Ainda hoje há pessoas que encontram cápsulas deflagradas desse combate
Ainda hoje há pessoas que encontram cápsulas deflagradas desse combate | Foto: Acervo Roberto Bondarik

A ruptura da política do "café com leite” desencadeou o conflito que culminou com a Revolução de 1930. Esse era o nome do acordo político típico da República Oligárquica (1898 a 1930), que consistia na alternância no cargo de Presidente da República entre as oligarquias dos estados de São Paulo (café) e de Minas Gerais (leite). Foi o período em que o PRP (Partido Republicano Paulista) e o PRM (Partido Republicano Mineiro) faziam as principais articulações políticas e eleitorais no País.

No entanto, a crise econômica de 1929, com a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, fez com que os EUA não comprassem mais café do Brasil e esse era o principal motor da economia no país. Em 1929, o presidente Washington Luís, ligado aos cafeicultores, rompeu com a política do café com leite e indicou o paulista Júlio Prestes como seu sucessor. Três estados negaram apoio a Prestes: Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba, que formaram a Aliança Liberal. Seu candidato era Getúlio Vargas e o vice era João Pessoa, que governava a Paraíba.

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Quatiguá e a Revolução de 1930

A eleição aconteceu em março de 1930 e deu a vitória a Prestes. A Aliança Liberal não aceitou a derrota, alegando fraude na eleição. Foi quando ocorreu o assassinato de João Pessoa, cuja motivação ainda gera discussões se o crime foi passional ou teve razões políticas. De qualquer forma, a consternação da população com sua morte foi aproveitada politicamente e desencadeou a movimentação para a revolta armada.

EM OUTUBRO

A Revolução de 1930 teve início em 3 de outubro, quando as Forças da Guarda Civil gaúcha e voluntários tomaram o quartel-general do Exército de Porto Alegre. A partir dali ela se disseminou por diversos estados brasileiros. Vargas partiu de trem de Porto Alegre rumo à capital federal, que na época ficava no Estado da Guanabara (atualmente incorporada ao Estado do Rio). No entanto, as tropas federais estavam na rota e com ordens para evitar a passagem dos gaúchos por São Paulo.

Na madrugada de 5 de outubro, sob o comando do major Plínio Tourinho, oficiais da 5.ª Região Militar tomaram os quartéis de Curitiba. A Polícia Militar, os bombeiros, os delegados fiscais e até funcionários dos Correios aderiram ao movimento ainda pela manhã daquele dia. O presidente do estado, Affonso Camargo, abandonou a cidade em direção a Paranaguá. Em poucas horas, a Revolução de 1930 se instalou no Paraná.

Nesse mesmo dia, partiu do RS o primeiro destacamento pesado, composto por tropas das três armas, com um efetivo de 2,8 mil homens, sob o comando do tenente Alcides Etchegoyen, que havia sido expulso do Exército por Washington Luís. João Alberto, designado delegado militar da revolução nos estados de Santa Catarina e Paraná, partiria também no dia 5, acompanhado pelo mineiro Virgílio Mello Franco.

As colunas avançadas penetram no Paraná e recebem a adesão do 1º Regimento de Infantaria de Porto União e do 5º Batalhão de Infantaria de Palmas, ou seja, da região que foi disputada no confronto do Contestado. Enquanto as tropas governistas de maior expressão permanecem na defensiva, fixadas na ilha de Florianópolis.

BOMBARDEIO NO NORTE PIONEIRO

Segundo o professor Roberto Bondarik, , da UTFPR, os paulistas foram ocupando todas as cidades e extinguindo os núcleos políticos de oposição ao governo federal. “Fizeram isso em Ribeirão Claro (Norte Pioneiro), onde os fazendeiros eram gente de muitas posses e havia pessoas como o coronel Moreira Lima, que era do Exército e engenheiro militar.”

Getúlio Vargas foi apoiado pelos tenentistas.
Getúlio Vargas foi apoiado pelos tenentistas. | Foto: Acervo Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo

As primeiras forças rebeldes que seguiam rumo a Itararé eram formadas pelo 13º Regimento de Infantaria e pela Polícia Militar do Paraná. Estas forças perseguiam o 5º Regimento de Cavalaria, legalista, passaram por Jaguariaíva e seguiram para Sengés, que era uma vila próxima de Itararé. Os rebeldes paranaenses foram seguidos pelos gaúchos que adentraram em Jaguariaíva pelo Ramal Ferroviário do Paranapanema, atingindo sem dificuldades o Norte Pioneiro do Paraná.

O primeiro combate em Quatiguá ocorreu no dia 12 de outubro, quando os militares paulistas tentaram retomar a ferrovia do pequeno vilarejo, mas foram vencidos pelos gaúchos. No dia 14, Vargas registraria em seu diário: “Recebemos a confirmação da primeira vitória importante das nossas forças próximas a Jacarezinho, no Paraná. Cinco horas de fogo e o inimigo retirou-se para Carlópolis, deixando em nosso poder apreciável material de guerra e prisioneiros – soldados e oficiais”. “A Força Pública de São Paulo estava entrincheirada e aguardando o combate. Foi quando o padre de Carlópolis, para evitar o derramamento de sangue, foi até os paulistas e conversou com eles para se renderem”, destacou Bondarik.

TRÊS FRENTES

As forças legalistas compunham-se de elementos do Exército e Polícia paulistas, comandadas pelo coronel Paes de Andrade. As forças do 7º Batalhão de Caçadores de Santa Maria sob o comando do Stoll Nogueira, da Brigada Etchegoyen. Em Jacarezinho, o médico Gustavo Lessa foi designado pelos revolucionários “Governador Provisório do Município”. "O Gustavo era pai do Raul Lessa, de Londrina, que faleceu não faz muito tempo”, destacou o professor Bondarik.

A linha revolucionária se estenderia, na fronteira paulista, em três frentes. De Cambará a Jaguariaíva estavam as forças comandadas por Alcides Etchegoyen. Miguel Costa fazia pressão sobre Itararé, e João Alberto sobre a zona do litoral até Capela da Ribeira.

BOMBARDEIO AÉREO

O professor ressalta que houve bombardeios aéreos da Aviação da FPSP (Força Pública do Estado de São Paulo) no Norte Pioneiro. “Em Sengés, na Fazenda Morungava, vamos ter combates de artilharia nos dias 16, 17 e 18. Ali ocorre uma série de combates violentos. Essa fazenda posteriormente foi adquirida por Moysés Lupion”, destacou.

No dia 18, o comboio revolucionário chegou a Ponta Grossa. Dali Vargas seguiria até Curitiba, retornando, no dia 23, àquela cidade, onde o coronel Góis Monteiro instalara o estado-maior. Vargas seguiu viagem rumo ao Rio de Janeiro, para o Palácio do Catete. Nessa fase ele governou o País por 15 anos, até ser deposto por um golpe militar em 1945.

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