Bolsonaro e a traição dos generais
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sexta-feira, 08 de março de 2019
Paulo Briguet
"A mão que afaga é a mesma que apedreja."
(Augusto dos Anjos)
No dia 23 de janeiro de 2017 lembro bem a data porque era o aniversário da minha esposa , em conversa com um amigo, eu disse que um futuro governo Bolsonaro, cedo ou tarde, seria marcado por um fenômeno que permeia as grandes transformações políticas (de esquerda ou de direita): o processo de expurgo.
Em todas as revoluções, sem exceção, os grupos que se chegaram ao poder se voltam uns contra os outros, e em geral vence aquele que adota os métodos mais pérfidos: foi assim com os jacobinos e os girondinos, na Revolução Francesa; com os bolcheviques e mencheviques, na primeira etapa da Revolução Russa; com os stalinistas e trotskistas na segunda etapa da Revolução Russa; com Mao Tsé-tung e rivais na Revolução Chinesa; com Fidel Castro e rivais na Revolução Cubana; com os grupos de Castelo Branco e Costa e Silva no movimento de 1964. Os exemplos históricos são fartos.
Quando tive aquela conversa, há um ano, havia dois grupos distintos em torno de Bolsonaro: os liberais e tecnocratas (liderados por Paulo Guedes) e os militares positivistas (generais). Nem sonhávamos que a esses dois grupos se somaria a plêiade dos intelectuais formados pelo filósofo e professor Olavo de Carvalho. Mas o fato é já começou, dentro do governo Bolsonaro, o expurgo dos "olavetes". Esse ataque parte de falsos amigos de Bolsonaro, que para atingir seus objetivos se uniram perfidamente a inimigos de Bolsonaro: a extrema-imprensa e a esquerda! Daí os afagos do general lacrador a ambas.
No livro "O 18 do Brumário", que analisa o golpe de Luís Bonaparte na França em 1851, Karl Marx afirma que a história se repete duas vezes: a primeira como tragédia, a segunda como farsa. O grande Paulo Francis corrigia Marx em relação ao Brasil: aqui, a história se repete sempre como farsa. Em 1964, os generais usaram a influência e o talento de Carlos Lacerda na conquista do poder, e depois o traíram. Fazem exatamente o mesmo agora com Olavo de Carvalho. A diferença é que Olavo em nenhum instante de sua vida teve a ambição do poder, ao contrário de Lacerda, que sonhava em ser presidente. Meio século depois, a traição se repete; mas agora, com um toque a mais de sordidez.
Não é por acaso que os três ministros ligados a Olavo de Carvalho Ricardo Vélez, Ernesto Araújo e Damares Alves foram violentamente atacados pela extrema-imprensa, pela esquerda e pelo general lacrador. A meta é clara: derrubá-los ou enfraquecê-los. Trata-se da revolta da casta político-militar (mandante) contra seus rivais da casta brâmane (pensante); e o pretexto alegremente adotado pelos velhos políticos, que não largam o osso nem a pau é a votação da (sem dúvida necessária) reforma da previdência.
Gostaria de finalizar lembrando uma velha história. Lúcifer, o anjo que se revoltou contra Deus, era um querubim, correspondente à segunda patente mais alta na hierarquia dos anjos. Miguel, que o venceu, era um simples arcanjo, equivalente a cabo. Lúcifer foi derrotado porque, em sua vaidade, queria ser maior que o próprio Criador. Espero que o exemplo tenha ficado claro.
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