A morte do jornalista e pesquisador José Antônio Tadeu Felismino, aos 68 anos, causou grande comoção na comunidade londrinense. À frente do Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina), ele estava em tratamento contra um câncer. Entre os vários amigos que fez em sua caminhada, Felismino é lembrado pelo sorriso e pela gentileza, além da capacidade de agregar ideias.

Natural de Londrina, ele era graduado e mestre em Comunicação Social pela UEL (Universidade Estadual de Londrina), e teve passagens por jornais como a Folha de Londrina, a revista Veja e o Jornal do Brasil, além de ter lecionado e trabalhado na administração da universidade. Na vida pública, Felismino foi vereador (1983-1992) e presidiu a CML (Câmara Municipal de Londrina) entre 1989 e 1990, além de ter trabalhado como chefe de gabinete na prefeitura. Também foi criador e gestor da Adetec (Associação do Desenvolvimento Tecnológico de Londrina e Região).

O professor Paulo Cesar Boni lembra com carinho da relação que teve com Felismino, inicialmente como colegas no Departamento de Comunicação da UEL entre as décadas de 1980 e 1990. Mais recentemente, Boni orientou o mestrado de Felismino, cuja dissertação foi publicada como o livro “O tempo do Poeira: História e memórias do jornal e do movimento estudantil da UEL nos anos 1970”. Tadeu, inclusive, “era a história viva”, segundo o professor, já que ele e seus amigos atuaram no jornal Poeira e no enfrentamento à Ditadura Militar.

Imagem ilustrativa da imagem Amigos e autoridades lamentam morte de Tadeu Felismino
| Foto: Douglas Kuspiosz

“Eu sempre lembrava o Tadeu que isso era um legado muito importante, porque essa parte da história foi um momento muito fértil na academia, muito fértil nos movimentos estudantis e tudo mais”, lembrando que voltaram a ser colegas de departamento entre 2013 e 2014. “O Tadeu era mestre em Comunicação Social, mas era doutor em educação, doutor em ouvir as pessoas e incorporar diferentes vertentes, pensares e interesses dentro do que ele estava fazendo.”

Mais recentemente, Boni destaca a importância do trabalho de Felismino nas discussões do Plano Diretor de Londrina. “Não tenho dúvida de que ele foi a pessoa mais bem escolhida para fazer esse trabalho de negociação, porque ele sabia ouvir, sabia negociar, sabia conciliar e fazer ajustes”, acrescenta.

A educação de Tadeu, inclusive, é um dos aspectos que ficarão na memória do professor, assim como a imagem de um homem sério na pesquisa. “O Tadeu sempre foi uma pessoa muito dedicada.”

A UEL divulgou nota de pesar pela perda de Felismino, que também foi pró-reitor de extensão na universidade.

Outro amigo próximo de Felismino, o médico Marco Fabiani conta que eles se conheceram quando tinham cerca de 19 anos, nas fileiras do movimento estudantil da UEL. Uma reportagem escrita pelo estudante de jornalismo chamou a atenção de Fabiani.

“O Tadeu foi uma figura essencial na história da universidade e da cidade, na redemocratização do país, nessa luta local. Ele era uma liderança inconteste, uma pessoa muito lúcida, tinha uma capacidade muito grande de liderar as assembleias, as reuniões, e a gente conviveu esse período todo”, lembrando que moraram juntos no começo dos anos de 1980. “Nós tínhamos um vínculo muito forte, nas férias ele passava com a gente [em Ribeirão Claro, no Norte Velho], e vivia essas histórias de cidade pequena e se divertia muito em saber disso.”

Para o amigo, o sorriso de Felismino é a lembrança que fica. “A risada dele, a gargalhada dele. Com o Tadeu, você contava uma história engraçada e ele ria com a alma”, citando também que ele era uma pessoa muito gentil.

"Londrina perde um grande londrinense", diz Belinati

O prefeito de Londrina, Marcelo Belinati (PP), lamentou a morte do presidente do Ippul. À FOLHA, Belinati ressaltou que Tadeu tinha “uma grande história de vida e de amor por Londrina”, e que sua trajetória está ligada ao município - tanto que desempenhou vários cargos públicos e foi protagonista na discussão sobre ciência e tecnologia através da Adetec.

“Eu pedi a ele para assumir a presidência do Ippul exatamente por essa visão como gestor, da necessidade de crescimento e desenvolvimento de Londrina. E pelo perfil, já que o Tadeu era um cavalheiro, um gentleman, um querido”, disse. “Eu perco um amigo, e Londrina perde um grande londrinense.”

Belinati destacou também o trabalho feito por Felismino e pela equipe do Ippul na construção do Plano Diretor que, para o prefeito, “vai colocar Londrina em outro patamar de desenvolvimento para o futuro”.

“O Tadeu era um homem da paz, um apaziguador. Sempre tranquilo nas situações mais difíceis, em que é difícil você manter a calma - e ele sempre calmo, tranquilo e contemporizador, um homem do diálogo”.

CÂMARA

O presidente da CML, Emanoel Gomes (Republicanos), destacou a atuação de Felismino no Legislativo de Londrina. “É uma pessoa no meio político muito conhecida e uma pessoa de caráter, hombridade e que a sociedade que conhecia, amava. Um cara sensacional, com um coração gigante”, afirmou.

Gomes ressaltou que a equipe do Ippul vai dar continuidade nas discussões do Plano Diretor, cuja finalização deve ocorrer “em meados do ano que vem” - e que será uma resposta para a sociedade londrinense e uma forma de honrar o presidente do instituto.

“Hoje é um dia de perda, estamos tristes por isso, e nossos sentimentos aos familiares e amigos”, lamentou. “Mas acredito que não teremos impacto na questão da discussão do Plano Diretor. Temos pessoas, que são servidores efetivos, capazes [na equipe do instituto].”

Felismino é o segundo presidente do instituto a falecer nesta gestão. O primeiro foi Roberto Alves Lima Júnior, o “Robertinho”, em abril de 2020. Permanece interinamente na presidência do Ippul o servidor Gilmar Domingues.

“Ao longo desses anos como prefeito e trabalhando lado a lado com o Tadeu, só foi crescendo a minha admiração e respeito por ele, seja por sua capacidade, seriedade, honradez e retidão de caráter, competência, pelo respeito que tinha com as pessoas, na fidelidade com nossa administração e no amor que tinha pela cidade de Londrina”, escreveu Belinati.

Presidente do Codel (Instituto de Desenvolvimento de Londrina), Alex Canziani afirmou que a morte de Tadeu “é uma grande perda”, e que ele foi “um dos grandes articuladores, entusiastas e lutadores pela inovação na cidade de Londrina”.

O ex-governador e ex-senador Alvaro Dias também lamentou a perda. "Tadeu Felismino foi um amigo dos tempos da juventude e parceiro de trajetória política, especialmente no período da redemocratização do país. Adeus!", afirmou, por meio de nota.

VELÓRIO

O velório de Tadeu Felismino está ocorrendo na Capela 4 do Parque das Allamandas (rua Joana Rodrigues Jondral, 155 - Cilo II). O corpo será cremado às 16h.