O Brasileirão acabou e certamente muita gente não vai ficar com saudades. A cada ano, o nível do torneio se torna cada vez mais sofrível. Foram pouquíssimos bons jogos. O que prevalece é disputa para não perder, o que deixa de lado o futebol de verdade, a técnica, a ousadia, a ofensividade. Além de sono, a maioria das partidas dá é vergonha.

Seja na parte baixa da tabela ou na de cima, a disposição em campo das equipes, o sistema de jogo, a vontade, a qualidade são iguais. Muita briga, muito carrinho, muito bicão, todo mundo peitando o árbitro a cada apito, os técnicos mandando o time recuar para garantir mais uns dias de emprego, e o resultado de tudo isso é a queda no interesse do torcedor e o distanciamento do que é praticado hoje por aqui do que um dia foi o "país do futebol".

O Palmeiras foi campeão com méritos. Tem o time titular e o reserva do mesmo nível e, assim, conseguiu arrancar no campeonato mesmo atuando com o mistão em boa parte dele. O poderio financeiro do clube possibilitou isso. O Flamengo é o outro "rico" do futebol brasileiro e foi o vice-campeão. Uma lógica. Cruzeiro e Grêmio preferiram os reservas em boa parte do torneio. Talvez fossem outros dois que poderiam brigar pelo título se tivessem valorizado mais a competição. No campeonato dos times reservas, quem teve mais elenco se deu bem.

Em meio a tanta canelada, dá para pincelar alguns fatores positivos que fazem o futebol respirar por aqui. São dois personagens e uma revelação. O campeão Palmeiras contou com os gols e a marra decisivos de Deyverson. Que jogador! Ele foge à regra atual, que é ser certinho, dizer o tradicional "agora é levantar a cabeça e trabalhar porque quarta-feira já tem jogo". O cara é o verdadeiro boleiro raiz, vai para cima do adversário, provoca antes e depois se garante em campo fazendo gols e decidindo jogos.

No futebol mimizento de hoje, isso dá cartão, dá expulsão, da falação. Querem um bando de nutelinha correndo atrás da bola em campo, com o discursinho ensaiado com a assessoria de imprensa para a entrevista. Deyverson desgourmetiza o futebol, assim como outro grande diferencial desse Brasileirão, o técnico Lisca Doido, uma versão mais pomposa do nosso ídolo local, o Knário. Lisca fez todo mundo torcer pelo Ceará.

Ele assumiu o time numa draga danada, botou os caras para jogarem para a frente, de igual para igual com qualquer uma das outras 19 equipes, livrou o time do rebaixamento e conquistou o Brasil. Ele fez questão de colocar o torcedor "dentro do gramado", jogando junto com o time, virou uma coisa só, e essa, talvez, tenha sido a receita da recuperação cearense. O cara chegou ao último jogo em pé, no teto do ônibus, para saudar a galera que o ovacionava na porta do estádio ao som de "saiu do hospício, tem que respeitar. Ah! Lisca doido é Ceará". Isso é futebol, essa é a essência.

Por fim, que treinadorzão é o Tiago Nunes, hein? Além de ter acertado o time do Atlético-PR, vai na contramão dos colegas, jogando para a frente, com repertório, bonito, procurando o gol. É, talvez, a grande revelação desse campeonato.