Imagem ilustrativa da imagem A linguagem desafiada
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Meme seria a unidade mínima da memória, seu elemento essencial e indivisível. Consta que foi o cientista Richard Dawkins quem o definiu, em seu clássico livro de 1976, "O gene egoísta". Um meme, portanto, armazena informação e, depois, a dissemina de ponto a ponto, onde houver o que a capture e ajude a compartilhar. Para ser um legítimo meme, a ideia, a imagem ou o som deve ser de fácil entendimento. Como dizem os jovens na internet, o meme precisa "viralizar", cair no gosto das massas e virar febre. O riso aberto e sem adjetivações é seu destino final.

De origem no idioma grego, meme vem de mimese e significa imitação. O pensador alemão Walter Benjamin, no início do século 20, já havia refletido sobre a mimese como característica fundamental da existência comum. Em seu desenvolvimento, o ser humano, desde a tenra idade, mira-se no exemplo daqueles que supostamente lhe inspiram palavras e condutas. É corriqueiro que se queira ser como os maiores e mais fortes. Primeiro os pais, depois os super-heróis, mais tarde os ídolos do rock ou os astros do esporte mais popular. A vida imita a arte, e a arte torna a vida eterna.

As estratégias de sedução dos memes ganham vitalidade nas redes sociais, onde se multiplicam em velocidade surpreendente. Com inúmeros novos perfis criados todos os dias em todo o planeta, essas redes se transformaram num fórum aberto e ilimitado de discussões. O ensaísta carioca Francisco Bosco chega a creditar às redes virtuais o status de novo espaço público. Por sua capilaridade, dão voz a quem nunca a teve; dão vez a quem jamais encenou nos palcos da política. E também alargam margens para o narcisismo e a agressividade, ingredientes constitutivos das novas e "democráticas" aparições.

O riso que o meme provoca se faz em cima dos fatos. Nada nem ninguém escapa: todos são flecha e alvo dos gracejos que circulam aos milhares diariamente pelas redes sociais e virtuais. Ao contrário do humor tradicional – pensado nos intervalos entre acontecimentos e interrogações –, o meme produz o riso imediato e cáustico, quase sempre sem critérios próprios que os limite ou classifique.

O meme, para se autopropagar, tem de ser espontâneo e criado de olho no lance. Assim, apela para sentimentos cristalizados e para o crivo insincero do escárnio. Ainda que sejam muito criativos e revelem sujeitos talentosos para extrair graça de episódios em que só há dor e lágrimas, os memes, por sua irrazão, tendem a estabelecer juízos precipitados e a revalidar preconceitos. O riso instantâneo de hoje pode vir a ser um longo caminho até um amanhã em que fatos invertidos, com seus enredos e personagens, sejam colocados novamente de pés no chão.

A linguagem desafiada pelos memes precisa ser robusta e inteligente, ampliando o debate público numa sociedade viva, interativa, em franca oposição aos delírios fascistas do ódio e da gratuidade das palavras e ações violentas. Para tanto, a democracia tem de ser o único remédio para enfrentar as contradições que ela mesma produz. Fora disso, as opções não têm nenhuma graça.