Cirurgias a distância, gestão hospitalar mais eficiente, capacidade de prevenção turbinada, serviço público com menos filas e com menos desperdício. Quem esteve no Centro de Convenções do Aurora Shopping na última terça-feira (8) pôde compreender melhor como um dos setores mais importantes da sociedade deve caminhar nas próximas décadas.

Plateia pôde compreender melhor como um dos setores mais importantes 
da sociedade deve caminhar nas próximas décadas
Plateia pôde compreender melhor como um dos setores mais importantes da sociedade deve caminhar nas próximas décadas | Foto: Fotos: Roberto Custódio

A 17ª edição do EncontrosFolha debateu “A Tecnologia e Inteligência Artificial a Serviço da Saúde” e contou com palestras do secretário de Empreendedorismo e Inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia, José Gustavo Sampaio Gontijo; do gerente de Projeto, do Hospital Unimed Londrina, Lucas Gianolla; do radio-oncologista do Hospital do Câncer de Londrina, Diogo Dias do Prado; e do coordenador do Serviço de Cirurgia Robótica da Santa Casa de Londrina, Ricardo Brandina. João Claudio Santilli, diretor técnico do Laboratório Oswaldo Cruz de Londrina, foi o mediador do debate que fechou a programação.

“É fundamental o envolvimento de lideranças públicas e privadas, colocando na pauta do debate público as questões mais relevantes que são discutidas aqui. Isso nos permite avançar, acelerar o desenvolvimento da nossa região”, ressaltou José Nicolás Mejía, superintendente da Folha, na abertura do evento.

Fabrício Bianchi, gerente da Regional Norte do Paraná do Sebrae, parceiro da Folha na realização do encontro, lembrou da importância do setor para a economia londrinense e destacou que o município é a sede do único hub de inteligência artificial do País, unidade do Senai Paraná inaugurada em 2019. Ele ressaltou o trabalho da Salus – Saúde Londrina União Setorial, um arranjo de cooperação de entidades e empresas que atuam no setor, responsável pela busca de um padrão de excelência na área. “Eventos como este são importantes para atualizar os líderes e para a geração de novos negócios”, destacou.

Confira abaixo, os primeiros destaques do que foi discutido no Aurora Shopping.

SUS: gestores terão papel importante

Em entrevista para a Folha, o secretário de Empreendedorismo e Inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia, José Gustavo Sampaio Gontijo, falou sobre o impacto que o uso da inteligência artificial terá no sistema público de saúde.

Para ele, as novas tecnologias serão decisivas para combater antigos problemas do Sistema Único de Saúde.

“Acredito que o ganho mais imediato será a redução das filas de espera para os procedimentos mais simples porque fará a gestão hospitalar ser mais eficiente. O paciente vai ser enviado para a unidade correta e usar melhor os recursos disponíveis. A regulação do estoque de medicamentos também vai avançar porque haverá um entendimento mais claro de onde está faltando e onde está sobrando, além de uma logística mais eficiente na distribuição. Isso evita desperdício”, explica.

Contudo, Gontijo faz um alerta. Os gestores não podem ter medo de implementar a tecnologia no sistema. “Muitas vezes, o grande desafio é vencer esta falta de confiança para inovar”, esclarece. “Nosso trabalho tem se dedicado a evitar isso. Temos sempre que reiterar que a tecnologia é confiável, que o software não vai roubar os dados. Quando o gestor público tem consciência de como a transformação digital está ocorrendo, ele percebe que é um caminho sem volta”, explica o secretário, acrescentando um exemplo do passado para apostar no avanço desta mentalidade.

“Quando o carro surgiu, as pessoas estranhavam a falta do cavalo no veículo e ficavam com receio. A primeira legislação de trânsito na Inglaterra previa uma pessoa carregando uma bandeira vermelha do lado de fora do veículo para evitar as colisões. Logo isso foi descartado e o regramento passou a separar os pedestres dos veículos. Aí o receio foi acabando. Com a IA é a mesma coisa, ela vai se impor naturalmente em todos os ambientes”, garante.

Simulador foi atração do evento

Ricardo Brandina, coordenador do serviço de Cirurgia Robótica da Iscal (Irmandade da Santa Casa de Londrina), que trouxe para o hall do Centro de Eventos do Shopping Aurora um simulador que pôde ser usado por todos os presentes.

