Há 100 anos, em julho de 1923, foi incorporado ao calendário mundial O Dia Internacional do Cooperativismo. A instituição da data foi feita pela ACI (Aliança Cooperativa Internacional) para marcar a importância de um sistema conhecido pela união de trabalhadores em busca de soluções coletivas. Neste sábado, 1º de julho, a data é comemorada pela 101ª vez. Ela é festejada no primeiro sábado do mês de julho

No Paraná, o cooperativismo se tornou quase um sinônimo da agropecuária, por causa do casamento perfeito que uniu os princípios das cooperativas com a produção do Estado, considerado um dos maiores celeiros do País.

A Coamo, maior cooperativa da América Latina, teve faturamento de R$ 28 bilhões no último ano e chegou ao Mato Grosso do Sul, onde tem duas unidades
A Coamo, maior cooperativa da América Latina, teve faturamento de R$ 28 bilhões no último ano e chegou ao Mato Grosso do Sul, onde tem duas unidades | Foto: Divulgação

Hoje, de acordo com a Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná), o cooperativismo representa 64% do PIB do agronegócio, sendo que o Estado é responsável por 13% de toda a produção de grãos no Brasil, ficando atrás apenas do Mato Grosso.

Em termos de faturamento, o cooperativismo paranaense saltou de R$ 45 bilhões, em 2013, para R$ 186 bilhões no ano passado. Na última década, o número de cooperados cresceu 217% e, atualmente, 3,1 milhões de pessoas estão associadas ao sistema, principalmente nas cooperativas de crédito e de agronegócio, que são maioria entre as 223 unidades no Estado.

“O crescimento nos últimos 10 anos é reflexo do planejamento, gestão e de uma visão mais estratégica do setor, que também tem trabalhado na capacitação dos trabalhadores envolvidos. O processo de agroindustrialização agregou mais valor ao produto das cooperativas que com tecnologia passaram a entregar produtos industrializados, com valor agregado, pronto para o consumo, ao invés de trabalhar apenas com commodities”, avaliou o analista de desenvolvimento técnico do Ocepar, Alexandre Amorim Monteiro.

Imagem ilustrativa da imagem Cooperativas impulsionam a economia do Brasil e do Paraná
| Foto: Gustavo Pereira Padial

Além da soja, carro-chefe dos grãos com produção de 65% nas mãos das cooperativas, o setor também avançou na proteína animal e já é responsável por 35% da produção paranaense, principalmente nas áreas de suínos, aves e peixes, influenciados pelo processo de industrialização e entrega de produtos em cortes, congelados e prontos para consumo.

“As cooperativas que trabalham com gado de corte estão voltadas para produção de carne bovina mais nobre, novilho precoce, para atender um nicho no mercado com mais valor no produto, diferenciado pela genética”, acrescentou.

CRÉDITO

Embora no Brasil, o sistema cooperativo tem muito a agradecer ao setor do agro pelo seu sucesso, nas últimas décadas um dos principais fatores no aumento de cooperados tem sido a expansão das cooperativas de créditos. Elas assumiram as operações bancárias e passaram a apresentar melhores taxas, linhas de crédito e atendimento mais próximo da comunidade.

‘Sobra’ volta ao bolso do produtor e injeta milhões na economia local

O gerente de Cooperativismo da Cocamar, João Sadao Mohr Alves Tadano, lembra que o contexto de pequenas propriedades levou os produtores paranaenses a adotarem o cooperativismo para, em grupo, ganhar mais poder aquisitivo e de negociação, acesso à linha de crédito e conhecimento técnico para produção em escala industrial.

A Cocamar nasceu em Maringá em 1963: mais poder aquisitivo e de negociação, linha de crédito e conhecimento técnico
A Cocamar nasceu em Maringá em 1963: mais poder aquisitivo e de negociação, linha de crédito e conhecimento técnico | Foto: Divulgação

“O empreendedorismo coletivo nasce dessa dor, da dificuldade comum, e da proatividade de um grupo para solucionar os problemas coletivos. No caso do agro, a cooperativa possibilita ao produtor o acesso aos equipamentos, informações, orientações e técnicas de manejo, o que aumenta a qualidade e valor agregado do produto. Com material de ponta, os pequenos produtores paranaenses competem no mercado europeu”, analisou.

O resultado é apurado anualmente e as “sobras” investidas em melhorias na produção e cerca de 30% dos recursos voltam para os bolsos dos cooperados. No último exercício, segundo Tadano, foram R$ 150 milhões distribuídos entre os associados da Cocamar, cooperativa que nasceu em Maringá, em 1963.

