A busca pelo voto dos indecisos, dos eleitores de outros candidatos e dos que não votaram no primeiro turno vai ser feita até os minutos finais da disputa presidencial mais tensa e acirrada desde a redemocratização do país, garantem as coordenações das campanhas de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Paraná. Carreatas, passeatas e atos com distribuição de materiais de campanha só podem ser feitos até as 22 horas deste sábado, véspera do segundo turno das eleições.

Imagem ilustrativa da imagem Na eleição mais tensa dos últimos tempos, a busca pelo voto até o fim
| Foto: Nelson Almeida/AFP

Vitoriosa no primeiro turno no estado, com 55,2% dos votos, a campanha de Bolsonaro projeta terminar o segundo turno com um índice de 65%. Já a campanha de Lula prevê que, com a adesão de eleitores dos ex-presidenciáveis Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), o candidato salte dos 35,9% obtidos no primeiro turno para 45% no estado.

O deputado estadual Arilson Chiorato (PT), coordenador da campanha de Lula no Paraná, não acredita em virada de voto de bolsonaristas, mas crê que a maior parte dos eleitores de Ciro e Tebet migrarão para o petista. “A recepção por parte dos eleitores da Simone Tebet está muito boa, percebemos uma afinidade muito grande. Senti que a adesão do pessoal do Ciro foi mais automática, mais espontânea”, diz Chiorato.

Um dos principais nomes da campanha de Bolsonaro no Paraná, o deputado federal Filipe Barros (PL) vê um quadro diferente. Para ele, muitos eleitores de Simone Tebet não aprovam o apoio a Lula. “Ao longo de oito anos, Simone Tebet foi crítica do PT. O fato de ela estar pedindo votos para o Lula tem efeito contrário, o eleitor não consegue entender. Boa parte desses votos vai para o Bolsonaro”, aposta Barros. “O Ciro sempre se identificou mais com o Lula, mas criticou muito o Lula. Boa parte também vota em Bolsonaro agora”.

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Para a doutora em Ciência Política e professora universitária Karolina Mattos Roeder, o resultado do primeiro turno e as pesquisas das últimas semanas mostram um quadro estável, com poucas possibilidades de mudança. “Tem um movimento muito claro de cristalização do voto desde o primeiro turno. Uma característica dessa eleição é a rejeição, os dois candidatos têm altas taxas, o que mostra que o eleitor está decidido”, avalia. “Acho bem difícil termos uma virada. Teria que ter um fato polêmico, um escândalo mesmo”.

Abstenções

Uma tarefa comum às duas campanhas será reduzir o índice de abstenções no estado. No primeiro turno, 1.650.720 pessoas não apareceram para votar. Isso representa 19,4% do total, maior índice nos últimos 20 anos. A campanha de Bolsonaro avalia que a abstenção prejudica o candidato, já que o eleitorado paranaense teria uma propensão a votar em candidatos de direita.

Brazilian former President (2003-2010) and presidential candidate for the leftist Workers Party (PT), Luiz Inacio Lula da Silva, gestures during a press conference in Sao Paulo, Brazil, on October 24, 2022. - Veteran leftist Luiz Inacio Lula da Silva said he is keeping an eye on poll numbers showing his lead narrowing over far-right incumbent Jair Bolsonaro for Brazil's October 30 presidential runoff but is confident he will win. (Photo by Miguel Schincariol / AFP)
Brazilian former President (2003-2010) and presidential candidate for the leftist Workers Party (PT), Luiz Inacio Lula da Silva, gestures during a press conference in Sao Paulo, Brazil, on October 24, 2022. - Veteran leftist Luiz Inacio Lula da Silva said he is keeping an eye on poll numbers showing his lead narrowing over far-right incumbent Jair Bolsonaro for Brazil's October 30 presidential runoff but is confident he will win. (Photo by Miguel Schincariol / AFP) | Foto: Miguel Schincariol / AFP

Filipe Barros acredita que a mobilização ajudará Bolsonaro no Paraná. “Foi muito bom o fato de termos ficado em segundo lugar no primeiro turno nacional, fez com que muitas pessoas percebessem que cada voto é importante. A gente tem percebido, tanto de eleitores como de empresários e lideranças, que estão todos muito engajados e engajando outras pessoas. É um engajamento que a campanha do Lula não tem”, diz o deputado.