“O simulador faz parte do treinamento dos médicos para operarem com a plataforma. O robô não faz nada sozinho, é totalmente dependente do cirurgião que controla todos os quatro braços do equipamento, dotados com sensores que anulam qualquer tremor, por exemplo, oferecendo um serviço de alta precisão para a completa segurança do paciente”, comenta. “É uma tecnologia que veio para ficar e que está em constante evolução”, pontua.

A urologia sempre foi uma das pontas de lança da saúde em Londrina, com procedimentos pioneiros e profissionais de destaque. Com a cirurgia robótica, isso não foi diferente. “Contrariando quem dizia que Londrina não tinha capacidade para tal tecnologia, hoje contamos com um equipamento de ponta, capaz de realizar cirurgias de alta precisão”, afirma

Novo hospital de ponta

De acordo com Lucas Gianolla, gerente de projeto do Hospital Unimed Londrina, a tecnologia permeia todo o desenho do novo edifício que deve começar ser construído no ano que vem, próximo ao Jardim Botânico. Um grande empreendimento que inaugura também um novo modelo de negócio e com toda a atenção voltada a atender uma nova realidade social, com uma população de idosos que deve aumentar consideravelmente até 2030.

Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil, em 2016, tinha a quinta maior população idosa do mundo, e, em 2030, o número de idosos ultrapassará o total de crianças entre zero e 14 anos.

“Estamos diante de novos limites de longevidade. O aumento da população de idosos vai impactar o sistema de saúde público e privado”, comenta. O projeto do hospital é modular e integra mais de 30 diferentes campos de atuação, com competências que vão bem além das áreas ligadas à medicina. “Um projeto dessa complexidade é também multidisciplinar e precisamos disso para que ele não caia na obsolescência tecnológica que sabemos acontecer a cada três anos”, diz.

NOVAS TECNOLOGIAS

O secretário de Empreendedorismo e Inovação do Ministério da Ciência e Tecnologia, José Gustavo Sampaio Gontijo, explicou que o governo federal trabalha há três anos para criar uma “plataforma aberta” para inteligência artificial.

Gontijo explicou que o governo federal trabalha há três anos para criar uma “plataforma aberta” para inteligência artificial
Gontijo explicou que o governo federal trabalha há três anos para criar uma “plataforma aberta” para inteligência artificial | Foto: Roberto Custodio

“A primeira fase deste esforço foi construir uma estratégia. Primeiro o ministério contratou uma auditoria para entender como os outros países estavam lidando com isso e a partir daí geramos um debate com a sociedade para escolher eixos e prioridades e alavancar esta tecnologia no país”, explica o gestor.

“Desde então desenvolvemos vários projetos com o setor privado. Preparar a sociedade para a inteligência artificial exige um trabalho de convencimento das pessoas, empresas e instituições. É fundamental que elas acreditem na utilidade da ferramenta para o seu ambiente.”

Para Gontijo, a liderança do governo federal neste processo se caracteriza quando ele exerce o papel de avalista da transformação digital. “Precisamos ajudar a acabar com um medo muito comum na sociedade e no próprio governo, que a inteligência artificial é um devorador de empregos”, exemplifica.

“Sempre uso um exemplo simples, muito fácil de entender: a motosserra não acabou com a função do lenhador. Assim como na área de saúde, a inteligência artificial vai ser uma ferramenta muito importante, mas quem vai continuar fazendo o diagnóstico é o médico.”

Uma vez convencida dos inegáveis ganhos do uso desta tecnologia, instituições e mercado vão entender melhor o principal desafio do momento quando o assunto é inteligência artificial, lembra Gontijo.

“A preparação dos profissionais para utilizar esta ferramenta é prioridade neste momento. As ferramentas já fazem parte da vida de muitos setores e tanto os servidores como os trabalhadores da iniciativa privada vão ter que operá-las. É necessário investir em capacitação. Nosso papel é coordenar iniciativas em várias frentes para termos um resultado mais rápido e errar menos também neste quesito.”

Para estes e outros desafios, Brasília lidera um investimento anual de R$ 1,1 bilhão, com fontes variadas de recursos, boa parte com parcerias com a iniciativa privada. Um dos maiores indutores dessa injeção financeira é o Fundo Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico. “Creio que este é o modelo para administração pública: os investimentos públicos devem ser um atrativo, uma forma de diminuir os riscos do setor privado, que acaba financiando os bons projetos”.

