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| Foto: Divulgação Bayer Leverkusen



O sotaque nordestino, o jeitão divertido e bem humorado, a humildade. O lateral esquerdo Wendell continua o mesmo dos tempos que despontou com a camisa do Londrina. Entretanto, o futebol do jogador passou por uma evolução enorme neste período de três anos atuando no Bayer Leverkusen, da Alemanha. Tanto que se tornou objeto de desejo de muitas potências europeias. Feliz no clube com o qual tem contrato até 2021, ele não tem como foco a mudança de equipe neste momento, mas sim continuar evoluindo e batalhando pelo reconhecimento não só do novo treinador do time alemão, Heiko Herrlich, mas também do técnico Tite, da seleção brasileira.

Wendell nasceu em Fortaleza-CE, cresceu em Camaçari-BA e desembarcou em Irati-PR para mudar a vida dele e da família. No clube gerido pela SM Sports, foi o destaque da Copa Tribuna de 2010. Com 17 anos, já foi titular do time principal do Azulão no Paranaense de 2011. Com a empresa de Sérgio Malucelli assumindo a gestão do Londrina no mesmo ano, desembarcou no clube alviceleste. Foi campeão da Segundona com o Tubarão. Disputou a Série B de 2012 pelo Paraná Clube e retornou ao Londrina no ano seguinte, quando foi eleito melhor lateral esquerdo do Paranaense. Daí, foi para o Grêmio, se destacou e, no ano seguinte, foi vendido para o Bayer Leverkusen por 6,5 milhões de euros (cerca de R$ 21 milhões na época).

Wendell durante sua apresentação, em 2014
Wendell durante sua apresentação, em 2014 | Foto: Divulgação/Bayer Leverkusen



Lá, ganhou corpo, aprendeu a marcar sem perder seu poderio ofensivo característico, virou peça chave do time alemão e um dos grandes desejos de clubes maiores nas janelas de transferências. Na passada, quase acertou com o Real Madrid. Na atual, foi a vez de Roma e Inter de Milão o assediarem fortemente. Hoje, seu valor estimado de acordo com o site Transfermarket é de 15 milhões de euros (R$ 55 milhões).

Em entrevista exclusiva ao Bola pro Mato, ele falou sobre seleção brasileira, futebol alemão, sondagens, preconceito, vida na Alemanha e, claro, Londrina.

Seleção

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| Foto: Divulgação/CBF



Wendell já foi lembrado por Tite nas partidas contra Bolívia e Venezuela, em outubro passado, pelas Eliminatórias da Copa da Rússia. Ele substituiu o machucado Marcelo. Com a consolidação do jogador do Real e Filipe Luís, do Atlético de Madrid como as duas principais opções, não teve mais chances, mas não desanima.

Ganhar mais oportunidades na seleção é uma de suas principais metas nesta temporada que está por começar. "Sempre é o objetivo. Quero trabalhar muito bem esse ano para que o treinador possa acompanhar. Espero fazer um grande ano, com grandes jogos e ser lembrado de novo para poder representar bem meu país, que é muito importante", afirmou o jogador.

Ele tem ciência de que Marcelo é titular incontestável e que são poucas as chances de Filipe Luís não ficar com a segunda vaga. Mas não desanima, segue trabalhando e vê outros concorrentes para este posto. "A gente sabe que o Marcelo e o Filipe estão na frente, são grandes jogadores, mas há outros grandes atletas que vêm fazendo ótimas temporadas, como o Alex Sandro (Juventus), Guilherme Arana (Corinthians), Alex Telles (Porto), jogadores que vêm aparecendo, fazendo grandes partidas e jogando em alto nível. A gente espera ser lembrado, estar na briga. Mas sei que é difícil, pois Marcelo e Filipe Luís estão muito bem tanto no clube como na seleção. É difícil, mas não é impossível", discursa.

Mercado
Nesta época do ano, as especulações do mercado envolvendo o nome de Wendell são várias. As mais fortes sondagens foram de Roma e Inter de Milão. Apesar de garantir que continua no clube, muita coisa ainda por acontecer até o fechamento da janela de transferências das principais ligas europeias, marcado para o dia 31 de agosto.

