Para produção de um material especial sobre o sonho da maioria da molecada de ser jogador de futebol, passei a última semana convivendo com meninos e algumas mães, que sonham em família com um futuro no esporte. Gente que vive esse sonho/projeto, que faz os sacrifícios que forem necessários para que se concretize. Coincidentemente, foi em um alojamento, dormindo ao lado de boleirinhos que jogavam um torneio em outro país, que recebi a notícia da tragédia do Ninho do Urubu. A comoção e o abatimento foram inevitáveis. Eram meninos sonhadores como eles que tiveram as vidas ceifadas. Eram mães como elas que perderam os filhos.

Quem convive no meio do futebol sabe como são os alojamentos Brasil afora. Claro que não podemos generalizar, mas é fato que temos muitos em situação calamitosa, expondo esses futuros jogadores a situações absurdas. Agora, vai começar uma onda de fiscalizações e denúncias, como foi após o desastre da Boate Kiss, em Santa Maria-RS, por exemplo. Algo momentâneo, "para dar uma resposta à sociedade", e cai logo no esquecimento. Como bem disse em sua coluna aqui na FOLHA na edição de segunda-feira (11) o jornalista Diego Prazeres, nós, da imprensa, também deixamos de fazer nossa parte, de investigar estes bastidores dos clubes. Aqui na cidade e na região mesmo, temos vários deles. Como será que estão? Todos têm condições de segurança, conforto e higiene?

Em nome do sonho, esses garotos não se importam em ficar em condições sub-humanas, conviver com a insegurança e a insalubridade. Por isso, muitos não denunciam. "Vale tudo pelo sonho." Mas será que vale mesmo?

Mudando de assunto, uma perguntinha boba: quando a CBF vai acabar com esse negócio de time vendendo mando de campo? Isso acaba com a competitividade do jogo, interfere nos resultados do campeonato e tira uma das poucas chances na vida que o torcedor de um time pequeno terá de ver de perto a equipe do coração contra um grande brasileiro.