E por que, afinal, o contribuinte deveria ficar satisfeito com esses investimentos? Gontijo lembra dos trâmites dos processos em vários órgãos administrativos. “Por exemplo, um processo administrativo na Previdência Social pode demorar anos até que seja analisado. Com inteligência artificial esse tempo pode ser consideravelmente reduzido”, lembra o gestor. “Outro exemplo foi na pandemia. A IA ajudou em muitos diagnósticos a partir dos raios-x dos pulmões. Com base em milhares de exames, foi criado um algoritmo capaz de identificar pulmões afetados pela Covid.”

Os órgãos de controle também têm se beneficiado com a nova tecnologia. O ganho ocorre tanto em relação à velocidade de análise das contas públicas como à identificação mais precisa de onde ocorrem as fraudes. Expedientes comuns de organizações criminosas que agem em prefeituras, governos de Estado e ministérios não passam mais despercebidos pelos algoritmos, lembra o gestor.

Outro exemplo é a aplicação da IA em barragens. Com a colocação de milhares de sensores, um software pode acusar que a movimentação da estrutura está fora do normal quando ela ainda está na casa dos milímetros. Esta antecipação evitaria, por exemplo, tragédias como ocorreu em Mariana (MG), desastre ambiental ocorrido sete anos atrás que causou centenas de mortes e bilhões de reais de prejuízo. “As ferramentas estão aí e a criatividade do implementador da solução é que é o pulo do gato. Oferecemos os recursos, apontamos as áreas prioritárias e esperamos que a sociedade cumpra seu papel de desenvolver ideias inovadoras que melhorem a vida das pessoas”.

CIDADE ALINHADA

Confira depoimento à reportagem do diretor técnico do Laboratório Oswaldo Cruz em Londrina, João Claudio Santilli, mediador do painel que encerrou a programação da 17ª do Encontros Folha.

“Londrina é um centro de referência regional, por conta dos serviços de saúde aqui instalados. Em algumas situações, é referência nacional também por conta de profissionais especializados e reconhecidos, que aqui prestam seus serviços.

“Londrina é um centro de referência regional, por conta dos serviços de saúde aqui instalados", diz Santilli
“Londrina é um centro de referência regional, por conta dos serviços de saúde aqui instalados", diz Santilli | Foto: Roberto Custodio

Sem dúvida, nossa cidade está alinhada no desenvolvimento e aplicação destas novas tecnologias, entre elas a IA.

O Robô Laura, que é uma tecnologia que utiliza os dados de pacientes internados para predizer o risco cada um deles entrar em sepse (infecção generalizada) , proporcionando ações antecipadas, minimizando este risco e salvando vidas. Um hospital filantrópico da cidade já instalou este recurso em sua estrutura .

Institutos de pesquisa em saúde de e instituições privadas estão trabalhando em parcerias com empresas de abrangência nacional no desenvolvimento e validação de processos e metodologias de diagnóstico.

Ainda temos dois principais gargalos principais: os custos operacionais e a acessibilidade aos serviços médicos.

Muitas vezes o custo de aquisição, infraestrutura, implementação e manutenção são elevados. Tanto para a utilização quanto para o desenvolvimento desta tecnologia, precisamos de profissionais qualificados de diversas áreas , seja da área da saúde, como de TIC , de gestão, entre outras.

Entretanto apesar da barreira inicial de recursos para o investimento não ser pequena, após sua transposição, a capacidade de produção de estruturas com utilização de IA e outras tecnologias equivalentes aumenta significativamente , barateando os custos operacionais e permitindo a acessibilidade ao serviço de saúde a uma parcela cada vez maior da população.

O que devemos ter em mente, que todas estas tecnologias, já implementadas em outras áreas do conhecimento precisam ser modeladas para a área da saúde, que é muito complexa e altamente regulada , por resultar em ações que interferem diretamente na vida das pessoas.

Cabe reforçar que a área de TIC de Londrina é altamente qualificada e competente, contamos com gigantes do mercado multinacional, e especificamente em IA, o único HUB nacional do SENAI em IA está aqui em Londrina, justamente por este ambiente propício. Isto permite o desenvolvimento local de recursos que aplicam esta tecnologia.

De qualquer forma, os investimentos públicos e privados devem ser acelerados: locais e instituições que foram pioneiras na utilização destas tecnologias terão cada vez mais um desempenho de excelência."

CIRURGIA ROBÓTICA

Diminuir os riscos de infecção, o tempo de internamento, a dor do pós-operatório, danos e risco de sequelas e ainda facilitar a recuperação depois do procedimento cirúrgico. Esses seriam apenas alguns dos benefícios reais aos pacientes através do uso da robótica nas salas de cirurgia. Durante a 17ª edição do EncontrosFolha, na última quarta-feira (9), no Centro de Eventos do Shopping Aurora. Ricardo Brandina, um dos painelistas, é coordenador do serviço de Cirurgia Robótica da Iscal (Irmandade da Santa Casa de Londrina) e trouxe para a plenária, as experiências da aplicação da nova tecnologia nas salas de cirurgia e um simulador, que ficou à disposição de quem quisesse experimentar a sensação de uma cirurgia robótica.

