Determinação e sensibilidade, convicção e tato, força e doçura e conhecimento técnico com atitude prática. Unindo qualidades extremas com um equilíbrio engenhoso, as mulheres entraram em áreas do mercado de trabalho até então, dominadas com exclusividade pelos homens.

Na construção civil, as mulheres estão presentes nos cargos de lideranças até nos canteiros das obras em um setor considerado fundamental para o desenvolvimento econômico.

Neste ano, uma das entidades mais importantes do setor na região, o Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil) do Norte do Paraná passou a ser comandado pela primeira vez por uma mulher, a engenheira civil Celia Catussi, que assumiu a presidência da entidade. Além disso, a empresária Roberta Costa Alves Nunes Mansano foi escolhida como 2ª vice-presidente do Sinduscon.

“A presença feminina no mercado de trabalho já faz parte da nossa história, pois as mulheres conseguiram novas posições em diferentes setores. Essa é uma tendência mundial, a conquista de cargos e postos de trabalho que antes eram considerados apenas masculinos, como os canteiros de obras que eram redutos apenas para homens”, avalia Catussi.

A presidente do Sinduscon também lembrou que entre 2000 e 2010 com o “boom imobiliário” no País, o mercado passou a absorver a mão de obra feminina em diferentes níveis da construção civil, inclusive nos canteiros.

Segundo dados do Ministério do Trabalho, o crescimento da mão de obra feminina no setor entre 2006 e 2021, foi de 131% - de 108,2 mil para 250,9 mil postos em 15 anos.

“Não só nas áreas de engenharias, nos escritórios ou com projetos, houve uma abertura das construtoras para contratação pela capacitação e não por gênero, não sendo impeditivos mulheres assumirem diferentes funções”, comentou Catussi.

Com a alta demanda por profissionais especializados para a execução das obras, a presidente aposta na presença feminina para o crescimento do setor, conhecido pela produtividade e constância que impulsionam a entrega das obras e a economia regional e nacional.

“A qualificação é uma das principais preocupações do setor e por isso apostamos na formação para atendimento da demanda com o conhecimento necessário para a prestação do serviço, seja por terceiros ou contratados”, reforça.

Por conta desse cenário e apostando na presença feminina, o Sinduscon lançou o “Programa de Incentivo à Capacitação de Mão de Obra – Você Construtor”, que oferece oficinas para o ingresso de trabalhadores nos canteiros de obras. A participação das alunas qualificadas para desempenhar as funções é outro indicativo da importância feminina no setor: dos 36 formados, 17 são mulheres, ou seja, 47% dos alunos.

“Existem obras que ainda necessitam de força física, mas o setor avança com equipamentos e tecnologia que facilitam a execução e proporcionam ambientes mais saudáveis nos canteiros. A inovação é uma marca do setor, que busca aperfeiçoamento e técnica profissional, independente de gênero. Isso faz parte da evolução da sociedade.”



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'Diferente do escritório'

Karina Kitusse migrou do departamento pessoal para o setor administrativo de um canteiro de obras e conheceu uma nova realidade. As paredes de alvenaria com quadros, janelas com cortinas e vasos de flores ficaram para trás e o escritório rústico de madeira bruta se tornou um ambiente acolhedor.

“Existia uma visão bem machista com a entrada das mulheres dentro das obras, que são ambientes mais rústicos, bem diferente dos escritórios, mas isso está mudando. A obra tem um ar diferente, mas eu fui bem acolhida e é gratificante ver o prédio subir com envolvimento de toda equipe”, afirmou a funcionária da Construtora Vectra, que é encarregada da gestão dos colaboradores, logística, conferências de itens de fornecedores, notas, pedidos, organização de materiais, controle de jornadas, entre outros serviços administrativos.

Olhar diferenciado

A engenheira civil da Construtora Vectra Tery Carvalho afirma que a mulher tem um olhar diferenciado, o que beneficia desde o projeto até a execução da obra. “Isso vai muito além do conhecimento. A mulher consegue visualizar a longo prazo. Ela tem capacidade de olhar a planta e projetar a realidade”, ressalta

Carvalho também que cursos de graduação de engenharias e outras disciplinas das áreas de exatas passaram a ter uma presença feminina maior, quebrando paradigmas de que esse tipo de atividade profissional é apta apenas para os homens.

“Além disso, as mulheres surpreendem nos canteiros de obras, cada vez com mais qualidade em áreas de logísticas, administrativas, almoxarifados, não só limpeza como antigamente. Hoje temos mulheres fazendo serviço de pedreiros, pintores, azulejistas e no acabamento”, disse.

Apesar dos avanços, os números ainda mostram a presença massiva dos homens na execução das engenharias no Paraná. Segundo dados do Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia), 96 mil profissionais estão credenciados no Paraná, sendo que apenas 16% são mulheres.