Nas andanças para vender assinaturas - inclusive as vitalícias - conseguir anúncios e trazer notícias é que Milanez acabou conhecendo gente e começou a formar a percepção de que o papel do jornal não era o de defender interesses individuais mas sim o de se unir à coletividade para formar junto na luta pelos interesses comuns. Criou clientes para sempre.
As assinaturas vitalícias eram diferentes. Davam direito ao assinante de receber o jornal por toda a vida. Por 5 cruzeiros, uma quantia elevada para a época. Provando que já então o jornal tinha credibilidade, Milanez vendeu 300 assinaturas vitalícias em pouco tempo. Levantou o numerário necessário e deu entrada na rotativa. ‘‘Até hoje ainda há vitalícios recebendo o jornal’’.
Mas a rotativa, se era um avanço tecnológico, também trouxe um novo problema. Antes, quando faltava papel (o que era comum, até porque Londrina ficava distante dos centros fornecedores, a estrada era de terra, tudo era difícil) o jornal se socorria das gráficas que emprestavam ou vendiam resmas. Mas a rotativa precisava de bobinas que vinham de Curitiba (papel nacional) e de São Paulo (estrangeiro). A Folha de Londrina foi o segundo jornal do Paraná e contar com uma rotativa. Era uma primazia, mas também uma dificuldade.Arquivo FolhaPersonalidadeJoão Milanez cumprimenta Ney Braga na posse do ex-governador como ministro da Agricultura em 1979
João Milanez conta que tinha pesadelos. Sonhava que o jornal estava pronto para rodar e as bobinas não chegavam. Na verdade, conta, sempre que o sonho mostrava a falta de bobinas, na realidade elas acavam chegando. Muitas vezes era preciso mandar o jipe do jornal buscar bobinas, nos caminhões atolados.
Milanez lembra uma sexta-feira: recebeu a informação, do Aristides de Moraes, que cursava Direito em Curitiba e cuidava do transporte das bobinas da Capital, de que não havia condições de enviar o material para Londrina. Imediatamente ele embarcou para São Paulo, conseguiu que a T. Janer, empresa que vendia o papel, reservasse duas bobinas e as mandasse para o aeroporto. Acertou tudo com a empresa aérea.
Mas, na hora do embarque, um novo problema, logo detectado pela sua experiência de carpinteiro: uma bobina passou pela porta de carga do avião, mas a outra não. Disseram que só iria uma. Não aceitou. Pegou um alicate, tirou a cobertura (a casca grossa de papel de proteção) e a bobina passou. ‘‘Lógico, porque a circunferência diminuiu, coisa que aqueles tontos não seriam capazes de perceber...’’, recorda. Ele embarcou com as bobinas, chegou em Londrina e Folha gloriosamente circulou, como todos os dias. ‘‘Naquele tempo, dizia-se que a Folha era um milagre que se renovava todos os dias e eu penso que era verdade. Até hoje’’, compara o jornalista.
O advento da rotativa também implantou novos equipamentos, inclusive linotipos. O jornal trazia linotipistas de Minas, jornalistas de Santa Catarina, mecânicos de São Paulo. Milanez faz questão de lembrar de um deles, Laudelino Ferraz, considerado um dos melhores do Brasil. ‘‘Veio, ficou, teve um trabalho importante ao longo dos anos, foi valioso para o crescimento e o desenvolvimento do jornal’’, destaca.
Uma coisa leva à outra. Com a rotativa, também foi necessária a construção de instalações novas para o jornal. E próprias. João Milanez tinha adquirido um terreno, um verdadeiro quadrilátero entre a Av. Rio de Janeiro e a Rua Piauí (endereço atual). Ali acabou erguendo o barracão que abrigaria a nova linotipo. Ao lado, um local para a Redação e, paralelamente, o escritório. Tudo de madeira, como se construía naquele tempo. A Oficina, com as linotipos e a rotativa, além de muitos outros equipamentos, foi várias vezes palco de acidentes, inclusive incêndios. Era 1956.
Mas foi ali, conforme lembra Milanez, que realmente começou a nova etapa do jornal, que com equipamentos compatíveis com sua importância estava pronto para realizar o grande salto. E, conforme o Patrão rememora, persistia a idéia de manter o jornal no mesmo ritmo de crescimento de Londrina.
Para realizar esta grande mudança, João Milanez lançou outra grande promoção. Desta vez eram as assinaturas contratuais, diferentes - e também mais baratas - que as vitalícias. Quem fizesse aquele tipo de assinatura teria garantido o recebimento do jornal por 10 anos. ‘‘A Folha de São Paulo tinha lançado a idéia - lembra - e nós a adotamos’’. Mas faz questão de ressaltar que também desta vez a Folha foi fiel, entregando as assinaturas durante todo o período. Foram feitas mais de mil assinaturas e os recursos serviram ao objetivo de dotar a Folha de instalações adequadas e muito bem situadas.
Nesta etapa, a Folha, que acompanhava o progresso de Londrina, também foi agente dele. Lançou-se ali, primeiro, pelos Irmãos Veronesi, o Edifício Bosque. Na época, 1957, Londrina tinha apenas dois prédios: os edifícios Santo Antônio e Tóquio. O sucesso do Bosque abriu caminho para outros, inclusive o Centro Comercial, na Piauí, esquina com Souza Naves (então Minas Gerais).
Entre o Edifício Bosque e o Centro Comercial ficou um espaço. E foi aí que se lançou o Conjunto Folha de Londrina, de dois edifícios, completando a esquina. Lá se foi a rotativa da Folha para o subsolo, ficando a Redação em cima.
Milanez lembra, ainda, que quando do lançamento da fundação do Edifício Bosque, que teve a bênção do recém-chegado primeiro bispo diocesano de Londrina, d. Geraldo Fernandes, foi colocado numa urna especial um exemplar do dia da Folha.