Ricardo Brandina, um dos painelistas, é coordenador do serviço de Cirurgia Robótica da Iscal
Ricardo Brandina, um dos painelistas, é coordenador do serviço de Cirurgia Robótica da Iscal | Foto: Roberto Custodio

As plataformas de cirurgia robótica não são tão novas assim. Nos Estados Unidos, a modalidade vem sendo utilizada desde os anos 90; no Brasil, chegou em 2008 e vem se atualizando constantemente. Londrina chegou a contar com uma plataforma robótica no começo dessa década. Brandina mostrou o potencial do modelo Da Vinci X, recentemente adquirido pela Santa Casa.

“As cirurgias devem começar a acontecer ainda esse mês. Essa plataforma robótica serve para qualquer especialidade que trabalha em cavidade, sendo mais utilizada em urologia, cirurgia geral e ginecologia”, diz. No Brasil, as plataformas vem sendo mais utilizadas na urologia, especialmente para tratar o câncer de próstata. “Nos Estados Unidos, essa tecnologia robótica é aplicada a 90% dos pacientes com câncer de próstata operáveis”, revela. A tecnologia ainda vem sendo aplicada nos tratamentos de casos de hiperplasia prostática benigna (HPB) e na prostatite.

“As vantagens são enormes. O robô traz uma precisão muito maior e a cirurgia se torna minimamente invasiva, eliminando a necessidade de grandes incisões. São feitos pequenos 'furinhos' no abdômen do paciente que é operado através deles. O robô faz todo o trabalho, mas ele não opera sozinho. É comandado por um cirurgião que recebe treinamento”, explica o especialista.

Aproveitando o tema do Novembro Azul, o mês mundial de conscientização sobre a saúde do homem, Brandina conta que o equipamento remove o tumor e promove a cura do paciente com o mesmo sucesso de qualquer outra técnica. “A grande vantagem, especialmente no caso do câncer de próstata, é que devido à alta precisão dos braços do robô, a visão tridimensional e imagem ampliada em HD é possível preservar os pequenos nervos responsáveis pela ereção. As pinças, por exemplo, possuem sete graus de movimento, algo já superior à capacidade da mão humana. Além disso, é uma cirurgia onde o paciente tem menos risco de desenvolver incontinência urinária”, revela.

O uso das plataformas robóticas, continua, ainda traz mais visibilidade para o hospital onde está instalada, além de permitir a integração de novos profissionais das áreas de tecnologia ao sistema.

A única desvantagem, na opinião do médico, é o alto custo da plataforma robótica, ainda proibitivo para o sistema público de saúde mesmo com os benefícios de reduzir o tempo de internação, efeitos colaterais, algo que ajudaria no preço global do tratamento. “Ele acabaria reduzindo o custo de uma maneira indireta, mas realmente ainda é muito caro para a rede pública. Uma boa coisa é que outras empresas estão entrando no mercado e a concorrência pode fazer com que os preços caiam para que a cirurgia robótica seja acessível a um número maior de pacientes”, diz.

Brandina ainda lembra que Londrina é pioneira em cirurgia robótica quando abrigou o primeiro hospital particular do Sul do país a contar com um equipamento. “Agora, com o apoio da Santa Casa, esperamos transformar a cidade em um centro de referência para o Sul do Brasil. Já temos uma equipe muito bem treinada e potencial para formar médicos já treinados para essa tecnologia”, analisa.

Hoje, o Brasil conta com 91 plataformas robóticas. “Depende de nós, entusiastas da tecnologia ampliar o conhecimento e promover a motivação e quebra de paradigmas. Ainda existem médicos resistentes, mas esse é um caminho sem volta. Ao contrário do que muitos pensam, a curva de aprendizado é curta, basta motivação para aprender”, diz. “Quando o médico começar a operar com a plataforma robótica já fará isso com total segurança e esse é nosso objetivo maior: a segurança do paciente”, finaliza.

