O tema deixou de ser uma novidade há muito tempo. Está entranhado no debate público por 13 longos meses e fixou endereço também nos corredores da política. Mas, como um pesadelo persistente e de horror progressivo, a pandemia de Covid-19 vive agora seu auge, atestam as estatísticas.

A segunda onda de contaminações e óbitos – muito mais avassaladora que a primeira e um tanto quanto inesperada pela opinião pública – debelou qualquer possibilidade do assunto apresentar alguma fadiga. Ao contrário. A temperatura nunca esteve tão alta. A classe política lida com uma explosiva combinação que entrelaça o risco iminente do colapso hospitalar, a ansiedade pela vacinação em massa, as cobranças por socorro financeiro aos trabalhadores e às empresas, além da impaciência de uma parcela da sociedade com as medidas restritivas.

Imagem ilustrativa da imagem Deputados londrinenses evitam defesa de medidas restritivas mesmo com repique da pandemia
| Foto: Gustavo Carneiro

E o que os congressistas da região pensam a respeito deste momento delicado? A FOLHA fez uma enquete com os deputados federais Boca Aberta (Pros) Filipe Barros (PSL) e Luisa Canziani (PTB) para entender as convergências e divergências da bancada.

O deputado Diego Garcia (Pode), com domicílio em Londrina e base eleitoral no Norte Pioneiro, também recebeu as perguntas, mas preferiu não responder, alegando problemas particulares (seu pai, Roberto Garcia, conhecido como Tim, morreu aos 63 anos, vítima de complicações da doença no último dia 21 em Andirá).

As respostas foram enviadas por aplicativo de mensagem. Confira abaixo as posições de cada um.

Folha de Londrina - Qual é sua avaliação a respeito do recrudescimento da pandemia nas últimas semanas?

Boca Aberta

– Muito triste o que está acontecendo. Enquanto alguns países já estão relaxando as medidas restritivas, liberando todas as atividades, vivemos esta situação de milhares de mortos por dia. A gente tem que acreditar nos médicos, na ciência. Infelizmente, muitas pessoas duvidam da pandemia, acham que é um enredo de filme de ficção e, na verdade, é uma novela da vida real. O agravamento está ligado a isso. Muita gente não acredita no que está acontecendo e segue vivendo normalmente.

Deputado Federal Boca Abert (Pros)
Deputado Federal Boca Abert (Pros) | Foto: Michel Jesus/ Câmara dos Deputado

Filipe Barros

– Este agravamento demonstra a completa ineficácia das medidas adotadas por prefeitos e governadores, a incompetência de muitos gestores que durante o ano passado, um ano eleitoral, adotaram muitas medidas antes das eleições que, magicamente, deixaram de existir depois das eleições. Por que muitos hospitais de campanha foram construídos a toque de caixa no período pré-eleitoral e, depois, contrariando a opinião de profissionais da saúde, foram desativados? Para conseguirmos resultados diferentes, temos que agir de modo diferente, é o que eu diria aos gestores.

Deputado Federal Filipe Barros (PSL)
Deputado Federal Filipe Barros (PSL) | Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Luisa Canziani

– É uma tragédia, lamento e sinto muito por todas as mortes já registradas no Brasil e no mundo. Estamos enfrentando um momento muito difícil em todo o País com o registro da nova variante, que tem maior índice de contaminação e tem se mostrado mais agressiva. Por isso, acho que todos precisam se conscientizar do momento e cada um fazer a sua parte: seguir à risca todas as medidas sanitárias, como uso de máscara, utilizar álcool em gel e manter o distanciamento social. E, quem puder, deve ficar em casa. São medidas simples, mas que fazem a diferença. Da nossa parte, estamos trabalhando no Congresso Nacional para amenizar os impactos da pandemia, seja agilizando a votação de projetos de lei e na proposição de propostas.

Deputada Federal Luísa Canziani (PTB)
Deputada Federal Luísa Canziani (PTB) | Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

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FL- Quais fatores contribuíram para este agravamento? De quem é a maior responsabilidade de ação neste momento?

Boca Aberta

– Muita gente não acredita, não usa máscara, álcool gel, relaxa, acha que não vai acontecer com ele, acha que é uma miragem no Deserto do Saara. O atraso na vacinação em massa também é outro motivo.

Filipe Barros

– Em primeiro lugar, houve uma politização da pandemia. Em segundo lugar, há um completo desconhecimento do que seja ciência. Há, na verdade, uma ditadura da falsa ciência, imposta por gestores e setores da mídia. Ora, o vírus é novo. Não há respostas científicas para muitas dúvidas, inclusive sobre tratamento e cura. São apenas indícios que o tempo pode ou não comprovar. O que antes se dizia cientificamente comprovado hoje já não há mais. Por isso, chamo isso de ditadura da falsa ciência.

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| Foto: Gustavo Carneiro

Luisa Canziani

– Não é o momento de procurarmos culpados pelo recrudescimento da pandemia no País. O momento pede união de esforços para o maior objetivo de todos: minimizar o mais rapidamente possível os efeitos da pandemia no País. Uma situação como essa que estamos vivendo carece de medidas conjuntas e cada um deve fazer a sua parte: Executivo, Legislativo, Judiciário e população. Esse deve ser o foco.

FL - Quais as prioridades no campo político para reverter esta situação?

