Imagem ilustrativa da imagem O pequeno Mozart londrinense
| Foto: Paulo Briguet

Diz a lenda que a menina Maria Anna Mozart, aos seis anos, ensaiava uma peça no piano, quando seu irmãozinho Wolfgang, de três anos, subiu numa banqueta e começou a tirar lindas notas do instrumento. Nunca saberemos se a história é verdadeira, mas o fato é que Wolfgang Amadeus Mozart tornou-se um dos maiores gênios da história da música.

Lembrei-me de Mozart porque na quarta-feira estava eu almoçando no Hotel Bourbon, na seleta companhia de meu amigo e confrade Dr. José Ruivo da Silva, 89 anos de fé e sabedoria, quando ouvimos as notas da lindíssima Sonata em Si Bemol (K. 333). Levantei-me da mesa e fui ver quem estava tocando.

Era um menino de dez anos.

No ano passado, Thiago Carvalho Gonçalves estava indo jogar futebol com seu pai, o taxista Valdeci Elias Gonçalves. Como estavam adiantados para o jogo, Elias sugeriu ao filho:

“Thiago, tem um piano ali no saguão do Hotel Bourbon. Você não quer tocar um pouco?”

Naquele dia, Maria Lúcia Vezozzo estava tendo uma conversa triste com uma de suas funcionárias no hotel. Quando ouviu aquela maravilhosa música, Maria Lúcia imediatamente levantou-se para ver quem estava tocando.

Era um menino de dez anos — vestido com uniforme de futebol.

Thiago tocava no piano que Maria Lúcia ganhara de seus pais, aos 15 anos. Em torno do velho instrumento tocado por um músico tão novo, juntaram-se mais de 30 pessoas, fascinadas.

“Eu estava triste naquele dia, mas a música do Thiago secou todas as minhas lágrimas”, conta Maria Lúcia.

Foi então que Roberto Vezozzo, casado com Maria Lúcia e proprietário do hotel, teve a ideia de apresentar Thiago ao maestro João Carlos Martins, seu velho amigo, que frequentemente fica hospedado no Bourbon.

Martins, um dos maiores músicos brasileiros de todos os tempos, veio tempos depois a Londrina para ver e ouvir Thiago tocar. Maravilhou-se. Imaginem vocês, meus sete leitores, a emoção do velho maestro — que já foi considerado um dos maiores pianistas do mundo e hoje não pode mais tocar assim.

No último domingo, a convite do maestro João Carlos Martins, o menino londrinense apresentou-se como solista no Teatro Municipal de São Paulo, interpretando a Sonata em Si Bemol de Mozart. Foi aplaudido de pé por 1.500 pessoas.

Thiago estuda piano desde os cinco anos de idade. O pai, Elias, e a mãe, Mirela, gostam de música e sempre cantaram nos corais da Assembleia de Deus. Mas a musicalidade do filho não deixou de surpreendê-los.

“Ele se sente feliz no palco”, diz o orgulhoso Elias, numa rápida entrevista concedida à Avenida Paraná entre uma corrida e outra — ele é taxista e tem seu ponto no Aeroporto de Londrina.

Agora, Thiago irá se apresentar no Festival de Música de Londrina, a convite do maestro e pianista Marco Antônio de Almeida, hoje diretor do FML, e que um dia também foi um garoto-prodígio e tocou no Municipal.

Só para encerrarmos falando de Mozart, Thiago também tem uma irmã — que se chama Ana e toca violino!