O que impede uma política mais agressiva na queda de juros
Na coluna de 6 de novembro, abordei que nossa taxa básica de juros somente agora dá sinais de se ajustar a uma política monetária expansionista na medida que torna mais atraente ao investidor direcionar seu capital para o setor produtivo. Mas é preciso analisar se esta queda na taxa de juros é sustentável.

Relembrando
Política Monetária Expansionista – é expansionista porque amplia a disponibilidade de dinheiro na economia, uma vez que quem tem dinheiro, deixa de aplicar no mercado financeiro liberando-o para aplicação no mercado produtivo.
Política Monetária Contracionista - é contracionista porque retira dinheiro de circulação pois a preferência do investidor é em aplicar seus recursos no mercado financeiro em vez de disponibilizá-lo para a produção.

Funciona assim
A opção entre investir no mercado financeiro ou na produção está associado diretamente às taxas de juros. Se os juros reais caem, o investidor deixa de aplicar no mercado financeiro porque os ganhos desta aplicação (por exemplo títulos da dívida pública) são inferiores aos ganhos proporcionados em investimentos realizados no mercado produtivo. Por isso, uma política monetária expansionista estimula a economia na medida que libera dinheiro para investimentos produtivos, gerando empregos, renda e estimulando a circulação do dinheiro.

A taxa real de juros e a demanda por dinheiro
Ocorre que dinheiro responde às forças de mercado obedecendo os princípios de demanda e oferta. Quanto mais existe o desejo ou necessidade por dinheiro, mais aumenta seu custo. O custo do dinheiro é a taxa de juros.

E quem demanda dinheiro?
As pessoas demandam dinheiro para tomar crédito e consumir. As empresas demandam dinheiro - também na forma de crédito - para investir na produção. E o governo demanda dinheiro quando gasta mais do que arrecada, ou seja, para cobrir seu déficit.

E aqui está o problema
Fica claro que, quanto mais for a disposição de consumidores e empresários em tomar crédito, mais haverá pressão para aumento dos juros. Mas até aí tudo bem, pois o mercado se regula. O problema é quando o governo entra nesta disputa e de forma agressiva.

E tudo aponta para isso
As taxas de juro nominal têm caído em função da redução da inflação, lembrando que juro nominal é a soma da inflação com a taxa de juros real. No entanto, a taxa de juros real, que é a que verdadeiramente interessa ao investidor, tem caído de forma muito menos consistente e por essa razão que a economia continua com baixas taxas de investimento produtivo. De qualquer forma tem caído.

Mas o déficit público tende a reverter esta tendência
Agora observe. O governo está gastando cerca de 10% mais do que arrecada a cada ano e nossa dívida bruta já está em 74% do PIB. Óbvio que o governo precisará tomar mais dinheiro emprestado para financiar este déficit e para tanto, precisará aumentar os juros para atrair os investidores para os títulos da dívida e a dívida vai se elevando cada vez mais.

O buraco da Dominância Fiscal
Já se avizinha o momento em que a dívida do país se tornará tão elevada que qualquer política econômica será ineficaz. É o que se chama de Dominância Fiscal. Basicamente, um aumento de juros eleva ainda mais a dívida que já aumenta porque o governo gasta mais que arrecada, até o momento que ela tornará impagável. Na Dominância Fiscal, os juros não mais causam queda da inflação, mas provocam forte piora no quadro de endividamento do governo.

O que fazer
Tenho claro que taxas de juros em declínio não se sustentam sem que o governo consiga equacionar suas contas. Não buscar o equilíbrio nas contas públicas por meio de uma Reforma Fiscal significará que voltaremos à síndrome de voo de galinha - espasmos de crescimento seguidos de novas crises.

Marcos J. G. Rambalducci - Economista, é Professor da UTFPR. Escreve às segundas-feiras.