Marcelo Resquetti: "Em termos de tecnologia, o BIM traz uma sofisticação tão grande como a dos apartamentos decorados. Há muita técnica e metodologia embarcada por trás de todo o processo”
Marcelo Resquetti: "Em termos de tecnologia, o BIM traz uma sofisticação tão grande como a dos apartamentos decorados. Há muita técnica e metodologia embarcada por trás de todo o processo” | Foto: Divulgação

A expressão já é bem conhecida no mundo da engenharia civil e agora está desembarcando no mercado imobiliário.

Em Londrina, a sigla BIM (Bulding Information Modeling ou Modelagem da Informação da Construção) começa a se popularizar com uma nova geração de edifícios residenciais e comerciais.

Explicar o que é exatamente um BIM não é lá uma tarefa tão simples, mas a reportagem da Folha ouviu alguns líderes da construção civil para tentar traduzir o que esta novidade significa para o setor.

Um conjunto de softwares entra em ação para integrar e compatibilizar os mais diferentes projetos de uma obra e a partir daí simula com detalhes os custos, o consumo de energia, a previsão do volume exato de insumos, as ações e os prazos.

Com mais de 500 dados de orçamento e planejamento inseridos no modelo, o BIM permite visualizar a obra pronta, em três dimensões, antes mesmo de ser iniciada. Com o uso da realidade virtual, é possível “caminhar” pelo canteiro através do software, com acesso a informações específicas apenas com um clique. Um sistema de QR Code permite acessar as informações facilmente, por celular, também no ambiente da obra.

"Em termos de tecnologia, o BIM traz uma sofisticação tão grande como a dos apartamentos decorados. Há muita técnica e metodologia embarcada por trás de todo o processo”, destaca Marcelo Resquetti, diretor do Grupo Plaenge.

A construtora estruturou um departamento dedicado para implantação do BIM há quatro anos e, desde então, investiu em capacitação, equipamentos e na revisão dos processos. O sistema é operado por equipes multidisciplinares especialmente treinadas para a implementação.

O empreendimento Trianon - que começou a ser construído em agosto do ano passado - é a primeira obra 100% projetada em BIM. “Construímos o edifício virtualmente antes que ele inicie no canteiro”, explica. Na Plaenge, a próxima fase será implantar o uso do BIM também na pós-ocupação e manutenção. “É a construção do futuro, que abre caminho para o uso de inteligência artificial no setor”, prevê.

O BIM viabiliza um compartilhamento amplo e sistemático de informações entre os envolvidos no projeto. Como em qualquer negócio, a construção depende da previsibilidade para reduzir custos e calcular prazos. Estatísticas internacionais apontam que esta variabilidade cai de 5% para algo entre 0,5 a 1% com a adoção da modelagem.

Fernanda Pires: "Quanto maior a complexidade do projeto, mais estratégica esta inovação se torna"
Fernanda Pires: "Quanto maior a complexidade do projeto, mais estratégica esta inovação se torna" | Foto: Divulgação

Para a Quadra Construtora, o impacto foi ainda maior. De acordo com a diretora Fernanda Pires, o lançamento do Metropolitan Med Center, edifício comercial voltado aos profissionais da saúde, a adoção do BIM significou um grande diferencial para a execução do empreendimento. "Quanto maior a complexidade do projeto, mais estratégica esta inovação se torna", avalia.

Fernanda calcula que neste caso a variabilidade orçamentária e de tempo de execução caia de 20% para um patamar entre 1 a 3%.

A modelagem está sendo gerenciada por uma consultoria, responsável também pela capacitação da equipe técnica, de modo que o Metropolitan se tornou uma espécie de piloto para futuros voos da empresa. "Em termos de BIM, após esta experiência, vamos ter autonomia e conhecimento para projetos de níveis diferentes de complexidade", garante.

A executiva acredita que a indústria da construção no Brasil esteja em um período de aprendizado sobre esta nova modelagem e que em poucos anos, com o amadurecimento conquistado pela prática será possível entender o quanto o setor vai ganhar. "Na minha opinião este upgrade será muito maior do que quando os projetos passaram da prancheta para o computador", compara.

Para Roberta Nunes Mansano, diretora-executiva da Vectra Construtora, a chegada do BIM no universo das incorporadoras altera a mentalidade do negócio. "O BIM faz a empresa pensar de modo totalmente diferente", acredita.

Ela lembra que a obra é a junção de muitos projetos feitos paralelamente - hidráulico, elétrico, fundação, arquitetura, paisagismo, entre outros - e que, sem o BIM, podem demonstrar incompatibilidade em etapas avançadas de execução. Com a inovação, os projetos são atualizados sistematicamente e as alterações podem ser feitas antes do início, facilitando a colaboração entre os projetistas. "Isso significa produtividade e rentabilidade", explica.

Outra vantagem é a agilidade em eventuais ajustes no pós-entrega. "Como eu tenho um volume de informações amplo e compatibilizado, eu posso simular situações e tomar uma decisão mais segura, se for necessário", esclarece.