Hoje eu vivo em paz com os meus vizinhos. Dou-me bem com todos eles; de alguns sou amigo, de outros sou conhecido, com todos sou cordial. Vivo em paz com meus vizinhos e com os porteiros; com os taxistas e os frentistas; com a moça da padaria e as simpaticíssimas irmãs donas da Toca do Bode, onde bebo minha cerveja às sextas. Tenho relações amigáveis também, com os outros passeadores de cachorro do meu bairro; o Cisco às vezes late para os cachorros, mas eu nunca lato para os donos; em vez disso, dou-lhes bom dia, boa tarde, boa noite.

Imagem ilustrativa da imagem Amarás o teu vizinho
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Mas nem sempre foi assim. Há 30 anos, quando eu morava na República da Humaitá com meus irmãos e amigos Beto, Baiano, Moa’s e Turco Baixaria, tínhamos frequentes altercações com nossos vizinhos da época. E devo admitir: eles tinham toda razão. Nossas festas eram do balacobaco, e o barulho ia muito além das regulamentares dez horas da noite. Mesmo assim, eu tenho saudade daquela época; se fosse hoje, tentaria pegar mais leve depois das dez.

A Bíblia, já no Antigo Testamento, enfatiza a necessidade de amor ao próximo. Segundo um amigo, o Padre Bruno Athila, que é estudioso de línguas antigas, a palavra “próximo” é uma tradução do grego “plesion”, que por sua vez traduz o hebraico “rea’”. O padre explica: “Nas duas línguas, os termos indicam aquele que está associado a mim ou ainda aquele que se faz meu companheiro. Tanto o termo hebraico quanto o termo grego podem ser traduzidos por extensão como vizinho, amigo. Não devem ser confundidos com o termo que indica ‘irmão’, mas no desenvolvimento da língua e com o avanço da história bíblica, o termo rea’ (hebraico) passará a indicar também irmão”.

No Novo Testamento, Jesus amplia a extensão do termo “próximo”, ligando-o ao próprio amor de Deus. Nesse sentido, o meu vizinho é aquele que também é amado por Deus — e, portanto, merece o meu respeito, a minha consideração e a minha ajuda, caso necessário. Completa o Padre Bruno: “Para Jesus, não cabe a mim decidir quem é o meu próximo. O homem em dificuldade e até o inimigo me convidam a ser próximo”.

Mas por que estou escrevendo tudo isso? O motivo, meus sete amigos, é que no último sábado houve uma festa no condomínio vizinho ao meu prédio, e alguns dos convidados me acusaram de haver jogado uma lata ou algum outro objeto contra eles.

— Foi o Paulo Briguet, o homem do cachorrinho!

Não fui eu, nem poderia ser, e por diversos motivos. No momento do ocorrido, eu estava em outra festa, a de aniversário do meu amigo Gregório Montemor; pela posição do meu apartamento, é fisicamente impossível jogar algum objeto no local da festa; e, poxa, eu adoro festas, vocês poderiam me convidar.

Tento amar meus vizinhos. Mesmo aqueles que, no prédio ao lado, não morrem de amores por mim.