Adriele Tarboni, enfermeira da Santa Casa: "O ambiente hospitalar ficou mais estressante, o trabalho triplicou, exigem muito mais de nós"
Adriele Tarboni, enfermeira da Santa Casa: "O ambiente hospitalar ficou mais estressante, o trabalho triplicou, exigem muito mais de nós" | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Quando terminou a faculdade de enfermagem, não esperava enfrentar uma pandemia tão ativamente. Às vésperas de completar um ano de trabalho direto na UTI Covid-19 do Hospital Irmandade Santa Casa de Londrina, a enfermeira Adriele Tarboni, 29, conta sobre exaustão e importância de apoio entre mulheres em momentos tão complexos como este.

"O ambiente hospitalar ficou mais estressante, o trabalho triplicou, exigem muito mais de nós, é algo que mudou totalmente, não esperava passar por isso", desabafa. Em uma equipe formada totalmente por mulheres, a enfermeira vê como a exaustão impacta individualmente cada uma, considerando que, culturalmente, as mulheres ainda cuidam da casa.

"A maioria das mulheres tem dupla jornada. No meu caso, além de trabalhar no hospital, ainda tenho a minha casa para cuidar, eu não tenho filhos ainda, meus planos foram adiados justamente pela pandemia", acrescenta.

SONHO ADIADO

"Sempre tive vontade de ser mãe. No início do ano passado, eu já tinha planos de que em 2020 eu iria engravidar, isso estava certo na minha cabeça. Com a pandemia, eu tive que adiar", afirma. Tarboni entende que essa foi a melhor decisão, mas não esconde a frustração.

Nem em 2020 nem em 2021, a maternidade foi novamente programada para 2022 com pouca esperança, porque "as coisas não estão melhorando."

Decepção que vê em outros rostos. "As mulheres sentem a pressão, porque algumas veem que não podem esperar muito tempo e acabam se cobrando. Isso afeta o psicológico delas e isso influi em outras áreas da vida também", afirma.

DESGASTE E APOIO

A rotina de quem atua diretamente com pacientes com Covid-19 é desgastante. "O paciente da Covid-19 é um paciente que exige de nós, diferente dos outros, ele exige atenção muito mais intensiva do que os outros e é algo que desgasta demais a gente", explica.

Entre a rotina exaustiva e desgaste emocional, a falta de afeto e segurança no outro. "As pessoas estão se tornando mais individualistas, falta ainda um pouco mais de apoio e de atenção, cuidado, união de forças até das próprias mulheres", conta.

Ela se coloca nesse meio ao perceber que um ano de pandemia e trabalho incessante, deixa passar que talvez outras mulheres estejam precisando de ajuda. "Dentro da UTI onde estou não tem homem, sou eu e mais quatro mulheres e falta apoio de nós mesmas. Algumas vezes, vejo isso em mim também”, confessa.