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. | Foto: Shutterstock

Raíssa tinha apenas 14 anos. Na manhã da última quarta-feira, na praia de Maria Farinha, em Pernambuco, ela foi torturada e morta por duas adolescentes, uma delas sua ex-namorada. Indiferentes aos pedidos de Raíssa para que não a matassem, as agressoras espancaram, esfaquearam e por fim tentaram afogar a vítima, em um suplício que durou cerca de oito minutos. O crime foi gravado pelas próprias adolescentes, que divulgaram o vídeo pelas redes sociais.

O comportamento das duas adolescentes chocou até mesmo os policiais que atenderam à ocorrência. Aparentemente drogadas, ambas se mostraram muito agressivas diante dos policiais e resistiram à apreensão. Pela lei brasileira, menores de idade não podem ser presos, apenas “apreendidos”; não cometem crimes, apenas “atos infracionais”; e jamais podem ser chamados de criminosos, mas sim “adolescentes em conflito com a lei”.

Só não contem isso à mãe e ao pai de Raíssa, que na quarta-feira sepultaram a filha em meio a gritos de dor e pedidos de justiça. Para todos que conheciam e amavam Raíssa, o que houve foi um crime e as responsáveis por esse crime sem dúvida são assassinas.

O motivo do assassinato, segundo as primeiras investigações, foi o ciúme. Uma das agressoras não aceitava o fim de um relacionamento com Raíssa, que voltara a estudar e estava namorando um rapaz de sua escola. No momento do crime, Raíssa vestia o uniforme escolar.

Vejo nesse terrível crime — e que os defensores do ECA me desculpem por dizer o nome das coisas — uma imagem do Brasil atual. Depois de passar 14 anos (a idade de Raíssa) sendo dominado e saqueado por uma organização criminosa, o povo brasileiro tenta recuperar o país destruído. Mas os donos do poder se recusam a aceitar o fim do relacionamento e fazem de tudo para que a vida do país se torne um inferno.

Querem quebrar o país — e por isso lutam contra a Nova Previdência. Querem libertar os criminosos — e por isso lutam contra o pacote anticrime. Querem continuar saqueando o tesouro — e por isso tentam acabar com a Lava Jato.

No momento em que foram presas, ops, apreendidas, as adolescentes da praia não se mostraram nem um pouco arrependidas do ato abominável que praticaram. Da mesma forma, as classes políticas brasileiras não veem nenhum problema em transformar as dez medidas contra a corrupção em desmedida corrupção; nenhuma inversão de valores em louvar os crimes de um militante estrangeiro; nenhuma desfaçatez em fazer um herói nacional ser interrogado pelos bandidos que ele desmascarou; nenhuma incongruência entre apresentar-se como pobre perseguido e possuir 78 milhões no banco.

O Brasil não vai morrer na praia. É por isso que neste domingo vamos às ruas, em defesa das reformas e pelo futuro de nossos filhos. A propósito, dois de nossos filhos — o menino Rhuan e a jovem Raíssa — passam a ser os símbolos de nossa jornada cívica.

Rhuan, Raíssa: nós lutamos por vocês!

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