Boca Aberta

– A prioridade é vacinar, vacinar e vacinar. Vacinação em massa. Votei no presidente Bolsonaro, minha família também votou. Somos simpáticos a ele e acreditamos no governo. Mas, por algum motivo que eu não sei, as vacinas não foram compradas com antecedência. Devia ter comprado todo o estoque disponível da Pfizer naquela ocasião. Outros países fizeram isso e hoje já estão muito avançados na imunização. Com as cepas novas, mais contagiosas e letais, e sem vacinação em massa, vai morrer muita gente, infelizmente.

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| Foto: Isaac Fontana/FramePhoto/Folhapress

Filipe Barros

– Na minha visão é garantir na lei orçamentária a aplicação de recursos do governo federal no combate à pandemia. Em várias frentes. Por exemplo: no financiamento de pesquisas nas universidades para o desenvolvimento de remédios.

Luisa Canziani

– Na minha opinião, o foco deve estar na vacinação. Devemos direcionar forças na agilidade de ações, seja para negociarmos a aquisição de doses ou de insumos para produção das vacinas e para a rede hospitalar. Neste momento, o importante é imunizarmos, o mais rapidamente possível, o maior número de brasileiros.

FL - Na sua atividade parlamentar, qual a principal contribuição no combate à pandemia?

Boca Aberta

– Desde quando começou a pandemia, a família Boca Aberta confeccionou milhares de máscaras e distribuiu na Feira do Cincão. Fizemos o mesmo no Hospital da Zona Norte para os profissionais de saúde. Fizemos também muitas doações de álcool em gel. Eu e o meu filho Boca Aberta Júnior abrimos mão de parte do salário, cerca de R$ 20 mil, para a compra de cestas básicas doadas às famílias que foram muito afetadas pela crise. Além disso, fiz uma emenda parlamentar com um repasse de R$ 6,5 milhões ao município no combate à pandemia. Nas mídias sociais, também fazemos um trabalho de conscientização da população.

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| Foto: Gustavo Carneiro

Filipe Barros

– Como eu disse na outra questão, acredito que todos os parlamentares têm que trabalhar para garantir recursos do governo federal para esta finalidade. E fazer o recurso chegar efetivamente ao município e fiscalizar para que ele seja bem gasto, com medidas eficientes de combate.

Luisa Canziani

– Logo no início da pandemia, o Congresso implantou um sistema de votação remota, o que viabilizou a tramitação de projetos que ajudaram efetivamente no enfrentamento à Covid-19 e seus efeitos, como a aprovação do auxílio emergencial, do pacote de socorro às empresas e também na área de educação, como a aprovação do Novo Fundeb e a MP 934/20, que criou novas regras para o ano letivo, que foi prejudicado pela pandemia. Também direcionamos emendas parlamentares para o custeio da saúde e o combate à Covid. Foram mais de R$ 10 milhões pagos para custeio da saúde para 35 municípios. E somente de recursos encaminhados para enfrentamento à Covid foram cerca de R$ 10 milhões para 28 municípios.

FL- Qual sua opinião sobre tratamento precoce dos infectados e as medidas restritivas de circulação de pessoas?

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| Foto: Isaac Fontana/FramePhoto/Folhapress

Boca Aberta

– As medidas restritivas não funcionam para o combate à proliferação do vírus. Sou a favor de uma maior liberação das atividades. O importante é as pessoas se conscientizarem e evitar aglomerações, usar a máscara e o álcool em gel. Até a vacinação em massa, a única forma de evitar o contágio. A experiência do lockdown ou de restrições muito duras não foi bem sucedida. Não resolveu e até piorou. O que adianta medida restritiva com o “busão” lotado? Não sou médico, aliás tenho muito pouco estudo. Não sei avaliar a questão do tratamento precoce. Mas segundo alguns especialistas que ouvi é uma alternativa válida sim, não está na contramão da ciência não.

Filipe Barros

– O dito tratamento precoce tem eficácia sim, a realidade nos mostra. O termo é equivocado, o correto é tratamento integral, como os próprios médicos dizem. Enfim, aqui mesmo em Londrina foram 10 mil pacientes medicados com pouquíssimos óbitos. Infelizmente, a politização da doença tem levado muitas pessoas a não conseguirem ter este tratamento integral. Muitas vidas poderiam ter sido salvas. Cito como exemplo a cidade de Chapecó (SC), que saiu de um caos, meses atrás, para uma situação atual de poucos casos, graças à adoção do tratamento integral pelo sistema de saúde. Esta é a realidade. Contra fatos não há argumentos

Luisa Canziani

– Acredito que as discussões sobre tratamento precoce devem acontecer no campo científico, entre médicos, pesquisadores e autoridades no assunto e, por isso, não me sinto à vontade para opinar. Acredito que receitar um determinado medicamento ou propor um tratamento é uma decisão médica e que não cabe a nós, leigos, opinar sobre essa questão. É - e deve ser - uma decisão médica.Sobre as medidas restritivas, acredito que, na medida do possível, e sempre respeitando todas as medidas sanitárias, a atividade econômica deve ser retomada. Defendo também a reabertura imediata das escolas. A pandemia evidenciou as desigualdades educacionais, já muito evidentes no nosso País. O ensino remoto não consegue atingir todas as crianças e os adolescentes, principalmente os de famílias de baixa renda.

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