Imagem ilustrativa da imagem Flexibilidade e chance de boa remuneração atraem mais mulheres para corretagem
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Era uma vez uma jovem frágil, de voz infantil, que vivia com uma irmã especial. A mãe, idosa e doente, precisava de cuidados permanentes. Viviam em um apartamento muito pequeno e queriam mais espaço. Com pouco dinheiro, ela procurou uma imobiliária. Apenas uma corretora se interessou pelo caso, afinal a cliente lembrava mais uma criança nas ligações e a comissão era magra.

O orçamento baixo reduzia as opções. Foi então que ela, percorrendo o bairro, encontrou um barracão abandonado, num terreno grande, tomado pelo mato. Para convencer a fechar o negócio, a corretora argumentou: “Você precisa ter olhos de águia e enxergar o que ninguém vê. Se fechar o negócio, já tem muros altos, portão de correr, instalação elétrica reforçada e muito material de demolição para faturar ”.

Ainda desconfiada pela imagem melancólica de um imóvel comercial em ruínas como sua futura moradia, a jovem decidiu arriscar. “Foi um excelente negócio. Ela aproveitou muito bem o terreno e construiu uma edícula bem bacana e ficou com um espaço enorme para a família. A mãe faleceu, ela se casou, tem dois filhos e ainda mora lá”, conta Vilma Mendes, corretora de imóveis há 16 anos.

O talento para encontrar um lugar para o cliente viver seu sonho de vida está ganhando cada vez mais características femininas, com aquele lado acolhedor e humano que pode fazer a diferença para que a negociação chegue a um final feliz.

Faltam pesquisas recentes, mas o crescimento é constante e rápido, atestam as entidades representativas deste ofício, que até 1958 só poderia ser exercido legalmente por homens. Na última pesquisa nacional em 2013, realizada pelo Conselho Federal dos Corretores de Imóveis (Cofeci), o aumento do número de profissionais mulheres licenciadas foi de 144%.

Dinamismo

No Paraná, dos mais de 20 mil profissionais regularizados, quase 6 mil são mulheres. Na área de abrangência da delegacia de Londrina do conselho regional (Creci), que engloba 42 municípios, 26% dos que exercem a corretagem imobiliária são do sexo feminino (699 profissionais).

De acordo com as corretoras ouvidas pela Folha, a explicação para este afluxo cada vez maior de mulheres é a flexibilidade de horários e a possibilidade de uma boa remuneração, embora lembrem que a disponibilidade em tempo integral possa sacrificar domingos e feriados, por exemplo. “Cuido dos meus pais, já idosos, e preciso de horários livres em horário comercial para levá-los ao médico. Em outro tipo de emprego, não conseguiria”, exemplifica Vilma, que hoje faz parte do time da Cruciol Imobiliária e já acumula 15 anos de carreira.

Ledinalva Sitta: “Há muitas opções para quem escolhe a profissão"
Ledinalva Sitta: “Há muitas opções para quem escolhe a profissão" | Foto: Divulgação

“Há muitas opções para quem escolhe a profissão. É muito dinâmico. Você pode se dedicar à venda de residenciais, à venda de comerciais, às locações”, lembra Ledinalva Sitta, que exerce regularmente à corretagem desde o ano passado. Há três anos, para evitar o fechamento do escritório de administração de imóvel do pai, Arlindo, que as 86 anos queria descansar, Ledinalva começou a se familiarizar com a nova rotina, depois de muitos anos na área de alimentação. “Depois de um tempo, avaliei que havia encontrado um caminho profissional e fiz o curso técnico do CRECI”, conta, acrescentando que está se capacitando como avaliadora e perícia “O interessante é que quando eu era bem mais jovem, trabalhei em uma imobiliária, embora não fosse corretora. Desta vez, mais madura, percebi que poderia ser uma boa profissional e agora pretendo ficar muitos anos neste ramo”.

Adriana Cezar, gerente geral da Cruciol Imobiliária
Adriana Cezar, gerente geral da Cruciol Imobiliária | Foto: Divulgação

Adriana Cezar, gerente geral da Cruciol Imobiliária, tem 16 anos de empresa e por três anos exerceu a corretagem, primeiro vendendo terrenos de condomínios de lazer e depois passou ao mercado de locação. Ela acredita que o exercício diário da função faz o profissional naturalmente se aproximar de nichos, ou de regiões da cidade, ou de classe social, ou de tipo de imóvel, ou de locação ou venda. “É preciso entender e avaliar sua própria performance e a especialização vai ocorrer naturalmente”, ensina. “Eu, por exemplo, gostava de alugar barracão para empresas”, revela, explicando que a busca do cliente era sempre muito objetiva.

Conselho vê `invasão feminina´como fenômeno positivo

Para o delegado regional do CRECI/PR, em Londrina, Claudemar Ferreira da Silva, a “invasão” feminina no território da corretagem é vista pelo conselho como um fenômeno positivo. “O sucesso na negociação de um imóvel está, muitas vezes, em pequenos pontos: a divisão da planta, a qualidade dos acabamentos, o estilo da construção”, afirma,. “As mulheres, por terem um olho mais clínico para os detalhes, conseguem perceber com facilidade estas características. Assim, elas são capazes de valorizar os pontos positivos com mais ênfase”, comenta.

Ferreira da Silva também ressalta que as mesmas características que as tornam exímias observadoras, qualidade reconhecida pelos homens da corretagem, dotam as profissionais de uma capacidade estratégica no ramo. “Elas conseguem antecipar possíveis problemas que o cliente vai detectar no imóvel, o que ajuda nas soluções de prevenção”.

O CRECI/PR informou ainda que a participação das mulheres vem crescendo nas entidades relacionadas à categoria e nos sindicatos, além do que o fenômeno resultou também na intensificação dos trabalhos de responsabilidade social neste ambiente profissional.