EDUCADOR AMBIENTAL - Do lixo ele tirou tudo...
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terça-feira, 09 de setembro de 2014
DER, na saída para Jataizinho, era o nome de uma localidade onde ficavam a sede do Departamento de Estradas de Rodagem e uma instituição bem menos nobre: o lixão a céu aberto que, 30 anos atrás, recebia todo o lixo de Ibiporã. Era lá que dona Júlia, a fim de reforçar o orçamento de casa, ia quase todo dia com os dois filhos mais novos de uma prole de nove para catar cobre, alumínio, papelão e, com alguma sorte, roupas e... comida.
De todas as lembranças dessa época, a que mais me marcou foi o sabor de maçã - conta um dos caçulas de dona Júlia.
Aos 15 anos de idade, depois de muito fuçar no lixão de Ibiporã, Miguel foi para a capital paulista, trabalhar na oficina mecânica de um dos irmãos mais velhos, na região do Belenzinho-Mooca. Pouco tempo depois, retornou. E retomou os estudos, interrompidos na 6ª série.
Fez um curso de técnico de auxiliar de enfermagem e trabalhou na área um ano, até ser atraído por um concurso do SAMAE, o Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto. No ano anterior, 2003, o SAMAE assumira também a gestão dos resíduos em Ibiporã, e abriu concurso para suprir as novas vagas.
Miguel passou no concurso. Começou na varrição; logo pintou uma vaga na coleta de lixo. À noite, passou a cursar Pedagogia numa faculdade particular. Do caminhão, pulou para o trator que coletava o lixo e também animais mortos das 15 comunidades rurais da cidade, como motorista. Com o diploma de nível superior, virou coordenador de reciclagem do órgão.
Há seis anos, Miguel Gardini ocupa o cargo de diretor de Limpeza Pública do SAMAE. Nesta função, participou ativamente do programa de coleta seletiva que, implantado em 2009, coleciona cinco prêmios incluindo um que leva o carimbo da ONU.
Nunca imaginei que iria tirar do lixo o sustento da minha família - declara Gardini, casado, dois filhos e uma sobrinha agregada.
Ibiporã, com seus 51 mil habitantes, certamente está longe de ser uma Suíça, mas, na questão dos resíduos, exibe números de causar inveja a quase todos os municípios brasileiros. Das 42 toneladas diárias, 10,5 são de materiais recicláveis, 7,5 são de rejeitos e 24 toneladas são de material orgânico, que é compostado para virar adubo.
A correta segregação na fonte fruto de educação ambiental levada a cabo com manuais, peças publicitárias e imãs de geladeira dá suporte a esses índices. Dados oficiais dão conta de que 100% da cidade são cobertos pela coleta seletiva e 95% da população participam dela. Novas empresas, segundo Gardini, adotam planos de gerenciamento de resíduos e as antigas, para renovar alvará, também precisam adotar o seu.
Gardini diz que a experiência acumulada durante todo o tempo em que lidou com lixo tem lhe dado a condição de ajudar outros municípios a implantar coleta seletiva e a aprimorar a destinação final dos resíduos ele também ajudou a criar e a legalizar associações de recicladores em várias cidades.
Fico feliz em saber que meu trabalho impacta de maneira positiva na vida das pessoas. Meu compromisso não é só com o cargo que ocupo, mas também com meus filhos. É um compromisso de vida.