Por um motivo ou por outro, toda semana há uma discussão polêmica que vem das arquibancadas dos estádios de futebol. Seja racismo, violência ou simples intolerância, temas diversos geram discussões e reflexões.

Imagem ilustrativa da imagem Arquibancadas raivosas
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Na semana passada, a caminho do Estádio de São Januário, no Rio de Janeiro, para transmissão de Vasco x Ponte Preta, discutia com os comentaristas que trabalhariam comigo naquela partida a intolerância atual que reina nas arquibancadas de todo o país. Ana Thaís e o ex-jogador Pedrinho também andavam indignados com a sequência de fatos que tem dominado as manchetes nas últimas semanas vindas de fora do campo de jogo. E nós debatíamos: o que está acontecendo com as pessoas que vão a uma partida de futebol?

Algumas alusões antigas de que em um estádio tudo é permitido, que num estádio está a real face de uma sociedade ou que é tudo brincadeira, não dá mais. Essa distância entre humor e direito do outro diminuiu, acabou. É preciso respeito o tempo todo, e parece que boa parte das pessoas ainda continua utilizando uma praça esportiva para revelar seu lado pobre, através dos xingamentos e ofensas.

Na última terça-feira um “torcedor” do Boca Juniors, em plena Arena Corinthians, imitou um macaco num claro gesto de racismo. Foi preso, mas enquadrado no ato de injúria racial, o que lhe deu o direito de sair na manhã seguinte após pagar fiança e ainda debochar de todo o ocorrido publicando uma foto com um emoji de macaco em redes sociais. A impressão é que não há medo de autoridades, não há medo de julgamento algum, que não há respeito ao semelhante e nem à sociedade. E o argentino Leonardo Ponzo voltou para casa tranquilamente.

Ainda na semana passada, em Ponta Grossa, o técnico do Grêmio, Roger Machado, foi agredido verbalmente ao ouvir da arquibancada palavras pejorativas sobre sua esposa e filhas. Um profissional, em local de trabalho, sendo atacado de forma baixa e covarde por de alguma forma ser adversário naquele momento. Roger é um dos poucos técnicos negros no país, e uma das vozes mais lúcidas no futebol ao falar de racismo. Não à toa vira alvo facilmente por estar sempre incomodando com suas opiniões que remetem a cobranças e mudanças.

Mas essa ira desproporcional não é só aqui. Com a Libertadores em andamento, a cada rodada exemplos de várias partes da América surgem mostrando que o espaço do torcedor é muitas vezes seu palco para o espetáculo da ofensa e agressão. No Chile, um garoto de 10 anos foi atingido no olho por objeto atirado pela torcida da Universidad Católica, que enfrentava o Flamengo. Mais um exemplo do ódio ao adversário, considerado sempre inimigo por torcer por outro time que não o dele.

É preciso evoluir, mas as mudanças acontecem por educação ou imposição. A mudança de cultura e crescimento de uma sociedade podem levar gerações, o que fazem as leis se tornarem um caminho mais rápido para se corrigir falhas, desde que sejam realmente fiscalizadas e aplicadas. Não é mais admissível que os estádios e arquibancadas continuem sendo palco de barbáries sem punição firme. Mas enquanto esse equilíbrio não acontece, que sigamos cada um semeando arredores mais sadios, para um futuro mais social.

Júlio Oliveira é jornalista e locutor esportivo da TV Globo

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