A uma certa altura de “Democracia em Vertigem”, filme da diretora Petra Costa indicado ao Oscar, aparece uma foto de militantes esquerdistas mortos durante a ditadura militar, nos anos 70. Comparando a foto original com a imagem que aparece no documentário, percebemos que foram apagadas as armas de fogo dos militantes, para dar a impressão de que eles lutavam de mãos vazias e não faziam mal a ninguém. Semelhante técnica foi usada durante o regime de Josef Stálin na União Soviética: o tirano mandava apagar das fotos oficiais todos aqueles personagens que lhe pareciam inconvenientes, como o rival Trotsky.

Imagem ilustrativa da imagem A derrota do documentira
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Essa brevíssima passagem, no entanto, resume a técnica utilizada em todo o filme. Com maliciosos recortes de acontecimentos reais, muitas meias-verdades, algumas alucinações psicóticas e, acima de tudo, gritantes omissões e apagamentos históricos, Petra Costa compôs a peça de um novo gênero cinematográfico — o documentira. O objetivo final é fazer com que os nossos filhos acreditem que os governos criminosos do PT criaram um paraíso na Terra, que acabou sendo destruído por um golpe das elites.

Sem dúvida alguma, o documentira é um ato de resistência — mas um ato de resistência contra a realidade. Filha de milionários que aderiram à luta armada nos anos 70, Petra Costa quis apagar da história tudo aquilo que o Brasil realmente viveu nos últimos anos: o maior assalto aos cofres públicos da história; a maior crise econômica e moral do país; a transformação do Brasil no país mais assassino e analfabeto do planeta; a destruição da alta cultural nacional; o fortalecimento do narcotráfico; e, claro, o financiamento de ditaduras genocidas e corruptas. Sobre as maiores manifestações populares da nossa história e a tentativa de assassinato de Jair Bolsonaro, nem uma palavra. É necessário apagar certas coisas.

O mais engraçado é que a indicação ao Oscar de “Democracia em Vertigem” criou uma inédita categoria psicossocial: a dos petristas. Em torno da milionária oprimida, deram-se as mãos petistas, psolistas, comunistas, marinistas, feministas, isentões, neo-esquerdistas e até órfãos tucanos. Os petristas são, em sua grande maioria, adolescentes que já deixaram a adolescência, mas continuam confundindo seus desejos com a realidade.

Com o balde de pipoca sobre os joelhos, todos eles esperavam o sonhado Oscar na noite de domingo. Mas não deu certo. O prêmio de melhor documentira foi para o filme do Obama. Os lacradores americanos têm outro Bolsonaro a combater.

De qualquer forma, não vos entristeçais, companheiros. Petristas do mundo, uni-vos! Nada tendes a perder, a não ser os vossos cérebros.