Josoé de CarvalhoA professora Ana estranhou o silêncio, mas tem saudades da colônia Em 1932, na esperança de deixarem de ser empregados em fazendas paulistas e se tornar proprietários, alguns imigrantes tcheco-eslovacos vieram para o Norte do Paraná. Fixaram-se ao sul de Nova Dantzig, fundando a Colônia Bratislava, uma homenagem à Capital da Eslováquia.
A colônia teve seu auge entre 1945 e 1955. Tinha 250 alqueires, e reunia 40 famílias de eslovacos, 13 de portugueses, 11 de italianos, 6 de alemães, 4 de húngaros, 2 de espanhóis e 6 de brasileiros.
O historiador José Júlio de Azevedo, de Cambé, conta que os primeiros eslovacos a chegarem na região foram José Hescko e Stefan Hescko, em julho de 1932. Eram colonos vindos da região de Caiuá (próximo a Ourinhos-SP). Cada um comprou um lote através da CTNP. Em outubro do mesmo ano vieram as famílias de João Hochela, José Penhak, Jorge Philipo e Stefan Mondeck.
José Hescko visitava as famílias do interior paulista convidando conterrâneos a virem para Bratislava. Ele falava do sonho de viverem juntos.
Na colônia, em 1 alqueire doado pela Companhia, a comunidade construiu uma escola (inaugurada em setembro de 1936) e uma capela (na mesma época, em homenagem a Nossa Senhora de Lourdes). Depois foi construída a Capela de São João Batista, inaugurada em 1953, e um campo de futebol.
RecordaçõesQuem se lembra com saudades da época é a professora aposentada Ana Sifchack Mazzei, 68 anos. Ela é filha do marceneiro João Sifchack, que desenhou a capela de São João. Morando hoje em Cambé, Ana conta que lecionou e residiu na colônia durante 30 anos. Foi lá que ela se casou com Luiz Mazzei, descendente de italianos, e teve três filhos. Recém-formada em Magistério em São Paulo, ela tinha 17 anos quando se mudou para a colônia, onde já residiam seus pais. ‘‘No começo estranhei o silêncio na colônia porque São Paulo, já naquela época era barulhenta’’, relata.
Ana lembra que quando chegou a Bratislava, existiam duas sedes: a do lado de baixo, onde se concentravam os eslovacos, e a de cima, com outros imigrantes. ‘‘Os eslovacos se mantinham meio isolados, principalmente por causa da língua e dos costumes’’, revela.
Segundo a professora, a construção da segunda capela uniu as duas partes. Muito religiosa, Ana diz que uma das lembranças mais fortes da colônia era a realização das Missões - semana em que aconteciam encontros para jovens e casais, além de missas, com a presença do padre americano Eugenio Sulivan. ‘‘A igreja ficava repleta de gente’’, observa.
Da época do auge de Bratislava, Ana se recorda ainda das vendas, da sorveteria, das máquinas de beneficiamento de arroz e café, e também do time de futebol, o Bratislava Futebol Clube. ‘‘O time chegou a ganhar 42 taças em campeonatos diversos’’, relata. Havia também muitas festas e casamentos. ‘‘As festas na igreja eram bastante concorridas’’.
Sobre a comida típica dos eslovacos, a professora diz que nas festas não podia faltar o ‘‘charutinho’’, feito com folhas de repolho aferventadas recheadas com arroz e carne de porco. Nas casas dos imigrantes eslovacos, a alimentação tinha como base a batata. Um exemplo é o ‘‘haluski’’, nhoque feito com batata crua ralada, creme de leite e ricota. Famosa também era a sopa de champignon.
DecadênciaO declínio da colônia começou na década de 60 e se acentuou com a crise na cafeicultura - agravada pela geada negra de 1975, que forçou a erradicação dos cafezais. Muitas famílias também resolveram trocar Bratislava pelo Mato Grosso, onde compraram áreas maiores com o dinheiro apurado - partindo de novo para uma nova empreitada colonizadora.
Hoje, o local está praticamente abandonado e restam apenas duas famílias originais. Uma delas é dos agricultores Zilda e Eduardo Schulz. ‘‘Meu marido costuma dizer que só sai daqui em um caixão’’, afirma Zilda. O casal vive em um sítio de 11 alqueires, acompanhado da neta Valéria, 16 anos. Os seis filhos moram em outros locais.
Uma placa na entrada da PR-445 (acesso a Bratislava), uma das capelas, algumas casas velhas de madeira e o campo de futebol são os poucos sinais que sobraram de Bratislava. Os sítios foram divididos e transformadas em chácaras.