Imagem ilustrativa da imagem Brasil, lanterninha mundial da ciência



Dia desses tive a honra de conhecer o professor Marcelo Hermes-Lima, do Departamento de Biologia Celular da UnB (Universidade de Brasília). Pesquisador com 5.850 citações em revistas científicas internacionais (número que supera o de algumas universidades brasileiras), Hermes-Lima também é um profundo conhecedor da nossa realidade acadêmica e um crítico da doença ideológica que vampiriza o ensino superior no Brasil. A seguir, compartilho com vocês sete as surpreendentes reflexões de Marcelo Hermes-Lima sobre a situação da ciência em nosso país:

"Quando olhamos o que sai na imprensa sobre a ciência brasileira, geralmente ficamos felizes de ver que boas descobertas aparecem, assim como as notícias de que o Brasil tem produzido mais e mais artigos científicos a cada ano. Em 1997 estávamos em 21º lugar no ranking mundial de quantidade de artigos científicos, com 10,8 mil publicações (os EUA, 1º lugar, publicaram 344 mil artigos em 1997). Em 2010, no auge da era PT, chegamos à 13º posição com 50,3 mil artigos. Em 2017 publicamos 73,6 mil artigos (não há dados de 2018). Vamos celebrar o aumento de 580% de publicações entre 1997 e 2017?

A produção de artigos do Brasil, em comparação com o 1º lugar, só tem avançado. Em 1997 tínhamos 3,1% da produção americana - em 2017 aumentou para 11,7%. Olhando para áreas específicas do saber, o Brasil estava em 3º lugar em Agricultura e Biologia em número de artigos. Em Bioquímica e Genética, Matemática, Medicina, Engenharia e Química ocupamos posições entre 13º e 18º lugar.

Entretanto, se olhamos as coisas por um outro ângulo, veremos que os motivos de júbilo podem ser muito menores. Falo da análise do impacto da ciência. A melhor forma para se avaliar o impacto de milhares de trabalhos científicos de um país é analisar suas citações. Não há como ler e "dar uma nota" para, por exemplo, 3.037 artigos produzidos em 2015 pela Estônia.

Vejam que interessante: os artigos da pequena Estônia receberam 28,6 mil citações, resultando em 9,44 citações por artigo (CPP, 'citations per paper'). Em 2015 o Brasil produziu 68,6 mil artigos, que receberam 272,4 mil citações, ou seja, CPP = 3,97. Um impacto 2,4 vezes abaixo da Estônia.

Entre os países que produzem pelo menos 3 mil artigos por ano, a Estônia estava em 63º lugar em 2015. Apesar de ser a última no ranking da quantidade, foi a 1ª no ranking de CPP (que indica impacto). Naquele ano o Brasil era o 13º lugar em quantidade, mas o 53º em CPP (entre 63 países!). A Estônia - antiga república da URSS - é celebrada como modelo de avanço econômico e social. Apesar da pequena população, sua ciência teve até maior impacto que a Suíça em 2015, 2º lugar em CPP.

A posição do Brasil no ranking de impacto das publicações em 2015, conforme as áreas do conhecimento, não é motivo para festejar. Agricultura e Biologia: 43º lugar de 44 países (penúltimo lugar!). Medicina: 45º de 56 países. Bioquímica e Genética: 33º de 45 países. Matemática: 30º de 37 países. Química: 37º de 42 países. Engenharia: 42º de 56 países. Uma vergonha. Um fracasso.

Alô, presidente Bolsonaro. Precisamos sair urgentemente sair da lanterninha mundial da ciência!"

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