Imagem ilustrativa da imagem Dois mais dois são quatro!
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O Brasil é o país em que as anedotas não são apenas contadas, mas vividas. Ouça esta:

"Uma pessoa, ancorada na realidade, chega e diz que dois mais dois são quatro. Outra pessoa, ancorada na ideologia, diz que dois mais dois são cinco. Então, chega uma terceira pessoa, ancorada na isenção, e diz que dois mais dois são quatro e meio. Assim, todos se deram por satisfeitos."

Há 25 anos nós vivemos esta piada. Desde a primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso, o País se alterna entre as duas lâminas de uma tesoura chamada esquerda, ora mais radical (dois mais dois são cinco), ora mais moderada (dois mais dois são quatro e meio). Ora, a dança das tesouras nada pode contra a realidade: dois mais dois são quatro! Quatro e meio, se tirarmos a vírgula, vira o número em que tantas vezes fomos obrigados a votar por falta de opção: 45.

A última eleição presidencial serviu para acabar com essa democracia pela metade, em que só um dos lados tem vez. A alternância entre o socialismo petista e a social-democracia tucana já encerrou seu ciclo histórico. A maioria do povo brasileiro, apesar de tantos anos de hegemonia esquerdista na grande mídia, na cultura e nas universidades, possui valores liberais e conservadores (não sou que estou dizendo isso, é a Fundação Perseu Abramo, do PT). Chegou a hora de que esses valores passem a determinar os rumos do Brasil como nação.

É evidente que não se pode cair no erro de imitar o adversário. Um governo de direita não deve se pautar pela lógica da esquerda, simplesmente colocando um sinal de negativo no lugar das coisas que o PT e o PSDB realizaram. No poder, os liberais-conservadores precisam evitar o erro de ser apenas um governo antiesquerda. O Brasil quer algo mais, algo que seja ontologicamente diferente, renovador e, por que não dizer, revolucionário. Em nosso tempo, não há mais nada revolucionário e contracultural do que ser conservador.

Por isso, vejo com bons olhos as escolhas de três novos ministros em áreas fundamentais: Sergio Moro (Justiça), Paulo Guedes (Economia) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores). Eles terão missões duríssimas pela frente: o combate ao crime (maior problema do País); o crescimento econômico e a redução do Estado; e o reposicionamento do Brasil no panorama mundial e no processo civilizatório.

Moro, Guedes e Araújo são profissionais de alta qualificação em suas áreas. Ao escolhê-los, o presidente eleito sabe que está chamando homens que dificilmente poderão ser destituídos de seus cargos sem uma complicada crise. Quem raciocina nos termos da velha política - essa que nos conduziu até aqui - acha que as escolhas de Bolsonaro foram erradas. Mas, sob uma nova perspectiva, penso que a estratégia do presidente eleito revela humildade e coragem. Não é fácil seguir o conselho cristão de diminuir-se para que outros possam crescer.

Eu sonho com um país em que dois mais dois voltem a ser quatro.

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Frase da semana: "Ex-presidente, se começar nesse tom comigo, a gente vai ter problema." (Gabriela Hardt, juíza da Lava Jato)

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