Imagem ilustrativa da imagem A teoria do tempo
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A origem das palavras orienta o uso que se faz delas. Não é à toa que as mais diferentes línguas atribuam significados às junções de letras que as compõem e lhes dão singularidade. O conhecimento do ponto de partida indica uma caminhada tranquila e uma chegada reconfortante.

O vocábulo "tempo", por exemplo, é de possibilidades quase infinitas. Fala-se do "tempo" como condição climática, para expressar uma época de saudade, definir objetivos, medir descanso, trabalho, amor... O "tempo" – a palavra – designa um modo de encarar a existência, atribuir aos dias um sentido. Mais do que isso: o "tempo" – essa misteriosa equação que envelhece os corpos e rejuvenesce os espíritos – carrega consigo o imprevisível. Não faltam, na história, casos de quem tenha tentado dominar o tempo, fazê-lo instrumento de caprichos pessoais. Na mesma intensidade, abundam relatos de frustração e fracasso.

O tempo (afinal, sem aspas) é o campo aberto da atividade humana. Pede-se tempo para pensar, organizar as ideias, esboçar as estratégias da ação. O tempo também é requerido para que se façam sentir os efeitos das ideias praticadas. Nada acontece de uma hora para outra. O tempo é aliado da paciência, do planejamento acurado, da fé na vida que se renova diante dos fatos, das marcas trazidas pelas brisas e tempestades. Tempo e vida andam de mãos dadas – à medida que um corre, a outra se expande, tornando-se força e exemplo. A vida que se compartilha é filha do tempo. O tempo, portanto, nunca se perde, desde que se reconheça o dom da existência e a ela se concedam os melhores significados.

O tempo dedicado a um bom papo entre amigos, a um cafuné no filho, a um beijo apaixonado, a uma leitura de Machado de Assis ou Mia Couto, a um jogo do Fluminense, às emoções diante de um grande exemplar da sétima arte, à audição de um álbum musical do Led Zeppelin ou do Pearl Jam, a uma visita a um museu de muitas narrativas, a um passeio no parque, a uma luta democrática, a uma defesa da igualdade humana, tudo isso é tempo conquistado, vida acumulada, passos firmes em direção a um futuro sempre aberto, receptivo. Ainda que ocorram perdas e danos na travessia, a chegada daqueles que respeitam o tempo, vale insistir, será benfazeja.

Há quem afirme que a palavra "teoria" vem do grego "theoro", cujo significado é "eu vejo". É curioso que no meio da palavra "teoria" existam três letrinhas instigantes: "ori", que também estão em "origem", "orientação". A teoria (adeus, aspas!) é aquilo que, no devido tempo, alcança as origens dos fenômenos, orienta a prática dos seres humanos e alcança a luz ("oriente", lugar onde nasce o sol).

A teoria do tempo exige que não se desperdice a vida em busca do efêmero. O mercado hipercompetitivo esgarça o tempo e destrói a experiência, estimulando afetos corrosivos. O mercado capitalista – essa entidade abstrata que, paradoxalmente, tem dono e ideologia – não tece o tempo; antes, rouba-o, tentando convencer a todos de que "tempo é dinheiro". A vida, por outro lado, pode ser muito mais do que isso.

Marco A. Rossi é sociólogo e professor da UEL - [email protected]