Imagem ilustrativa da imagem Leonardo Prota e eu
| Foto: Acervo Pessoal



Hoje, excepcionalmente, peço licença para escrever na primeira pessoa do singular. O motivo tem boa justificativa: homenagear um amigo, o maior e melhor que tive, o Professor Leonardo Prota (1930-2016).

Eu era estudante na UEL, na década de 1990, quando ouvi falar de Prota pela primeira vez. Numa noite, no campus, acompanhei-o falar a respeito da subjetividade humana, apoiado em seu mestre, Immanuel Kant. Sua autenticidade intelectual era tão espessa que, mesmo nos momentos de divergência de ideias, era impossível não o admirar. Além disso, sua empatia – emoldurada por um sorriso de graça ímpar – cativava todo o mundo à volta. Simpatizei logo com ele.

O tempo passou e eu fui viver as aventuras que a vida havia me reservado. Em 2003, uns dez anos mais tarde, tornamo-nos colegas de trabalho. Numa faculdade em Apucarana, ele foi contratado para dar aulas de Filosofia e eu, de Sociologia. Aproximamo-nos. Prota, um velho liberal, um humanista generoso, quase octogenário. Eu, ainda antes dos trinta anos, um jovem cheio de utopias e dúvidas, tudo na mesma proporção. Selamos, então, uma amizade inabalável, que ganhava vigor a cada dia.

Por quase quinze anos, tive o privilégio de tê-lo meu confessor (o italiano de Bari que optou pela brasilidade fora sacerdote católico por muitas décadas), exemplo de valores, compadre. (João Gabriel, meu filho, aliás, nasceu em 6 de novembro, dia de São Leonardo.)

Minha família recebia de Prota doces abraços e belas palavras. Como nossas casas ficavam a duzentos metros uma da outra, partilhávamos afetos com frequência. Lembro que, certo dia, João Gabriel precisava entrevistar "um homem sábio" para uma tarefa escolar. Fomos, é claro, à casa do padrinho. Lá, na aconchegante sala do casal Leonardo Prota e Lesi Correa, encontramos um sujeito disposto a transmitir, com simplicidade, lições de vida a um garoto que ainda não tinha completado dez anos. Prota garantiu a João que a sabedoria está sempre à frente; para sermos dignos de sua companhia, precisamos ter paciência e amar o que realmente importa – os amigos e familiares, os bons livros, discos e filmes, os momentos delicados da existência. E arrematou com a frase que o tornou o sujeito grandioso que sempre será: "A vida é bela!"

Leonardo Prota foi um amigo-irmão-pai que me amou de modo incondicional, como é típico do verdadeiro amor. Quando ninguém queria acreditar em mim, ele me pegou nos braços e me conduziu. Enxugou minhas lágrimas e me adotou como aprendiz. Tenho orgulho de ter sido seu parceiro e admirador confesso, tanto naquilo que tínhamos em comum quanto no que mantínhamos na diferença.

Uma imagem nossa, dentre as tantas que guardo no coração, é poderosa: quando fui assumir minha vaga na UEL, numa tarde que já anunciava as flores da primavera, encontrei Leonardo Prota à minha espera. Depois que assinei os termos de posse, ele me disse: "Fui feliz aqui, Marco Antonio. Agora é a sua vez".

Poucos dias antes de sua partida, pude abraçá-lo e dizer a ele que o amava muito. Pude, enfim, agradecer por tudo. Hoje, a saudade é enorme. Mas ele nunca deixou de estar comigo. Sinto isso. Sei disso.

Marco A. Rossi é sociólogo e professor da UEL - [email protected]