Imersão no Senegal
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 16 de dezembro de 2016
Reportagem Local<br>Marcos Roman
A repórter fotográfica Gina Mardones viajou para o Senegal em outubro, a convite de dois amigos brasileiros que são missionários da Igreja Metodista e coordenam um projeto social para famílias de baixa renda na capital Dakar, uma metrópole com mais de três milhões de habitantes. A londrinense passou 17 dias no continente africano e aproveitou para fazer diversas fotos e também ministrar um curso de fotografia com a câmera do celular para os moradores locais. A seguir, a ela faz um relato das experiências que viveu:
Notas sobre uma imersão no Senegal
Desde que voltei do Senegal devo ter contado as mesmas histórias mais de dezena de vezes sem, contudo, me incomodar com isso. Muito pelo contrário, trazer à memória cada experiência é uma forma de reviver com prazer minha estadia naquele país. A cada encontro muitas perguntas e uma curiosidade em comum: afinal como é estar na África? Não há dúvidas que este continente provoca certa magia no imaginário humano. O Senegal, no entanto, é apenas uma porção deste caldeirão de efeverscência antropológica.
Então, vamos às impressões de uma ocidental de primeira viagem no continente africano:
A língua francesa é a língua oficial do Senegal, mas na prática a comunicação diária é em Wolof, língua local da etnia que leva o mesmo nome. Os senegaleses são muito apegados à cultura, à tradição, à família e à religião.
Falando em religião, trata-se de um país predominantemente mulçumano, com 96% da população islâmica seguido de uma porcentagem ínfima de cristãos. Pode-se dizer que o Senegal é um país modelo de convivência pacífica entre cristãos e mulçumanos, até porque existe uma forte rejeição ao islamismo radical.
O tom monocromático das construções e das ruas de Dakar (capital do país) contrasta com os simpáticos e coloridos "chars rapides" (carros rápidos), um tipo de transporte coletivo semelhante a um micro-ônibus. Além, é claro, das vestimentas típicas trajadas pelas exuberantes mulheres desse país.
Se você acredita estar habituado a um bom prato apimentado e bem temperado é porque nunca experimentou da comida senegalesa. Seu paladar nunca mais será o mesmo depois de provar o magnífico Tieboudienne (arroz com peixe), prato típico do país. O Tieboudienne normalmente é oferecido numa bandeija de alumínio redonda, grande o suficiente para servir o maior número de pessoas . Todos comem juntos no mesmo "prato", de colher e, o mais importante, com a mão a direita.
Por uma questão religiosa, a mão esquerda é considerada impura, por isso todas as suas ações, ou pelo menos as mais importantes, devem ser realizadas com a mão direita: comer, entregar algum objeto à alguém, pagar uma compra, enfim
Exceção: quando uma pessoa vai embora do país e eles desejam que ela retorne, os senegaleses se despedem com a mão esquerda.
O partilhar está presente na cultura, desde pequenas porções de comida ou chá até dividir o mesmo teto, partilhar com seu irmão é um ato de generosidade. Irmão, aliás, que pode ser um amigo. Lá frequentemente amigos são apresentados como irmãos, uma expressão de carinho com o próximo. E aos mais velhos chamam-nos de de "maman" ou "papa", não importa quem seja, trata-se de uma demonstração de respeito.
Por último, sim os senegaleses são amáveis, gentis, sorridentes e engraçados, mas antes precisam estabelecerem um laço inicial, nem que seja de alguns minutos. O primeiro contato com o desconhecido é de suma importância para eles. É essencial para os senegaleses saber quem você é, e isso se nota sobretudo na negociação durante às vendas. Negociar para os senegaleses é uma arte, não pelo preço em si, mas pelo apreço ao relacionamento.