AVANÇO

Convidado especial do EncontrosFolha, o HCL (Hospital do Câncer de Londrina) mostrou no evento a evolução do tratamento de radioterapia no tratamento oncológico ao longo dos anos. O radio-oncologista Diogo Dias do Prado explicou que com o aprimoramento das máquinas utilizadas no procedimento, hoje é possível distribuir com mais precisão as doses de radiação, reduzir a descarga de radiação em órgãos de risco e o paciente pode tratar o tumor sem o risco de afetar outros órgãos.

Diogo do Prado, do HCL, mostrou no evento a evolução do tratamento de radioterapia no tratamento oncológico ao longo dos anos
Diogo do Prado, do HCL, mostrou no evento a evolução do tratamento de radioterapia no tratamento oncológico ao longo dos anos | Foto: Roberto Custodio

O primeiro e grande salto que a tecnologia trouxe para a área foi a introdução dos exames de imagem, garantindo maior precisão na região a ser tratada. Agora, os estudos apontam para a possibilidade de redução no número de frações (sessões).

Geralmente, um quadro de tumor de próstata pode ter a indicação de 38 sessões de radioterapia, mas com maior exatidão no posicionamento da lesão e a possibilidade de testar doses mais altas, considerando o perfil do paciente, essas aplicações podem ser reduzidas para 20 ou até cinco sessões.

“Hoje, há uma maior efetividade sobre a lesão, o que reduz a chance de efeito tóxico, enxugando o número de frações, o que reduz o tempo de tratamento”, disse Prado.

O avanço tecnológico e as pesquisas clínicas realizadas no HCL estão colocando o hospital londrinense no mesmo patamar das melhores instituições de tratamento de câncer do mundo. Uma pesquisa realizada no ano passado com mais de 40 mil especialistas de 20 países posicionou o hospital no ranking das 250 melhores instituições especializadas em tratamento oncológico. No Brasil, são apenas sete instituições, sendo seis do estado de São Paulo.

HOSPITAL TECNOLÓGICO E SUSTENTÁVEL

A tecnologia na área da saúde tem alguns desafios que vão bem além da excelência técnica. Como lidar com o envelhecimento da população e as quedas de fertilidade? Como imaginar um grande hospital, levando em consideração todo o potencial da inovação, mas sem deixar de lado conceitos de sustentabilidade e atendimento humanizado?

A Unimed Londrina se propôs a tentar responder a essas e outras questões com um arrojado projeto para a cidade, um grande empreendimento desenhado a partir de um modelo de cuidado capaz de quebrar os paradigmas de quem imagina um ambiente hospitalar.

“Quando falamos de robô, não necessariamente estamos falando do equipamento, 
mas de toda uma inteligência por trás”, diz Gianolla
“Quando falamos de robô, não necessariamente estamos falando do equipamento, mas de toda uma inteligência por trás”, diz Gianolla | Foto: Roberto Custodio

Lucas Gianolla, um dos painelistas da 17ª edição do EncontrosFolha, é o gerente de Projeto do Hospital Unimed Londrina e afirma que a tecnologia está cada vez mais diretamente envolvida em cada passo das etapas de instalação de um serviço de saúde.

“É uma discussão crescente em todo o mundo, tratada de forma muito séria aqui no Brasil desde o início dos anos 2000, mas é hoje que enxergamos o tamanho da complexidade do tema”, comenta.

Cápsulas endoscópicas, exames minimamente invasivos, aplicativos de inteligência artificial capazes de fazer uma avaliação da deterioração fisiológica, assistentes virtuais para regular o ambiente, pinças cirúrgicas com chips e fios de sutura tecnológicos, prontuários eletrônicos.

Essas são apenas algumas das soluções tecnológicas embarcadas no projeto da Cooperativa que ainda pretende ser completamente integrado ao meio-ambiente, com outras soluções de sustentabilidade e eficiência energética. “É um grande desafio. Estamos nos preparando para uma nova realidade sustentável”, diz.

O projeto do novo Hospital, continua Gianolla, envolve atualmente mais de 30 empresas, na grande maioria que utilizam tecnologia de ponta nos seus processos. Um prédio altamente sustentável, dentro dos padrões de qualidade internacional vinculados à assistência.

“Nasce com uma vocação de entregar qualidade nos diversos ambientes que impactam diretamente a sociedade, ou seja, na saúde, tecnologia e meio-ambiente”, diz. O ambiente de inovação ainda permitiu uma multidisciplinariedade no setor da saúde e isso, fica evidente na execução do projeto do novo hospital, com diversas figuras profissionais envolvidas.

