Imagem ilustrativa da imagem Necrológio de um grande cachorro
| Foto: Josias Teófilo

Meu nome é Mac, Big Mac. Sou um enorme cão da raça English Mastiff e vivi por quase 14 anos com a família do filósofo Olavo de Carvalho em Richmond, na Virgínia. Durante esse período, lati, comi, bebi, dormi, farejei, abanei o rabo, corri atrás das visitas, cuidei da casa e vim a falecer no último dia 24 de junho. Fui um cão feliz e hoje peço licença ao cronista de sete leitores para fazer aqui o meu necrológio.

Como bem sabem todos os alunos de Olavo de Carvalho, um dos exercícios mais importantes do seu Curso On-Line de Filosofia (COF) consiste na elaboração do necrológio. Infelizmente, como sou cachorro, não disponho da capacidade de abstração suficiente para escrever o meu necrológio na terceira pessoa; vejo-me obrigado a utilizar a perigosa palavrinha “eu”. Olavo certamente me perdoará. Ele tem razão, eu tenho ração. (Desculpem-me o trocadilho infame, mas eu acho que o Briguet vai gostar.)

O maior orgulho da minha vida de cachorro foi ser testemunha ocular da mudança que Olavo de Carvalho, apenas com a força do seu intelecto, conseguiu promover na sociedade e na cultura de um país chamado Brasil. Quando eu nasci, em 2006, o governo do PT acabava de passar por seu primeiro grande escândalo, o mensalão. Durante muitos anos, Olavo foi praticamente o único a anunciar que a esquerda tomaria o poder no Brasil e que isso seria um desastre. Eu vim ao mundo exatamente quando alguns brasileiros começaram a entender que Olavo tinha razão. Hoje o país entendeu — e por isso o povo grita o nome dele nas ruas.

Conheci vários amigos do professor Olavo: Rodrigo Gurgel, Carlos Nadalim, Ernesto Araújo, Silvio Grimaldo, Yuri Vieira, Filipe G. Martins, Flavio Morgenstern, Eduardo Bolsonaro, Bruno Garschagen, Ângelo Monteiro, Ludmila Lins Grilo e tantos outros. Em alguns, eu dei carreirão, mas estava só brincando. É que nós da raça Mastiff assustamos muito as pessoas quando brincamos. De certo modo, essa é uma característica que eu e o Olavo temos em comum. (Dizem que os cães ficam parecidos com os seus donos. Vejam a foto, feita pelo cineasta Josias Teófilo, e digam se eu não tenho razão...)

O Paulo Briguet tinha medo de mim. Certa noite, eu estava deitadão perto da cozinha, e ele não teve coragem de passar por mim para pegar cerveja na geladeira. Pediu ao Silvio Grimaldo que o fizesse (Silvio era da casa, portanto eu o respeitava). Naquela ocasião, Rodrigo Gurgel me deu de presente um osso de dinossauro. Adorei, é claro.

Minha última imagem ficará eternizada no filme de um hóspede da casa, o Bernardo Pires Küster. Enquanto ele e o Olavo, o discípulo e o mestre, caminhavam por uma estrada de terra e falavam sobre o destino espiritual da civilização, eu apareci em cena. Eles não sabiam, mas era uma despedida.

Obrigado, Roxane e Leilah, por cuidarem tão bem de mim. Obrigado, Olavo, por cuidar de mim e desse país que, mesmo de longe, eu aprendi a amar — o Brasil.