Goleiro soviético Lev Yashin era conhecido como Aranha Negra
Goleiro soviético Lev Yashin era conhecido como Aranha Negra | Foto: Shutterstock


O futebol é uma paixão mundial. Em todos os continentes existem países que organizam competições campeãs de audiência, tanto pelos meios de comunicação social quanto pela presença de torcedores nos estádios. Os grandes palcos do esporte de Puskas, Lev Yashin, Garrincha e Cruyff, aliás, tornaram-se "arenas", faustosas, repletas de galerias com lojas, restaurantes e espaços de entretenimento.

Durante as copas do mundo da Fifa, entidade internacional que congrega e subordina as diversas federações, o futebol atinge seu ápice. Realizadas a cada quatro anos em um ou mais países (em 2002, a edição dividiu-se entre Japão e Coreia do Sul; em 2026, deverá ocorrer nos três países da América do Norte), as copas impulsionam um mercado poderoso de jogadores e marcas milionárias. Para muito além da partida entre quatro linhas, o futebol é um negócio que envolve transações financeiras estratosféricas.

Em sendo assim, as copas já têm seus favoritos antes mesmo de começar. Craques e ídolos do mercado da bola, garotos-propaganda de patrocinadores engajadíssimos na lucrativa seara dos campeonatos europeus e grupos de comunicação que dispensam incontáveis recursos para transmitir os jogos e faturar montanhas de dinheiro não aceitam "zebra": a seleção campeã precisa girar a roda da fortuna e demarcar o ritmo futebolístico nos anos seguintes, até a próxima copa. A política dos bastidores assegura a eficiência econômica e a perpetuação de uma modalidade esportiva que se converteu, há bastante tempo, em produto dos mais populares da indústria cultural.

Em campo, é digna de nota a estética à la carte. Chuteiras coloridas, tatuagens vistosas, cortes de cabelo exóticos, tudo para chamar a atenção. A vitrine precisa ser atrativa e destacar o que, certamente, irá ditar moda e comportamento. Nem as emoções escapam: se um atleta chora (ou finge chorar), ele extravasa um sentimento que conduz todo o seu país; se perde a cabeça e xinga o árbitro, ele "faz justiça" e materializa a indignação nacional. A ética, então, bate asas e espera, frustrada, o fim da competição...

O futebol, contudo, reúne sensações positivas muito potentes. Dentro e fora do campo, há disseminação de estratégias coletivas de trabalho, superação de polarizações e intensas ressignificações simbólicas. O verde-amarelo, por exemplo, utilizado de forma tão triste nos últimos anos para demarcar uma visão elitista e distorcida do Brasil, é, durante a copa, o elemento bicolor de diversas manifestações culturais e ideológicas. Independentemente das picardias da Fifa e da CBF, a seleção brasileira recebe as bênçãos de (quase) todos os indivíduos, grupos e classes – ela representa um ideal de conquista e superação que movimenta o gênero humano.

Participar de um jogo numa copa do mundo é um sonho para quem corre na contramão do mercado abastado da bola. É por isso que os "pequenos" tanto vibram diante de seus êxitos em campo. A beleza de um mundial, portanto, não está na vitória do previsível próximo campeão, mas no inusitado gol de placa de um humilde e subestimado "convidado". Os insurgentes talentosos é que fazem a verdadeira história do futebol.