O Brasil sempre foi reconhecido como um país agrícola. Transitando por diferentes ciclos de desenvolvimento, a começar pela borracha, seguida pelo cacau, cana, café e, mais recentemente, pela soja, o país avançou e se consolidou como uma potência agropecuária. Em nenhum momento da história, no entanto, sua importância tem sido tão reconhecida quanto agora, quando figura como o maior produtor e exportador global de soja, maior produtor e exportador de açúcar, 3º produtor e 2º exportador de milho, grande produtor e exportador de proteína animal, com destaque para a carne bovina e de frango, entre outros sucessos. Em boa medida, esses êxitos se devem à melhoria nos processos produtivos adotados pelos agricultores, via uso de mais e melhores tecnologias.

O IBGE estima para 2022 uma safra recorde de 261,4 milhões de toneladas (Mt) de grãos, evento que tem se repetido nas últimas temporadas, com as safras mais recentes geralmente superando as anteriores. A safra atual, se for concretizada, será 8,2 Mt e 4.0 milhões de hectares (Mha) maior do que a da temporada anterior.

Arroz, milho e soja representam 91,7% da estimativa de safra de grãos para 2022 e, no conjunto, respondem por 87,5% da área a ser colhida. Houve altas de 15,0% na produção de algodão em caroço, de 13,4% para o trigo e de 26,7% para o milho, assim como ocorreu, também, uma queda de 12,6% na produção de soja e 8,1% para o arroz por causa da instabilidade climática na Região Sul. Mato Grosso lidera com folga a produção nacional de grãos, com participação de 30,3% da safra, seguido pelo Paraná, (13,8%), Goiás (10,6%), Rio Grande do Sul (9,4%) e Mato Grosso do Sul (8,2%).

Chama atenção a produtividade média do trigo (3.139 kg/há), que promete entregar uma produção total de 8,9 Mt para a temporada de 2022; aumento de 13,4% em relação a 2021. As três safras de feijão somam 3,1 Mt, o que difere muito pouco dos montantes obtidos em safras anteriores, com Paraná e Minas Gerais liderando a produção.

O milho, sem os inconvenientes climáticos de anos anteriores, promete entregar em 2022 uma safra recorde de 111,2 Mt ou 23,4 Mt superior ao da safra anterior e já sinalizando com a possibilidade de a produção de grãos de milho superar os da soja, estimados em 118 Mt na atual temporada. Destaque para a 2ª safra de milho, com 85,4 Mt ou 76,8% da produção total do cereal, também um recorde histórico, segundo o IBGE.

Já a produção do milho 1ª safra não deverá superar as 25,8 Mt, o que chama a atenção pelo contraste com a importância que o cereal tinha até o surgimento do milho safrinha (safrinha?!), na década de 1980 e cuja produção evoluiu rapidamente constituindo-se na safra principal do cereal. Até a década de 1980, o milho 1ª safra respondia pela totalidade do milho produzido no Brasil. Atualmente, não chega aos 25%.

O grande feito da ciência agronômica brasileira ao longo do último meio século foi adaptar o cultivo da soja para semeaduras bem no início da primavera (setembro), utilizando cultivares precoces com bom desenvolvimento quando semeadas nesse período, possibilitando o cultivo do milho após a colheita da oleaginosa, o que tem permitido o sucesso do milho 2ª safra.

Se bem que o milho 2ª safra não seja possível no extremo sul do território nacional e nem em altitudes superiores a 600 metros na região central do Brasil, mas a disponibilidade de terras aptas para o cultivo da soja e do milho no mesmo espaço e ano é de bom tamanho, sem depender de futuros desmatamentos para viabilizar mais terras para o cultivo.

Tudo indica que o Brasil tem potencial para se tornar o maior produtor global de alimentos: tem muita terra apta e disponível, tem domínio de tecnologias de ponta e tem os mais dinâmicos e eficientes agricultores do mundo.

Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja