Memórias de um estudante doutrinado (I)
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terça-feira, 18 de abril de 2017
Em 1985, eu tinha 15 anos e estava no primeiro colegial em uma escola particular. A primeira leitura obrigatória indicada pelo professor de história foi o livro "A Ilha", de Fernando Morais. A obra era uma ode à revolução cubana e trazia na capa uma foto do comandante Fidel Castro, posteriormente apelido de "El Coma Andante" pelos cidadãos de Cuba. Aquele livro foi o meu primeiro contato com a ideologia comunista, que viria a abraçar anos depois, na faculdade.
Durante toda a minha juventude, eu não tive apenas uma Escola Com Partido; tive uma Escola Com Partido Único (para usar uma expressão do sempre excelente Francisco Escorsim). No colegial e na faculdade, não se cogitava estudar ou analisar outra perspectiva que não fosse a ideologia esquerdista. Era uma hegemonia concreta e completa.
As únicas fissuras existentes no domínio da esquerda eram os textos do jornalista Paulo Francis (então colunista da Folha de S. Paulo) e do economista Roberto Campos (então senador da República). Eu sentia muita raiva de ambos, porque eles ousavam questionar o meu mundinho feliz imaginário, mas não conseguia deixar de lê-los. Esses reaças escreviam bem pra caramba! Mais tarde descobri que Campos e Francis, inimigos figadais na época do regime militar, haviam se tornado amigos de infância.
Faz 20 anos que Francis morreu. E nesta semana Roberto Campos teria completado 100 anos. Ambos fazem muita falta; a influência desses dois homens corajosos foi decisiva em minha vida intelectual.
Em 1985, a TV Educativa do Rio realizou um debate intitulado "O Julgamento da História". De um lado, defendendo a visão da esquerda, estava o legendário líder comunista Luís Carlos Prestes; do outro lado, representando a visão da direita liberal, estava Roberto Campos.
Comecei a assistir ao debate torcendo para que Prestes colocasse o direitista em seu devido lugar. Foi exatamente o contrário que aconteceu. Não peço para que você acredite em mim. Apenas assista ao debate e depois me diga:

