Bratislava viveu apogeu entre 45 e 55
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sexta-feira, 10 de outubro de 1997
Lucilia Okamura Londrina
Josoé de CarvalhoA professora Ana estranhou o silêncio, mas tem saudades da colônia Em 1932, na esperança de deixarem de ser empregados em fazendas paulistas e se tornar proprietários, alguns imigrantes tcheco-eslovacos vieram para o Norte do Paraná. Fixaram-se ao sul de Nova Dantzig, fundando a Colônia Bratislava, uma homenagem à Capital da Eslováquia.
A colônia teve seu auge entre 1945 e 1955. Tinha 250 alqueires, e reunia 40 famílias de eslovacos, 13 de portugueses, 11 de italianos, 6 de alemães, 4 de húngaros, 2 de espanhóis e 6 de brasileiros.
O historiador José Júlio de Azevedo, de Cambé, conta que os primeiros eslovacos a chegarem na região foram José Hescko e Stefan Hescko, em julho de 1932. Eram colonos vindos da região de Caiuá (próximo a Ourinhos-SP). Cada um comprou um lote através da CTNP. Em outubro do mesmo ano vieram as famílias de João Hochela, José Penhak, Jorge Philipo e Stefan Mondeck.
José Hescko visitava as famílias do interior paulista convidando conterrâneos a virem para Bratislava. Ele falava do sonho de viverem juntos.
Na colônia, em 1 alqueire doado pela Companhia, a comunidade construiu uma escola (inaugurada em setembro de 1936) e uma capela (na mesma época, em homenagem a Nossa Senhora de Lourdes). Depois foi construída a Capela de São João Batista, inaugurada em 1953, e um campo de futebol.
RecordaçõesQuem se lembra com saudades da época é a professora aposentada Ana Sifchack Mazzei, 68 anos. Ela é filha do marceneiro João Sifchack, que desenhou a capela de São João. Morando hoje em Cambé, Ana conta que lecionou e residiu na colônia durante 30 anos. Foi lá que ela se casou com Luiz Mazzei, descendente de italianos, e teve três filhos. Recém-formada em Magistério em São Paulo, ela tinha 17 anos quando se mudou para a colônia, onde já residiam seus pais. No começo estranhei o silêncio na colônia porque São Paulo, já naquela época era barulhenta, relata.
Ana lembra que quando chegou a Bratislava, existiam duas sedes: a do lado de baixo, onde se concentravam os eslovacos, e a de cima, com outros imigrantes. Os eslovacos se mantinham meio isolados, principalmente por causa da língua e dos costumes, revela.
Segundo a professora, a construção da segunda capela uniu as duas partes. Muito religiosa, Ana diz que uma das lembranças mais fortes da colônia era a realização das Missões - semana em que aconteciam encontros para jovens e casais, além de missas, com a presença do padre americano Eugenio Sulivan. A igreja ficava repleta de gente, observa.
Da época do auge de Bratislava, Ana se recorda ainda das vendas, da sorveteria, das máquinas de beneficiamento de arroz e café, e também do time de futebol, o Bratislava Futebol Clube. O time chegou a ganhar 42 taças em campeonatos diversos, relata. Havia também muitas festas e casamentos. As festas na igreja eram bastante concorridas.
Sobre a comida típica dos eslovacos, a professora diz que nas festas não podia faltar o charutinho, feito com folhas de repolho aferventadas recheadas com arroz e carne de porco. Nas casas dos imigrantes eslovacos, a alimentação tinha como base a batata. Um exemplo é o haluski, nhoque feito com batata crua ralada, creme de leite e ricota. Famosa também era a sopa de champignon.
DecadênciaO declínio da colônia começou na década de 60 e se acentuou com a crise na cafeicultura - agravada pela geada negra de 1975, que forçou a erradicação dos cafezais. Muitas famílias também resolveram trocar Bratislava pelo Mato Grosso, onde compraram áreas maiores com o dinheiro apurado - partindo de novo para uma nova empreitada colonizadora.
Hoje, o local está praticamente abandonado e restam apenas duas famílias originais. Uma delas é dos agricultores Zilda e Eduardo Schulz. Meu marido costuma dizer que só sai daqui em um caixão, afirma Zilda. O casal vive em um sítio de 11 alqueires, acompanhado da neta Valéria, 16 anos. Os seis filhos moram em outros locais.
Uma placa na entrada da PR-445 (acesso a Bratislava), uma das capelas, algumas casas velhas de madeira e o campo de futebol são os poucos sinais que sobraram de Bratislava. Os sítios foram divididos e transformadas em chácaras.