Dom Geraldo está aqui
PUBLICAÇÃO
quarta-feira, 08 de novembro de 2017
por Paulo Briguet
O senhor de óculos e vestes sacerdotais desceu do táxi. Era bem cedo, e as aulas ainda não haviam começado. Abriu o portão da escola e caminhou devagar pelo pátio, sentindo no rosto a frescor da brisa de primavera. "Que saudade!", pensou.
Uma funcionária, que havia acabado de chegar, tomava um gole de café na recepção. Ao notar a presença do homem desconhecido, assustou-se. Ele sorriu como quem pede desculpas e disse:
Bom dia, filha. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Para sempre seja louvado respondeu a funcionária, como que por impulso.
O homem ajeitou os óculos e sorriu novamente.
Posso fazer uma pequena visita à escola?
Sim, padre. Mas o senhor poderia antes se identificar?
Eu sou o nome da escola.
Como assim?
É isso que você ouviu, filha. Meu nome é Dom Geraldo Fernandes.
Perplexa, a funcionária conduziu o visitante para dentro da escola. Ele gostou de quase tudo que viu: as salas de aula, a sala dos professores, os livros da biblioteca, os corredores, o pátio, a quadra de esportes, a limpeza geral do ambiente.
Só uma coisa o deixou triste. Em um dos ambientes, havia uma exposição "artística" sobre temas como aborto, pedofilia e suicídio. Ao contemplar as bonecas enforcadas, a simulação de um aborto, as notícias de pedofilia no clero e as páginas da Bíblia retalhadas, Dom Geraldo deixou de sorrir. A funcionária, que o acompanhava de perto, notou que as lentes dos óculos do visitante ficaram embaçadas. Sim, o arcebispo chorou.
Filha, você sabe rezar?
Sim, padre.
Então vamos rezar um Pai-Nosso pelas pessoas que fizeram isso.
Foi o que eles fizeram, em silêncio, de olhos fechados.
Em meia hora, começariam as aulas. A funcionária conduziu Dom Geraldo até a recepção e lhe ofereceu um café. Ele aceitou e, bom mineiro que é, contou-lhe uma pequena história. Nos anos 70, um palestrante resolveu falar sobre educação sexual em um colégio da arquidiocese. Fez isso da maneira mais equivocada possível, usando termos vulgares e estúpidos. Houve uma grande revolta entre os pais dos alunos. Quando soube do caso, Dom Geraldo optou por punir o diretor responsável pela palestra. Mas, depois de refletir bastante sobre o assunto, decidiu perdoá-lo, pois o homem se arrependera.
O meu lema como arcebispo era "Misericordia subsequetur". Sabe o que significa, filha?
Não, padre.
A misericórdia me acompanhará. Quer dizer: onde estiver o meu nome, haverá perdão. Basta que as pessoas queiram ser perdoadas.
Que bonito isso, Dom Geraldo...
Eu ficaria mais um tempo conversando com você, mas as aulas já vão começar e eu preciso ir. Quero rezar um pouco na capela da UEL. Não sei se vão permitir a minha entrada, mas não custa nada tentar. Deus a abençoe, minha filha.