A campanha de Lula trabalha para reduzir a abstenção onde o candidato do PT foi mais bem votado no estado. “Estamos fazendo um trabalho para as pessoas irem votar, incentivando o voto e divulgando o calendário do transporte público. O Lula ganhou em 144 cidades do estado no primeiro turno, isso pega a região central e o Sudoeste do estado, mas tem recortes no Sudoeste e no Norte. Uma abstenção maior nessas regiões prejudicaria o Lula. Em Londrina e Curitiba, prejudicaria o Bolsonaro”.

Karolina Roeder diz não acreditar que a abstenção possa impactar no resultado da eleição. “A taxa de abstenção é maior entre o eleitorado mais pobre, que vota sobretudo no Lula. Mas tem os feriados do Dia do Servidor Público (28) e do dia 2 de novembro, em que as pessoas podem viajar. Aí seria mais o eleitorado do Bolsonaro, de maior renda. Geralmente a abstenção no segundo turno é maior que no primeiro, mas acredito que não será impactante para ambos os candidatos”.

October 24, 2022. - Veteran leftist Luiz Inacio Lula da Silva said he is keeping an eye on poll numbers showing his lead narrowing over far-right incumbent Jair Bolsonaro for Brazil's October 30 presidential runoff but is confident he will win. (Photo by EVARISTO SA / AFP)
October 24, 2022. - Veteran leftist Luiz Inacio Lula da Silva said he is keeping an eye on poll numbers showing his lead narrowing over far-right incumbent Jair Bolsonaro for Brazil's October 30 presidential runoff but is confident he will win. (Photo by EVARISTO SA / AFP) | Foto: Evaristo Sá/AFP

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TRANSPORTE GRATUITO

Algumas das maiores cidades do Paraná terão transporte gratuito, conforme solicitação do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) para poder proporcionar o compromisso cívico a toda a população apta a ir às urnas: Curitiba, Londrina, Maringá, Cascavel, Foz do Iguaçu e Cianorte confirmaram que a passagem não será cobrada no dia da eleição. "Como o voto é obrigatório no Brasil, é importante ter algo que possibilite às pessoas exercer esse direito. O transporte impacta nisso”, pontua a cientista política Karolina Roeder.

Reta final

As duas campanhas intensificaram as ações no estado nos últimos dias. O governador Ratinho Junior (PSD) e o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, aumentaram sua participação em eventos e carreatas. Nesta semana, a primeira-dama Michelle Bolsonaro e a senadora eleita Damares Alves estiveram em Curitiba, Guarapuava e Cascavel.

Segundo Arilson Chiorato, a campanha de Lula faria carreatas e passeatas nas 399 cidades do estado nos três últimos dias. Uma das apostas na reta final é vincular a candidatura de Bolsonaro a uma possível alta do pedágio no Paraná. “Estamos mostrando para o eleitor que o Ratinho Junior quer a reeleição do Bolsonaro para manter o pedágio caro e oneroso. A única forma de ele garantir isso é a eleição do Bolsonaro”, afirma o deputado.

Já os apoiadores do atual presidente creem que o “voto antissistema” volte com força nesta reta final, com base na denúncia de supostas irregularidades em inserções de rádio do candidato. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, determinou o arquivamento da denúncia. “Nesta reta final, temos certeza de que todo o sistema tem trabalhado para colaborar com o Lula. O voto antissistema, que foi explorado na campanha de quatro anos atrás, está voltando com força”, diz Filipe Barros.

Karolina Roeder avalia que o debate foi prejudicado durante a campanha. “A campanha do Lula teve que desmentir coisas colocadas pela campanha do Bolsonaro, que tem uma máquina e uma estrutura de pagamento de benefícios. Inicialmente o Lula buscou a pauta econômica, mas o Bolsonaro pautou a campanha trazendo questões morais, o que fez com que o Lula mudasse a sua estratégia. Ativar o pânico moral nas pessoas pode ter levado votos para o Bolsonaro no primeiro turno”, analisa a cientista política.

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