Construção civil ‘dribla’ adversidades em 2021 e mira 2022 com otimismo
A resiliência do setor foi fundamental para o bom desempenho do ano que logo termina e manter Londrina na vanguarda do mercado.
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sexta-feira, 03 de dezembro de 2021
A resiliência do setor foi fundamental para o bom desempenho do ano que logo termina e manter Londrina na vanguarda do mercado.
Lúcio Flávio Moura/ Especial para a Folha

O último boletim Focus - levantamento mais considerado para avaliar o humor do mercado - deixa claro que o momento econômico não é dos mais empolgantes. Previsão de inflação anual de dois dígitos (o que não ocorre desde 2015), crescimento econômico abaixo de 1% no biênio pandêmico e taxa de juros básicos em ascensão.
O Brasil tem desconfiança do seu desempenho econômico a curto prazo, mas ainda há setores que marcham com firmeza no sentido contrário. A fase positiva da construção civil de Londrina é fato concreto, garantem gestores de quatro das principais empresas do setor da região ouvidos pela reportagem da Folha.
“O mercado da construção apresentou um bom desempenho em 2021, incentivado pelos baixos níveis de estoque e uma forte tendência de valorização da casa como espaço de conforto, bem-estar e segurança”, explica Rodolfo Sugeta, gerente regional da Plaenge.

“Em 2021, tivemos um ano muito positivo para o mercado imobiliário. Houve uma retomada na procura por imóveis, tanto residenciais, como comerciais. Começamos o ano com um estoque relativo de imóveis prontos para morar, que hoje está praticamente zerado, o que garantiu segurança para retomar os lançamentos, acompanhando o aquecimento do mercado”, diz Luiza Pires, diretora da Quadra Construtora.

A resiliência da construção civil ainda está ligada ao incremento do financiamento imobiliário, reflexo da redução constante da Taxa Selic nos últimos cinco anos, que caiu de 14,25% (agosto de 2016) para 2% (janeiro de 2021). Contudo, o risco inflacionário fez com que o índice de referência do Banco Central para a cobrança de juros voltasse a subir com força. O último mês do ano começa com juros básicos de 7,75%, além de expectativa de ascensão em 2022. A elevação, porém, ainda não comprometeu o ambiente de negócios.
Dados da Sondagem Indústria da Construção, divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com apoio da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), revelam que outubro de 2021 registrou o maior patamar desde 2011 no nível de atividade do setor da construção (51,7 pontos), o melhor desempenho desde 2010 (52,9 pontos). A expectativa é que a concessão de crédito imobiliário alcance cerca de R$ 200 bilhões em 2021, um recorde histórico. Analistas acreditam que outros fatores além do patamar das taxas explicam a resiliência do setor, entre eles o aumento da competitividade com a entrada no mercado das chamadas fintechs e com as facilidades no parcelamento.

“O ano teve um início de muita aceleração nos nossos lançamentos. A empresa tinha estabelecido metas de vendas, que foram 100% cumpridas. Fizemos estudos e planejamento considerando o desenvolvimento de novas áreas em Londrina, como a Nova Prochet, que é uma região que a empresa tem investido fortemente”, avalia Roberta Alves Nunes Mansano, diretora-executiva da Vectra. “E a gente superou as expectativas de vendas do Wonder, nosso mais recente lançamento na cidade. Tínhamos a perspectiva de fechar o ano com perto de 40% das unidades comercializadas e a gente já bateu 70%”, argumenta.
“Foi um excelente ano para a construtora, em todas as praças nas quais atuamos. Além das taxas de juros favoráveis, percebemos que a pandemia despertou nos consumidores a vontade de morar melhor, o que alavancou nossos lançamentos”, lembra Rogério Venturini, diretor comercial de incorporação do Grupo A.Yoshii. Em Londrina, com a marca A Yoshii, a construtora lançou o Terrazza Di Rimini, no Bela Suíça, o Artsy e o Casa Palhano, ambos na Gleba. “Foram um sucesso de vendas”, garante. “Outro aspecto positivo deste momento do setor é a baixa inadimplência”, destaca Venturini.

