada nesses imóveis, fazendo com que ele fique muito funcional, principalmente para casais ou para jovens que estão na faculdade ou trabalhando”, ressalta, afirmando que o apartamento estúdio é algo que veio para ficar e que deve ser visto como “realidade” e não mais como “novidade”.

Condomínio com academia: praticidade a poucos metros da porta de casa
Condomínio com academia: praticidade a poucos metros da porta de casa | Foto: iStock

Outro movimento que veio forte com a pandemia é a busca por uma casa, seja ela em condomínio ou não, para famílias maiores que querem mais qualidade de vida. “Essa é uma outra tipologia de imóvel que está sendo bastante demandada já desde o período da pandemia e até hoje ainda é muito requisitada”, explica.

CASAS

Segundo o professor da FGV Rio de Janeiro, uma pesquisa de agosto deste ano mostrou que o imóvel mais procurado pelas famílias vem sendo as casas de rua e, em segundo lugar, as casas em condomínios, sendo que os apartamentos aparecem na terceira posição.

Em relação ao público, alguns estão comprando imóveis para sair do aluguel ou para ir para locais maiores e mais confortáveis para a família. Por outro lado, também existem os jovens que estão saindo da casa dos pais e de investidores, que compram para alugar ou já pensando na valorização futura do imóvel.

Apesar de ainda ser comum ver pessoas mais jovens optando pelo aluguel, muitas vezes motivada pela renda, em um cenário em que o valor do aluguel fica muito próximo ao valor da parcela de uma prestação, a tendência é que as pessoas migrem para a compra. “Entre eu ficar pagando um aluguel que eu não vou ter retorno nenhum desse valor que eu estou pagando e um financiamento, mesmo sendo a longo prazo, que se amanhã eu quiser vender eu posso e, se ele tiver valorização, ter algum retorno [financeiro], eu prefiro ir para o financiamento”, afirma Sergio Cano .

E pensar que a compra de um imóvel é para quem já está na casa dos 30 ou 40 anos não se encaixa mais na realidade de hoje. De acordo com Cano, existe um interesse na compra de imóveis por parte da geração mais nova, até os 26 anos, chamada de ‘geração Z’, mas é necessário um cenário de que as taxas de juros caiam e que o valor das parcelas seja equiparável ao valor do aluguel.

EM LONDRINA

Quando se analisa as tendências na realidade londrinense, elas se mostram um pouco diferentes do cenário nacional apontado pelo professor da FGV. Rodolfo Sugeta, SEO das construtoras Vanguard e Plaenge, explica que, na região de Londrina o padrão mais comum é o de pessoas que querem sair de uma moradia para outra um pouco maior. Além disso, outro ponto importante, além do tamanho, é a qualidade das áreas de lazer dos empreendimentos, com espaços verdes e de contemplação. “É uma boa arquitetura, com estética, paisagismo, iluminação, de forma harmônica e bem projetada, que com certeza faz diferença”, opina.

Famílias têm buscado opções de moradia com espaços verdes e de contemplação
Famílias têm buscado opções de moradia com espaços verdes e de contemplação | Foto: iStock

Áreas destinadas para os pais de crianças ou de pets também ganham pontos com as famílias na hora de escolher um imóvel, detalha Sugeta. Essas áreas são uma forma de proporcionar lazer à família sem descuidar da segurança.