Isaac Asimov nasceu numa pequena aldeia, na Rússia, em 1920. Três anos mais tarde, migrou com a família para os Estados Unidos da América. Assim como muitos outros grandes nomes da arte e da cultura, cresceu no Brooklyn, em Nova Iorque. Asimov foi um escritor compulsivo: assinou, entre romances, artigos e textos de divulgação científica, mais de quinhentas obras. Foi, certamente, uma "biblioteca viva", extremamente criativo, inquieto e inspirador.

O foco de Asimov foi a chamada ficção científica. Alguns de seus livros - como "Eu, Robô" e "O Homem Bicentenário" - foram adaptados para a sétima arte e se transformaram em sucesso de público e crítica. Entre seus milhões de admiradores, em todo o mundo, estão gerações inteiras de homens e mulheres que dedicaram a vida às letras, às ciências e à liberdade. Mais do que um autor prolífico, Asimov foi, antes e acima de tudo, um humanista monumental.

Embora tenha antecedentes nas utopias filosóficas e nas revoluções sociais existentes entre os longos e intercambiáveis séculos XVI e XIX, a ficção científica se estabelece como gênero literário no século XX. O termo, aliás, foi cunhado por Hugo Gernsback em 1929. Entre a utopia e a sátira, o sonho e o pesadelo, o firme propósito de influir no debate de ideias e o simples desejo de promover entretenimento e estimular a imaginação, a ficção científica, de H.G Wells e Júlio Verne às pós-modernas séries televisivas da Netflix, vê o mundo para, logo em seguida, superá-lo, voltando no tempo ou rompendo a linearidade do progresso; lançando a humanidade em seus desconhecidos primórdios ou a assustando diante do futuro que está por vir, pelo qual, em larga medida, todos precisam ser responsabilizados.

Na ficção científica de Isaac Asimov, a guerra e os destemperos da humanidade são vistos à luz da inteligência residual dos indivíduos que não se entregam aos discursos totalitários nem à febre que se dissemina jurando haver paraísos artificiais em construção. Suas "três leis da robótica", por exemplo, surgidas em 1950 no livro "Eu, Robô", expressam o eixo de sua leitura humanista do mundo: a primeira das leis diz que nenhum robô poderá ferir um ser humano ou permitir que algum mal lhe seja causado; a segunda decreta que todo robô deverá obedecer aos humanos, à exceção dos casos em que a primeira lei for desrespeitada; e a terceira, sublime, determina que os robôs devem se autopreservar, menos em circunstâncias em que as duas leis anteriores sejam colocadas em xeque. Asimov sempre privilegia em suas reflexões o criador, não a criatura. À frente de toda atividade automatizada, programada ou virtualizada deve figurar os sujeitos e seus valores. Aliás, os valores defendidos pelas máquinas deverão ser os valores mais caros ao humano. Nada nem ninguém deverá preferir um smartphone a um abraço caloroso, uma polêmica insossa na internet a um beijo apaixonado, ao vivo e em quentes cores.

Numa época em que bibelôs eletrônicos parecem dominar razão e emoção, disseminando ódios e mentiras, irrelevâncias e sandices, os livros de Asimov oferecem pistas para um oásis. A trilogia "Fundação", publicada no curso da década de 1940, por exemplo, retrata um futuro em que a destruição da humanidade é prevista. O que poderá ser feito para evitar o fim dos tempos? Asimov aposta na ciência, na mente brilhante de um visionário e na capacidade de reunião e trabalho em equipe daqueles que ainda têm o que sonhar e realizar. Impactante e perturbadora, "Fundação" é uma série que se impõe por diminuir a fronteira entre a ficção e a realidade, estimulando a reflexividade e procurando despertar nas pessoas o devido e hoje em dia tão esquecido senso crítico de justiça, equilíbrio e paz.

Sentir Isaac Asimov, nesses termos, é um convite à inteligência que persiste, insiste, sobrevive em meio às agruras da estridência contemporânea.

Marco A. Rossi é sociólogo e professor da UEL - [email protected]