Imagem ilustrativa da imagem De jacaré a Zé Gotinha, os “looks” para vacina estão cada vez mais frequentes no país
| Foto: Divulgação

O tão esperado momento de receber a vacina contra a Covid-19 têm chegado aos brasileiros de pouco a pouco, mais precisamente, em ordem decrescente. A cada semana em que as idades para vacinação vão avançando, um grupo diferente fica na expectativa de ser imunizado. Em um momento tão especial como esse, o brasileiro não poderia deixar passar em branco, por isso, vai especialmente trajado para a ocasião. Com camisetas que vão desde frases de apoio ao SUS (Sistema Único de Saúde) e à vacina até figuras do Zé Gotinha e de um jacaré, eles compõem o “look” da vacina.

“Eu não imaginava que o apelo iria ser tão grande”, diz Rafaela Caminha El Terras sobre a procura por camisetas customizadas para a vacinação. Rafaela é professora de português e inglês em Londrina, mas concilia as aulas com a produção das camisetas para seu próprio negócio, que surgiu em 2017 como Outberry. Desde o início, sempre prezou por criar estampas criativas e de cunho social, que transmitissem uma mensagem, e agora não seria diferente. Pelo fato do trabalho ser manual e demandar mais tempo, ela chegou até a recusar alguns pedidos, já que é a única responsável por fazer todos os processos: desenhar, embalar e entregar. “Em maio e junho eu trabalhei de domingo a domingo”, conta.

A professora Rafaela El Terras viu a procura por sua marca de camisetas customizadas aumentar enquanto a campanha de vacinação avança em Londrina
A professora Rafaela El Terras viu a procura por sua marca de camisetas customizadas aumentar enquanto a campanha de vacinação avança em Londrina | Foto: Arquivo Pessoal

O modelo mais procurado, segundo El Terras, é a ilustração de jacaré, que faz referência à fala do presidente Jair Bolsonaro sobre “virar jacaré” ao ser imunizado. O curioso é que as pessoas foram personalizando os pedidos para deixar o jacaré mais parecido o possível com a sua própria aparência ou personalidade, adicionando uma cor de cabelo e acessórios diferentes, algo que, nas palavras de El Terras, “mexe com a criatividade, com o estilo de vida da pessoa e é um momento que protestos cabem”.

Durante a história, a moda sempre foi importante como elemento de manifestação social, a exemplo de Zuzu Angel, estilista brasileira que realizou um desfile protesto contra a ditadura militar em 1971, com uma coleção estampada por manchas vermelhas e pássaros engaiolados, alusão à violência e repressão que ocorreu nesse período. Para Esther Eugenia Martins, formada em moda pela UEL (Universidade Estadual de Londrina) e com oito anos de experiência trabalhando na indústria têxtil, “a moda fala sobre o espírito do tempo, sobre tudo o que está acontecendo dentro da sociedade. A moda é social, ela fala sobre as intenções, os desejos e os quadros políticos”.

A modista Esther Martins diz que iniciativa também é uma forma de resgate e valorização do artesão e do artesanato
A modista Esther Martins diz que iniciativa também é uma forma de resgate e valorização do artesão e do artesanato | Foto: Arquivo Pessoal

Mais uma adepta ao clube do “look” da vacina ao adquirir uma camiseta com a estampa de jacaré, Esther acredita que esse tipo de manifestação é natural e contribui para um sistema democrático. Além disso, comprar de um produtor local que realiza um trabalho manual, é uma forma de resgate e valorização do artesão e do artesanato: “é um resgate cultural incrível, você poder se expressar, valorizar o artesão, mostrar que o artesanato tem um lugar contemporâneo na sociedade ainda”.

“É uma forma de homenagear as pessoas que estão atuando na linha de frente da saúde e, ao mesmo tempo, também apoiar a vacina como um ato importante para o coletivo”, diz Andressa Aparecida Lopes, professora do curso de letras na Unopar, em Londrina. Para ela, além desse tipo de manifestação significar uma forma de homenagem aos profissionais da saúde, também serve para demonstrar apoio ao SUS , responsável por regulamentar tudo o que está relacionado à saúde no país. Quando foi se vacinar em junho utilizando a famosa camiseta de jacaré, a professora deixou um registro do momento em suas redes sociais: “eu acredito muito no poder da expressão e da comunicação e nós sabemos como as redes sociais acabam influenciando também bastante nisso”. Segundo ela, é importante compartilhar esse momento como forma de incentivo a quem ainda não foi imunizado, para que se possa entender a importância dessa atitude para o coletivo.

A professora Andressa Lopes conta que manifestação significa uma homenagem aos profissionais da saúde e também serve para demonstrar apoio ao SUS
A professora Andressa Lopes conta que manifestação significa uma homenagem aos profissionais da saúde e também serve para demonstrar apoio ao SUS | Foto: Arquivo Pessoal

Mais uma educadora também decidiu embarcar nessa. Daniela Gomes acredita que, por ser professora, tem o papel fundamental em demonstrar confiança na ciência e esclarecer as várias “fake news" espalhadas sobre a vacina: “decidi adquirir a camiseta para mostrar a minha posição em ser totalmente favorável à vacinação e, como professora, tentar incentivar as pessoas indecisas a participar do processo de vacinação. É uma forma de tentar falar para as pessoas que muitas informações que circulam são falsas e sem fundamento”.

A professora Daniela Gomes enxerga o papel fundamental em demonstrar confiança na ciência e esclarecer 'fake news' sobre a vacina
A professora Daniela Gomes enxerga o papel fundamental em demonstrar confiança na ciência e esclarecer 'fake news' sobre a vacina | Foto: Arquivo Pessoal

*supervisão de Patrícia Maria Alves/editora

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