A primeira escola de Pa-Kua foi fundada na Argentina, em 1976, pelo mestre Rogelio Giordano. Aprendiz de I Chang Ming, um chinês exilado na Coréia, ele percebeu que era possível transmitir aqueles conhecimentos milenares do outro lado do mundo. Para isso, ocidentalizou a prática, adotando o sistema de faixas e dividindo os conteúdos em módulos.
A chamada Liga Internacional de Pa-Kua hoje conta com alunos em todos os continentes. No Brasil, já são 28 escolas, espalhadas por oito estados. A sede nacional fica em Florianópolis, onde o próprio Giordano inaugurou um centro, no início da década de 1990 (o mestre argentino morreu no ano passado, em Buenos Aires).
Curitiba está no circuito há seis anos, com escolas no Centro, Batel, Água Verde e Juvevê. Esta última, inaugurada em junho, é comandada pela veterinária Priscila Sandrini, 26, em sociedade com o marido e o cunhado.
Ela conta que sempre quis aprender defesa pessoal, porém achava as artes marciais muito violentas. Conheceu o Pa-Kua em 2004, e logo se interessou pelo lado filosófico da prática. ''Passei a respeitar e ouvir as pessoas. Antes eu era muito cabeça dura'', diz, para em seguida advertir. ''Pa-Kua é autoconhecimento, e não auto-ajuda''.
Quando chegou à faixa cinza, exatamente na metade do processo de aprendizado, Priscila decidiu se tornar professora. Pagou R$ 2 mil e entrou no sistema acelerado, uma espécie de curso intensivo para quem quer trabalhar na área. Em duas semanas, virou mestre.
Essa ''aceleração'' é criticada por lutadores de outras artes marciais, que consideram o Pa-Kua uma modalidade meramente ''comercial''. Para se defender, os professores explicam que, de acordo com a tradição chinesa, ensinar é uma forma de aprender. ''Você retoma os conteúdos o tempo todo e se torna uma pessoa mais responsável'', afirma o mestre Daymont Castilho, de apenas 22 anos.
Priscila admite que faltavam mestres em Curitiba e por isso foi incentivada a mudar de lado. Mas garante que batalhou muito para isso. ''Treinei todos os dias, das 7 às 22 horas. E continuei tendo aulas pelos três meses seguintes.''
Resignado, Daymont compara a polêmica ao conceito do Yin Yang. ''Tudo tem um lado bom e outro ruim. Algumas pessoas fizeram o acelerado e não obtiveram o resultado esperado. As coisas são assim.'' (O.G.)