João Sadao Mohr Alves Tadano, gerente da Cocamar: “O empreendedorismo coletivo nasce dessa dor, da dificuldade comum, e da proatividade de um grupo para solucionar os problemas coletivos"
João Sadao Mohr Alves Tadano, gerente da Cocamar: “O empreendedorismo coletivo nasce dessa dor, da dificuldade comum, e da proatividade de um grupo para solucionar os problemas coletivos" | Foto: Divulgação

“Essa riqueza fica na região e gera um círculo virtuoso dentro dos municípios, com geração de empregos e impostos recolhidos. Se fosse uma multinacional, esse montante poderia estar fora do País. Em São Jorge do Ivaí, uma cidade de 5 mil habitantes, tivemos a distribuição de R$ 2,5 milhões em sobras entre os cooperados, o que impacta de maneira muito positiva a economia local”, comentou.

Ele informou que 61 cooperativas fazem parte da agropecuária e 54 são cooperativas de créditos, sendo que muitas delas nasceram com o objetivo de administrar os recursos e investir nas empresas e cooperativas agrícolas. “Outra dado que mostra a contribuição do setor para economia e a participação paranaense é o volume de 455 mil empregos gerados pelas cooperativas no País, sendo 140 mil postos de trabalho estão no Paraná”, acrescentou.

Capacitação de jovens

A Cooperativa Integrada colhe os frutos da última década de consolidação do modelo de cooperativismo, que se tornou protagonista na produção agropecuária no Paraná. Em 10 anos, o diretor-presidente, Jorge Hashimoto, revela que o faturamento saltou de R$ 1,7 bilhão para R$ 8 bilhões ao ano, sendo que o número de cooperados dobrou no período e chegou a 12.500 associados.

Jorge Hashimoto, diretor-presidente da Integrada, diz que em 10 anos o faturamento saltou de de R$ 1,7 bilhão para R$ 8 bilhões ao ano
Jorge Hashimoto, diretor-presidente da Integrada, diz que em 10 anos o faturamento saltou de de R$ 1,7 bilhão para R$ 8 bilhões ao ano | Foto: Divulgação

“O processo de industrialização foi muito forte no período e instalamos indústrias de milho em Andirá, de suco de laranja em Uraí e de ração em Londrina, onde também está localizada a sua sede. Além de expandir a nossa atuação no Norte e Noroeste do Paraná, também abrimos novas unidades no Sudoeste do Estado de São Paulo”, comentou Hashimoto, que ainda informou que a Integrada está em mais de 50 municípios com cerca de 2 mil colaboradores.

Ele destacou que a cooperativa tem trabalhado para inclusão e participação das famílias nos processos de produção com a capacitação de jovens para sucessão na Integrada com conhecimento de tecnologia e gestão. Além disso, os grupos femininos cresceram dentro da cooperativa e as mulheres já representam 20% dos associados.

“Nossa perspectiva é melhorar o sistema para os produtores com organização das atividades e comércio e continuar com os bons resultados obtidos com distribuição das sobras aos cooperados. A outra parte é investida na infraestrutura, como os R$ 150 milhões que foram aplicados, recentemente, no aumento dos armazéns e outras melhorias, pois essas estruturas são de todos os cooperados”, disse o diretor-presidente.

De acordo com ele, a Integrada teve R$ 226 milhões em sobras na última prestação de contas aos associados e R$ 76 milhões voltaram aos bolsos dos produtores cooperados no rateio anual.

`O cooperativismo é mais inclusivo e sustentável´

Diretor-presidente da Coamo, Airton Galinari, destaca que o sistema das cooperativas se mostrou mais interessante do que as multinacionais no agronegócio

O presidente-executivo da Coamo, Airton Galinari, lembra que nos últimos 10 anos ocorreu uma expansão da área plantada no Paraná com a utilização dos pastos pela agricultura, sendo que a pecuária passou para o sistema de confinamento ou semiconfinamento. Além disso, com mais investimentos na infraestrutura e na tecnologia, o produto do cooperado passou a ter mais valor agregado, qualidade e competitividade no mercado.