“Ultrapassou a área da medicina. Hoje, verificamos o envolvimento grande de especialistas em inteligência artificial, por exemplo. Sabemos que os critérios de obsolescência tecnológica na área de saúde são de três anos. Ou seja, sabemos que passado esse período outras exigências e propostas de tecnologia surgem para serem implementadas. A construção hoje de um prédio hospitalar não vislumbra simplesmente o presente. Nos desafia a fazer projeções futuras para agregar todas essas tecnologias que estão a caminho e que serão desenvolvidas ainda. É por isso que existe essa necessidade de uma pluralidade de disciplinas, não só das áreas médicas, para que possamos conseguir um edifício sustentável a longo prazo”, explica.

Uma proposta altamente tecnológica para um setor bastante tradicionalista, quando o assunto é excelência de atendimento médico-hospitalar, implica em uma verdadeira quebra de paradigma, um grande trabalho de mudança de mentalidade.

“Falamos muito na desmistificação. Quando falamos de um robô, não necessariamente estamos falando do equipamento, mas de toda uma inteligência por trás, feita de algoritmos que vêm nos favorecer no cruzamento de informações estruturadas para que possamos ter uma melhor conduta na área de saúde. Essa quebra de paradigma é importante. Basta observar a evolução que ocorreu nos últimos dez anos, por exemplo. Conseguimos entender que já andamos com os algoritmos dentro do bolso. Um smartphone hoje é capaz de fazer todo o gerenciamento de etapa de processo em um ambiente hospitalar, como é que vai ser feito na nossa Unimed com um caráter de apoio, não necessariamente significa que vai substituir. Vem agregar à humanização de forma direta, de acolhimento e que isso possa ultrapassar as expectativas do cliente, tirando ele daquele ambiente gelado e venha para outro, onde se sinta mais confortável, que lembra mais os conceitos de conforto da hotelaria do que os conceitos de ambiente curativo tradicionais”, afirma Gianolla. “Todas essas discussões são disciplinas e todas elas envolvem a tecnologia, de forma direta ou indireta”, conclui.

Qual a importância da tecnologia para o desenvolvimento da área da saúde?

Fahd Haddad, superintendente da Santa Casa de Londrina
Fahd Haddad, superintendente da Santa Casa de Londrina | Foto: Roberto Custodio

A tecnologia hoje faz parte da nossa vida diária e não tem mais como se dissociar. Na área de saúde, a tecnologia veio para facilitar o trabalho dos profissionais e dar mais benefício para as pessoas e isso está levando a uma maior longevidade. A tecnologia está cada vez mais rápida e a gente tem que acompanhar. Esse encontro é uma atualização tanto para os profissionais de saúde quanto para os leigos que não atuam diretamente, mas para ter conhecimento do que há à disposição.

Fahd Haddad – superintendente da Santa Casa de Londrina

Francisco Ontivero, 
presidente executivo do Hospital do Câncer de Londrina
Francisco Ontivero, presidente executivo do Hospital do Câncer de Londrina | Foto: Roberto Custodio

Temos uma das melhores radioterapias do Brasil, os equipamentos mais modernos. Londrina é um polo, o Hospital do Câncer atende 220 municípios do Paraná e de outros estados e essa discussão é muito importante. Mais de 90% do que atendemos é do SUS, são os que mais necessitam. Nós entregamos curados mais de 90% dos que entram no hospital hoje, graças à tecnologia e à equipe de médicos.

Francisco Ontivero - presidente executivo do Hospital do Câncer de Londrina

Ricardo Häussler – superintendente de mercado da Unimed Londrina
Ricardo Häussler – superintendente de mercado da Unimed Londrina | Foto: Roberto Custodio

Hoje, com a tecnologia de reconhecimento facial, o cliente entra no hospital e não precisa todo aquele histórico de cadastro, facilita muito o processo de atendimento. Às vezes, a gente pensa muito na questão da alta tecnologia, você ter um robô dentro da estrutura hospitalar, mas você tem detalhes pequenos que dependem de tecnologia também e que facilitam muito a vida, dão mais conforto e cuidado para as pessoas.

Ricardo Häussler – superintendente de mercado da Unimed Londrina

Luís Gustavo Toledo – urologista da Urolit
Luís Gustavo Toledo – urologista da Urolit | Foto: Roberto Custodio

Essa discussão é fundamental. Nós ficamos um pouco distantes da realidade nacional, mas esse evento traz um colega de fora para explicar para a gente como anda a questão da tecnologia na saúde, principalmente em relação aos serviços públicos, e podermos aplicar no nosso dia a dia.

Luís Gustavo Toledo – urologista da Urolit