Oswaldo Militão deixou Santo Anastácio (SP) na década de 50, e ‘‘caiu’’ na Redação da Folha por um acaso. Em 1956, Walmor Maccarini, que trabalhava na Folha, e era seu companheiro de quarto no Lar Hotel, teve uma forte gripe depois de um piquenique, e pediu que Militão fosse ao jornal escrever a notícia do jogo de futebol que tinha tido com os amigos. ‘‘Ele perguntou se eu sabia datilografar e se entendia de futebol. Respondi que sim, e fui’’. Era só para escrever a notícia e colocar na mesa de Abrahão Andery, chefe de Esportes.
Como Walmor piorou, Militão voltou ao jornal no segundo dia e passou a copiar preceitos de saúde, poesias, receitas culinárias, aniversários, conforme instrução de Walmor. A lista dos aniversariantes era enviada por Honorina de Andrade Chaves, que trabalhava na Prefeitura e depois virou a colunista Nina Chavs, de ‘‘O Globo’’, no Rio. De repente, Militão assustou-se com dois sujeitos fortes que chegaram à Redação e perguntaram quem ele era e o que fazia ali. O de bigode e cara de autoridade era João Rímoli, responsável pela Ronda pela Cidade e pelo artigo de fundo. O outro era Nilson, irmão de João e redator-chefe.
A glória para Militão aconteceu no terceiro dia de ‘‘substituição’’. É que os poemas de Castro Alves, Cruz e Souza, Olavo Bilac haviam acabado. Então, não teve dúvidas. Pegou um de sua autoria, que tinha feito para um concurso do Ginásio Estadual de Santo Anastácio e publicou, assinando seu nome no jornal pela primeira vez. Dia seguinte, Nilson quis saber quem era o abusado, e lhe disseram que era amigo do Walmor, ‘‘um tal de Militão’’. Nilson saiu esbravejando e falando alto que daquele jeito não aguentava.
Mas aquele foi o passaporte de Militão para entrar na Folha. Registrado no dia 15 de maio de 1956, ele começou a trabalhar como revisor. Estudava à noite. Aos poucos, passou a ajudar João Rímoli durante o dia, buscando notícias para a Ronda pela Cidade, além de fazer artigos esportivos. Em 1957, quando Nilson criou a coluna Sociedade, Oswaldo Militão foi designado para coletar informações.
‘‘Como estavam em moda Ibrahim Sued e Jacinto de Thormes, Nilson criou o Sady Safady, um árabe sangue azul’’, recorda. João Rímoli era o redator. Entre suas fontes, estavam Robertinho Kohl e Lisandro Araújo. Militão conta que o colunista encontrava empresários e políticos tanto no Country Club e no Grêmio, como no meretrício. Muitas vezes estes encontros aconteciam no mesmo dia. ‘‘A gente encontrava os pais de amigas nas boates da Vila Matos e éramos obrigados a fazer de conta que não víamos nada’’, afirma.
Em 1958, Militão, um excepcional datilógrafo, começou a trabalhar no Departamento de Esportes, ao lado do Abrahão Andery, o Turco Gordo, e de Arceno Atas, o Turco Magro. Com a saída dos dois no ano seguinte, Militão assumiu o departamento, cobrindo a Taça Osvaldo Cruz de Futebol em Assunção. Em 1961, Militão ingressou na Faculdade de Direito de Londrina, onde se formou, e assumiu também a coluna Sociedade.
O jornalista ficou fora da Folha um ano e meio, retornando em 1993 com a página ‘‘Militão Repórter’’, publicada às terças e sextas, no Caderno 2.Milton DóriaInspiraçãoMilitão: na falta de Castro Alves, poema próprioAlexandre Sanches