A Vila Ipiranga, um quadrilátero localizado entre a Avenida JK, a Duque de Caxias e a Souza Naves, no Centro de Londrina, é conhecida por ser uma região que abriga grande parte do polo médico da cidade, com muitas clínicas, consultórios e laboratórios.

Imagem ilustrativa da imagem VILA IPIRANGA - As ruas de Londrina que homenageiam bandeirantes
| Foto: Folha Arte


O bairro foi escolhido também para homenagear em suas ruas célebres bandeirantes brasileiros como Pascol Moreira Cabral, Bartolomeu Bueno da Silva, Antônio Raposo Tavares, Manuel da Borba Gato, Domingos Jorge Velho e Fernão Dias Paes Leme.

O movimento bandeirantes ganhou força no século XVI e colaborou para a expansão territorial do Brasil além dos limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas, além da busca por minerais como ouro e prata. No entanto, a exploração dos novos territórios brasileiros foi feito a custa da escravidão das populações indígenas e desmatamentos.

Os nomes das ruas da Vila Ipiranga foram instituídos pela lei municipal 216 de 1953, que aprovou de uma vez só 239 nomes de logradouros da cidade. No entanto, na lei não há justificativa pelas escolhas e nem a biografia dos homenageados.

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Nos primeiros anos da cidade, os nomes de ruas eram feitos por decreto do executivo, que não era acompanhado de currículo nem de justificativa. Posteriormente, a definição dos nomes passou a ser por projeto de lei do Legislativo. Desde 1993, os projetos de nome de rua são acompanhados de currículo e justificativa.

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| Foto: Gustavo Carneiro

História ressignificada

A professora do departamento de História da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Silvia Martins, revela que estudos a partir da década de 1980 mostram uma outra imagem dos bandeirantes. Longe de serem grandes desbravadores e colonizadores, eles foram escravizadores de indígenas.

"Claro que eles desbravaram novos territórios, descobriram diamantes, ouro. Mas eles não saíram para isso. Isso não era riqueza imediata, a riqueza imediata era a mão de obra escravizada", ressaltou. "E essa mão de obra foi usada para construir a riqueza de São Paulo, por exemplo. Outro mito que se derrubou é que quando começou a escravidão africana, acabou a indígena. Não. As duas continuaram ao mesmo tempo".

Martins lembra que os atuais movimentos para a retirada de estátuas e monumentos em várias partes do mundo teve início em razão do racismo, sobretudo nos Estados Unidos. "Neste caso, é o racismo aos negros. Com os bandeirantes tínhamos o racismo com o indígenas. Justamente os dois grupos que tem grande contribuição para a criação da sociedade brasileira, mas que sempre ficaram apagadas em nome do europeu".

A professora Silvia Martins reconhece que o assunto é bastante polêmico quando se trata da remoção de estruturas históricas e acredita que a melhor alternativa seja usar estas homenagens para ensinar as futuras gerações a não repetirem os erros do passado.

"A história pode ser ressignificada. Na Alemanha, as crianças são levadas aos campos de concentração e aprendem como aquilo funcionava, porque é importante conhecer para não repetir. Você não pode destruir um campo de concentração porque é um lugar de memória extremamente violenta, mas você pode transformá-lo em algo pedagógico", frisou. "A pessoa vê e se convence que aquilo não pode acontecer de novo. Você não precisa destruir estes lugares, mas saber ressignificar para mostrar o que tem por trás daquilo".

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| Foto: Gustavo Carneiro

Lei

Em Londrina, a lei municipal 7.631, de 30 de dezembro de 1998, estabelece normas para a nomenclatura de vias, praças, logradouros, próprios e outros bens públicos.

O artigo 4º estabelece: "É vedada a alteração de nome de bairros, loteamentos, vias, praças, logradouros públicos, próprios e outros bens públicos de qualquer natureza que contenham nome de pessoas, fatos históricos ou geográficos, salvo para correção ou adequação aos termos da lei".

Segundo ainda a mesma leia, a mudança de nome já oficializado será permitida em casos excepcionalíssimos de inconveniência ou duplicata ou se houver a concordância de, no mínimo, 51% dos proprietários ou dos moradores do bairro, loteamento, via, praça, logradouro público, próprio ou bem público em questão.

A Câmara Municipal informou que não há atualmente nenhum registro de projetos de lei, pedidos de informação, requerimentos ou indicações que tenham monumentos como tema.