Airton Galinari, da Coamo: “A cooperativa permite uma comercialização mais robusta e a conquista de novos mercados, entre eles, o internacional"
Airton Galinari, da Coamo: “A cooperativa permite uma comercialização mais robusta e a conquista de novos mercados, entre eles, o internacional" | Foto: Divulgação

“A cooperativa permite uma comercialização mais robusta e a conquista de novos mercados, entre eles, o internacional. O modelo paranaense também está presente em outros estados, como no Mato Grosso do Sul, onde a Coamo possui unidades. O cooperativismo se mostrou mais interessante do que as multinacionais no agronegócio”, avaliou líder da entidade sediada em Campo Mourão, no centro-oeste do Paraná.

Galinari justifica que o produtor participa de todo processo quando adota o modelo do cooperativismo, com a absorção de tecnologia, entrada na cadeia de distribuição, negociação com novos mercados e rateio nos resultados com as “sobras”. “O cooperativismo é mais inclusivo e sustentável”, ressaltou o presidente-executivo.

Imagem ilustrativa da imagem Cooperativas impulsionam a economia do Brasil e do Paraná
| Foto: Gustavo Pereira Padial

No último ano, o faturamento da Coamo chegou a R$ 28 bilhões, sendo que as “sobras” ultrapassaram a casa de R$ 2 bilhões. Ela é a maior cooperativa da América Latina.

Galinari lembra que os números de cooperados e faturamento no Paraná, na última década, também possuem participação relevante das cooperativas de crédito, que atendem todos os públicos, mas possuem benefícios para produtores e têm no agro um dos seus maiores nichos no mercado.

Vista da Coamo, que teve faturamento de   R$ 28 bilhões no último ano
Vista da Coamo, que teve faturamento de R$ 28 bilhões no último ano | Foto: Divulgação

“A Coamo também possui uma cooperativa de crédito, a CrediCoamo, para atender a cooperativa de produção com financiamentos para os produtores e disponibiliza aos associados todos os tipos de operações bancárias”, acrescentou.

Cooperativa de crédito investe no relacionamento

“Não são clientes, pois os cooperados colocam o capital e passam a ser donos da cooperativa de crédito com voz ativa", afirma o diretor-administrativo do Sicoob Ouro Verde, Paulo Roberto Mondaini

Paulo Roberto Mondaini: "Nosso objetivo é conectar as pessoas e promover justiça financeira e prosperidade”
Paulo Roberto Mondaini: "Nosso objetivo é conectar as pessoas e promover justiça financeira e prosperidade” | Foto: Divulgação/Agência Guaporé

Um dos principais fatores no aumento de cooperados no Paraná, na última década, é a expansão das cooperativas de crédito que assumiram as operações bancárias e passaram a apresentar melhores taxas, linhas de crédito e atendimento mais próximo da comunidade.

“A cooperativa de crédito tem o objetivo de estar perto do cooperado para atender a necessidade dele. Enquanto os bancos, tradicionais instituições financeiras, investem na digitalização dos serviços, as cooperativas fazem o caminho inverso atendendo os clientes desassistidos, que passam a ser cooperados”, explicou o diretor-administrativo do Sicoob Ouro Verde, Paulo Roberto Mondaini.

A cooperativa, que nasceu dentro da ACIL (Associação Comercial e Industrial de Londrina), completou 20 anos em maio e atende tanto cooperados do comércio, como os associados produtores agrícolas e da pecuária, além do público de uma forma geral. “Não são clientes, pois os cooperados colocam o capital e passam a ser donos da cooperativa de crédito com voz ativa. O que era lucro bancário se tornam “sobras”, que retorna para a sociedade por meio de ações, eventos e promoções e principalmente no rateio com os cooperados”, comentou Mondaini.

Ele justifica que o grande aumento no volume de associados no Paraná ocorreu nos últimos 10 anos, justamente, pelo relacionamento estreito e pela expansão das cooperativas que assumiram locais antes ocupados pelas agências bancárias. “Nosso objetivo é conectar as pessoas e promover justiça financeira e prosperidade”, declarou.

Em Londrina, agência do Sicoob nasceu dentro da ACIL e completou, em maio,  20 anos
Em Londrina, agência do Sicoob nasceu dentro da ACIL e completou, em maio, 20 anos | Foto: Divulgação/Agência Guaporé

“Então estendemos a mão para o próximo, pois quanto menor a taxa oferecida, melhor para o nosso cooperado que pode investir de maneira sustentável na sua família ou na sua propriedade”, acrescentou.

Segundo dados da Confebras ( Confederação Brasileira das Cooperativas de Crédito), o cooperativismo financeiro brasileiro conta com 12,7 milhões de associados e gera 83.790 empregos diretos.