O Brasileirão está no início e o longo calendário do futebol nacional já volta a ser discutido. As reclamações do excesso de jogos na temporada e o curto intervalo de tempo entre as partidas nas diferentes competições são a principal razão das queixas de times e atletas. Nada é novidade: nem calendário nem reclamações. Todos seguem o mesmo discurso de que assim não é possível fazer uma boa temporada em nível técnico. Mas quem propõe algo diferente? Quem sugere alterações? Quais poderiam ser as mudanças?

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. | Foto: Fernanda Luz/Agif/Folhapress

A dificuldade afeta todo o sistema, desde atleta, comissão técnica e diretoria. O primeiro sofre com lesões e oscilações técnicas; o segundo não tem tempo necessário para implantar metodologias e o terceiro surfa na onda do casuísmo, transferindo responsabilidades.

Comparado aos times europeus, os brasileiros jogam muito mais. Um time de elite no velho continente faz em média 70 jogos numa temporada. A diferença é grande. O Palmeiras, por exemplo, fez em 2021 91 partidas, 30% mais. Um absurdo. E já foi pior: em 1994 esse mesmo Palmeiras fez 97 jogos numa mesma temporada. E, sem dúvida, o campeonato estadual é o grande diferencial, já que na Europa também existem os torneios intercontinentais e as Copas.

Essa matemática não fecha pelos números e também pela cultura. Aqui, temos os estaduais, que na Europa não existe. Os campeonatos regionais são parte histórica do futebol brasileiro. Não dá pra falar deste esporte no Brasil sem falar na rivalidade regional, nos confrontos dos eternos vizinhos ou no verdadeiro futebol raiz.

Mas, a meu ver, a grande questão não é que um torneio regional seja o ponto decisivo para se discutir uma temporada. Poderia começar a diminuir número de jogos a partir de formatos. O Brasileirão de pontos corridos (bom ou não e não vamos discutir) poderia ter formato diferente em que se reduzissem o número de datas necessárias. A questão é que ninguém quer mudar nada, abrir mão de nada e somente reclamar que desta forma não está bom. E como vai mudar, então?

A Televisão entra e engorda receitas de clubes, que melhoram salários e investimentos. Patrocinadores investem na exposição de um produto que está em evidência o ano todo e assim vai cada qual se beneficiando de uma agenda repleta e farta, mas com vícios. E todos seguem o caminho do “enxergo, mas faço de conta que não vejo”. O período pós-Covid ainda tem revelado surpresas com relação à condição física de atletas, onde o rendimento não tem sido homogêneo numa mesma temporada. As sequelas ainda são novas e precisando de entendimento, mas que já mostram a necessidade de um cuidado especial com o desgaste que não pode ser o mesmo de anos anteriores.

A ideia de uma Liga ainda continua rondando os bastidores e a cada temporada surge uma possibilidade de que ela realmente vire realidade. Pode ser o caminho da mudança. A dúvida, é que para qualquer alteração é necessária uma união dos clubes, algo ainda improvável no campo de dirigentes individualistas. Toda mudança fica mais fácil quando vem de uma união, em que todos percebem a necessidade e criam condições para que ela aconteça. No caso do calendário do futebol, já se sabe que algo precisa mudar, só falta a união para que todos possam colher mais resultados positivos e vitórias.

A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da FOLHA