Ponto chave durante a jornada escolar dos estudantes, as avaliações servem para, como já adianta o nome, avaliar os conhecimentos dos alunos referente a diversos assuntos e disciplinas. Com toda essa importância, as avaliações precisam ser elaboradas, aplicadas e devolvidas para os alunos de maneira coerente e como uma forma de rever os caminhos com que os conteúdos estão sendo ministrados. Professor universitário há quase 50 anos, o tema vai ser abordado pelo pesquisador José Meciano Filho, mais conhecido como Nino Paixão, em sua palestra no Londrina Mais nesta sexta-feira (18).

Em sua segunda passagem pelo evento, que ele define como “um dos maiores eventos educacionais” que já participou, o professor afirma que é essencial essa preocupação com a formação dos professores. “Quando eu estou em frente a uma plateia de professores, sabe o que eu digo? Que eu estou vendo anjos. Professores são anjos porque são pessoas que foram escolhidas para encaminhar outras pessoas”, reforça. Com uma palestra que ele caracteriza como leve e dinâmica, ele conta que foi recebido muito bem na cidade e que, em 2022, também aproveitou para visitar a exposição de projetos e trabalhos das escolas, o que planeja repetir neste ano.

O processo da aprendizagem

Graduado em biomedicina e com mestrado e doutorado na área da neurociência, durante muito tempo ele estudou sobre como acontece o processamento da informação, ou seja, qual o caminho que uma informação percorre no cérebro e como se processa a aprendizagem. “Quando você olha um objeto, isso vai para uma área do cérebro que você tem a sensação de ver mas não sabe o que está vendo, que é a área primária. Esse impulso vai para outra área, chamada de secundária, em que você identifica [o objeto]. O problema na educação é que a maior parte dos professores e alunos param por aí, mas nós temos que levar essa informação para uma outra área, chamada terciária, que é onde estão as funções executivas”, explica. Segundo ele, a partir disso, ele passou a estudar a interferência dessa situação na aprendizagem.

Desmistificar a avaliação

Com a palestra intitulada “A neurociência como parâmetro para a produção do instrumento de avaliação”, o pesquisador explica que não adianta um professor ter uma aula maravilhosa e uma avaliação que não corresponda à aula. “A avaliação é o ‘calcanhar de Aquiles’ de todo o processo educacional porque nós não conseguimos conscientizar o aluno e o professor do que eles precisam fazer”, esclarece. Segundo ele, o primeiro passo é desmistificar a avaliação: “é tirar o medo do aluno dessa avaliação, mostrando para o que ela serve, assim como mostrar que a análise do resultado [da avaliação] é muito importante para o professor corrigir a sua rota”.

Paixão cita alguns passos importantes desse processo de avaliação dos alunos: elaboração, aplicação, correção e devolutiva. Na elaboração, o professor cita que uma das regras obrigatórias é que o questionamento fique claro para o aluno; já na aplicação, é preciso deixar o aluno à vontade e tranquilo, de forma que ele saiba “as regras do jogo” e o valor de cada questão. “Nesse momento, entra uma parte do sistema nervoso chamado de autônomo simpático, então o professor não deve chamar atenção de um aluno em voz alta, por exemplo, porque é necessário manter essa tranquilidade”, detalha.

Partindo para o momento da correção e da devolutiva, o palestrante explica que o professor não deve propor muitas questões na prova, já que isso pode ser um problema no momento em que ele vai corrigir, assim como não adianta apenas colocar a nota e entregar para o aluno. “Ele é muito mais do que uma nota, então o professor precisa analisar o resultado e ver que medidas ele vai tomar, da mesma forma em que o médico analisa o exame de um paciente”, pontua. A partir disso, ele pode delimitar novas estratégias para reabilitar os alunos que não conseguiram aprender.

Nino Paixão ressalta que existem alunos bons, médios e fracos tanto na educação pública quanto nas melhores escolas particulares, sendo que o que faz o aluno ser bom é o tripé: escola, aluno e família. “A família tem que motivar e dar educação. A escola tem que dar escolarização e reforçar os valores comuns da educação”, opina.