"É sempre bom essa época do ano por sempre aparecerem times interessados no meu futebol. Agradeço a Deus por ter sido lembrado por grandes clubes como Roma e Inter de Milão, como outros que apareceram ano passado. Mas meu foco é aqui, estou feliz e espero tudo no tempo de Deus. Se for para sair, vou sair. Se for para ficar, vou ficar. O que espero é fazer um grande ano mais uma vez", disse.

Organização do futebol no Brasil e na Alemanha

Wendell lembra que a forma como é conduzido o futebol na Alemanha é exemplar, com planejamento, objetivos esportivos e sociais e uma estrutura impecável. "A estrutura aqui é fora de série. O futebol é tratado como uma grande forma de formar cidadãos, de formar grandes pessoas. Eles levam muito a sério as categorias de base. No Brasil os times estão se estruturando, estão construindo seus centros de treinamento, estão dando qualidade de trabalho. Espero que evoluam, que continuem enxergando assim o futuro do futebol brasileiro, que continuem se estruturando e que no futuro estejam no primeiro mundo do futebol em termos de estrutura", apontou.

Vida na Alemanha

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| Foto: Reprodução/Facebook



Como bom brasileiro, Wendell conta que um churrasco e um sambinha sempre estão presentes na rotina dele. "Meu grande amigo do clube foi negociado com o Milan (o turco Hakan Calhanoglu). Mas tenho outros grandes amigos aqui, como o André (Ramalho, brasileiro que estava emprestado ao Mainz), que voltou agora, o Charles Aránguiz (chileno), tem um preparador brasileiro que está aqui. Enfim, a gente está sempre junto, fazendo churrasco, tocando um samba, lembrando um pouco do Brasil. Mas tenho amigos no meu time, também como o Benjamin Henrichs, Vladlen Yourchenko (ambos alemães). É um clube que me dá toda tranquilidade e grandes amigos", conta com a empolgação de quem está muito satisfeito com a vida na Alemanha. "O que mais gosto aqui é o ambiente, o respeito, a comida, me acostumei bastante a comer a comida daqui. O respeito das pessoas é muito grande. Não vejo fazerem diferença. O que mais sinto falta é da minha família. Minha mãe, meu pai, meus irmãos. Sempre eles vêm para cá, mas ficam pouco tempo. Mas é vida que segue, Deus sabe o que faz, vem me abençoando muito, só tenho a agradecer de estar em um país bom, que me dá toda a estrutura, que quando minha família está aqui se sente em casa", reforçou.

Preconceito

Apesar dos muitos registros de ações racistas nos campos de futebol europeus, Wendell conta que na Alemanha nunca foi hostilizado ou ofendido. Entretanto, não passou imune a estas atitudes deploráveis. Em um jogo contra a Lazio, pela fase preliminar da Liga dos Campeões de 2015, ele e o alemão Johnathan Tah foram o alvo de cânticos de teor racial por parte da torcida italiana no Estádio Olímpico. A torcida organizada da Lazio é considerada uma das mais fascistas da Europa. "Na Alemanha nunca tive preconceito. Aconteceu uma vez num jogo contra a Lazio. Insultaram a mim e o Jhonatan, mas no jogo de volta conseguimos desclassificar eles da Champions League", contou, revelando que a resposta foi a eliminação do rival e mostrando maturidade e segurança. "Mas isso não me atrapalha em nada. É sempre a minoria. Podem fazer o que quiserem, não vou mudar meu jeito de ser e quem quiser que trate com preconceito. Agradeço a Deus do jeito que eu sou", completou.

E o Londrina?

Wendell despontou para o futebol no Londrina, como aposta do técnico Cláudio Tencati. A relação com o clube continua e ele garante que acompanha de lá, na medida do possível, o desempenho do Tubarão. "Acompanho o Londrina, gosto, tenho amigos lá, jogadores, o treinador que me revelou, foi meu primeiro técnico. A gente fica daqui de longe torcendo pelos nossos companheiros, pela instituição. Agradeço um dia ter jogado aí e espero que o time sempre se dê bem, assim como o treinador e os jogadores que aí estão", concluiu.