O coração do nascituro
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 29 de maio de 2017
por Paulo Briguet
Não é para me gabar, mas já ouvi muita música boa nesta vida. Gosto de trabalhar ouvindo Bach, Beethoven, Mozart, Vivaldi, Haydn, Mahler, Bruckner, Sibelius e Villa-Lobos. Certas frases musicais passaram a fazer parte da minha vida interior, a tal ponto que eu não consigo me imaginar sem elas. No entanto, de todos os sons que já escutei até hoje, nenhum emocionou-me tanto quanto as batidas do coração de meu filho no ventre materno.
Quando ouvi o coração do meu filho, senti que Deus estava falando diretamente comigo. Todas as angústias, as melancolias, as dificuldades e os problemas da vida se justificaram naquele momento. Até mesmo os erros mais graves como o de não deixar uma criança nascer, na minha tola juventude materialista encontraram ali, na sala do médico, o perdão e a misericórdia.
Dom Albano implacável defensor dos direitos do nascituro dizia que a fé e a ciência são como as asas de um mesmo pássaro. Naquele momento, as asas se moveram harmoniosamente: a tecnologia médica evidenciou-me a maravilha da criação divina. Ouvir o coração do meu filho foi o meu segundo nascimento.
Conheço um homem também que nasceu pela segunda vez. Durante um assalto à sua residência, levou um tiro no coração. Encaminhado às pressas para o hospital, estava entre a vida e a morte, quando alguém levou uma relíquia de Madre Leônia e colocou-a sobre o ferimento da bala. Esse homem sobreviveu por milagre.
Hoje o homem renascido vai acompanhar a votação do projeto que cria o Dia do Nascituro em Londrina. Eu também estarei lá. Na verdade, quando pensamos no nascituro, estamos pensando em todos nós inclusive vocês, meus sete queridos leitores. Todos fomos nascituros um dia, e de algum modo continuamos a sê-lo durante toda a existência. Um dia, o seu coração bateu exatamente como o coração do Pedro na gestação. É como escreveu o grande Josué Montello no "Diário do Entardecer": "Nossa vida é tão pessoal, tão singular, que não se confunde com a de ninguém, embora tenha o mesmo desenvolvimento natural com o nascimento, a existência e a morte. Cada um de nós é uma invenção de Deus. E invenção viva que o demônio, rindo, tenta desfigurar e perder para poder levar".
É necessário lembrar sempre que o primeiro a saudar Jesus e Maria foi uma criança que estava no ventre da mãe. Assim que Maria entrou na casa de Zacarias e saudou sua prima Isabel, aconteceu algo inesperado: "Ora, quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo". Quando nós católicos rezamos a Ave-Maria fazemos referência direta ao júbilo de Isabel: "Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus". É a recordação do dia em que o nascituro João Batista, estremecendo de alegria, saudou a presença de Deus!
Assim como a arte e a ciência nos ajudam a louvar a maravilha da criação, as forças políticas também podem e devem render homenagem ao milagre da vida.
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