Já o grupo Plaenge projeta encerrar 2021 com 26 lançamentos nas nove cidades nas quais atua no Brasil e também no Chile. Em Londrina, a marca Plaenge fez dois lançamentos de alto padrão em 2021, o Átrio e o Artesano, ambos na Gleba. O último simboliza este momento de euforia do mercado e é apresentado pela empresa como um produto revolucionário para a arquitetura da cidade. “O Artesano dá pistas concretas sobre os caminhos que a Plaenge vai adotar nos próximos anos”, avisa Sugeta, sustentando que o “altíssimo padrão” do edifício tem a assinatura de um renomado escritório de arquitetura de Dubai, o LW Design Group, especializado em empreendimentos de luxo.
A Quadra Construtora também tem um produto que simboliza a vitalidade do mercado londrinense na pós-pandemia. “Retomamos as vendas do Metropolitan Medcenter, próximo à Santa Casa, pré-lançado pouco antes da pandemia. Devido ao fato de ser um empreendimento comercial de luxo, voltado 100% para área médica, a construtora optou por suspender suas vendas no período mais turbulento da pandemia”, conta Luíza Pires. “Mesmo diante disso, a Quadra continuou com a construção do empreendimento, com capital próprio, e agora com a retomada das vendas, temos visto uma grande procura para o Metropolitan, tanto de médicos, quanto de investidores”. A empresa também comemora a venda dos dois terços das unidades do Lunaparque Residencial, próximo ao Shopping Com-Tour e da Avenida Tiradentes, lançado em janeiro.

Roberta Mansano, da Vectra, acredita que as construtoras locais têm mantido um olhar atento na busca por inovação, muito ligado às tendências do mercado nacional. “Londrina tem se mostrado sempre como um mercado de vanguarda. As empresas são sempre muito competitivas”, avalia a executiva. “Outra coisa interessante, reflexo da pandemia, foi a migração do comprador para o digital e a diminuição do tempo para a decisão da compra. Como parte da decisão é feita online, por meio de buscas por empreendimentos na internet, e depois presencialmente, nos decorados das construtoras, houve um encurtamento desse tempo para o cliente. Uma jornada que durava um ano e meio foi reduzida para seis meses, em média”.
Otimismo
O ano bom dá confiança para encarar o futuro. O mercado nacional e as construtoras locais projetam que o aquecimento do mercado vai atravessar o Réveillon e que todos os desejos dos gestores para 2022 serão atendidos no próximo ciclo.
“Em Londrina e outras cidades onde o grupo atua, os bons resultados do agronegócio impactam diretamente nossa atividade”, justifica Sugeta, da Plaenge, apostando no vigor das exportações e no preço das commodities. Segundo o executivo, em 2022, a Plaenge segue acreditando no crescimento sustentável, no aprimoramento tecnológico e na gestão financeira conservadora. “Nos últimos cinco anos, temos crescido uma média de 23% ao ano e o objetivo é manter esse ritmo”.
A Yoshii projeta 24 lançamentos para 2022, oito deles em Londrina (cinco da marca Yticon). “Embora a alta dos juros seja sim um motivo de preocupação, por outro lado a sensação que o imóvel é um investimento seguro permanece. A valorização compensa com alguma sobra este financiamento mais caro e o mercado é muito ciente disso. Temos muita confiança no mercado em geral e nossa percepção é que Londrina continuará sendo uma praça muito forte em 2022”, defende Venturini.
Roberta Mansano, da Vectra, faz algumas ponderações. “Temos recebido muitas visitas presenciais, ou seja, uma procura muito ativa. Uma intenção real, não só um sonho. No entanto, os aumentos nos índices como IPCA e INCC, taxa de juros e outros custos, podem fazer com que o cliente demore mais na tomada de decisão de compra”, analisa. “O consumidor está ciente de que pode haver, de um modo geral, aumento de preços, mas entende que o cenário ainda é favorável para investimento”.
A construtora vai lançar dois edifícios no primeiro semestre, com previsão Valor Geral de Vendas em torno de R$ 240 milhões. “Buscamos aprender com a pandemia e olhar para questões que a crise sanitária evidenciou, como maior valorização das áreas de lazer e dos layouts das plantas. Nossa proposta sempre foi muito voltada para a qualidade de vida dos clientes e isso faz a diferença no atual cenário”, frisa a executiva.
A Quadra, por sua vez, fara três lançamentos no ano que vem: um alto padrão no Centro Cívico, próximo ao Igapó, outro na Rua Paranaguá e um terceiro na região da Gleba Palhano. “Acreditamos que Londrina tem muito potencial e segurança para investimentos, devido a força do agronegócio da região, que segue em expansão com a alta dos preços das commodities, o que impulsiona a economia regional. Temos certeza que teremos anos muito positivos pela frente”, prevê Luiza Pires.

