O preconceito racial é denunciado por diversos artistas brasileiros.

Neta de escrava, Elza Soares conta em sua biografia que vivenciou o racismo em diversos episódios. No início da carreira, foi proibida de subir em várias casas de shows, chegou a ser impedida de se hospedar em hotéis porque era "gente de cor" e deixou de fazer parte do cast de uma grande gravadora pelo fato de ser negra.

Na juventude, Milton Nascimento era proibido de frequentar o principal clube de Três Pontas (MG) por ser negro, só sabia o que acontecia lá dentro em dias de shows pelo amigo Wagner Tiso
Na juventude, Milton Nascimento era proibido de frequentar o principal clube de Três Pontas (MG) por ser negro, só sabia o que acontecia lá dentro em dias de shows pelo amigo Wagner Tiso | Foto: Marcelo Justo/ Folhapress

Aclamado no mundo inteiro como um dos maiores músicos de todos os tempos, Milton Nascimento também foi vítima de racismo. Na juventude, o cantor e compositor mineiro conta que pelo fato de ser negro era proibido de frequentar o principal clube de lazer da cidade de Três Pontas. Quando havia shows no local, a única opção do artista era ficar na praça ouvindo o som que vinha do clube. E só ficava sabendo o que acontecia lá dentro graças ao amigo Wagner Tiso, que saia para a praça para contar a ele tudo o que presenciava.

O rapper Criolo sentiu na pele o peso do preconceito racial ainda na infância. Após sofrer um acidente doméstico foi levado pelo pai em um pronto-socorro. Segundo ele, o atendimento foi rápido e durou apenas cerca de 30 minutos. Entretanto, só conseguiram deixar o local duas horas mais tarde, pois seu pai havia ficado detido depois de ser denunciado como sequestrador de uma criança branca que mantinha em cativeiro. Mas no caso, a criança em questão era ele, que tinha a pele mais clara que o pai.

Na infância, o rapper Criolo foi levado ao pronto-socorro pelo pai, depois do atendimento, o pai foi denunciado como "sequestrador de criança" por ser negro enquanto o filho tinha pele mais clara
Na infância, o rapper Criolo foi levado ao pronto-socorro pelo pai, depois do atendimento, o pai foi denunciado como "sequestrador de criança" por ser negro enquanto o filho tinha pele mais clara | Foto: Divulgação

A racismo foi traduzido em música por diversos compositores brasileiros, sobretudo os rappers. Entre os exemplos há composições de Criolo (“Boca de Lobo”) que tem na abertura um verso de Wally Salomão: “Agora entre meu ser e o ser alheio, a linha de fronteira se rompeu.” E ainda nas letras de Emicida (“Boa Esperança”) e Djonga (“Corra”).

Medalhões da MPB também falaram do tema, como Caetano Veloso e Gilberto Gil (“Haiti”) e Billy Branco (“Banca do Distinto”).

Confira trechos das músicas:

"Por mais que você corra, irmão

Pra sua guerra vão nem se lixar

Esse é o xis da questão

Já viu eles chorar pela cor do orixá?

E os camburão o que são?

Negreiros a retraficar

Favela ainda é senzala, Jão!

Bomba relógio prestes a estourar"

(Trecho de "Boa Esperança", de Emicida)

*

Made in Favela é aforismo pra respeito

Mondubim, Messejana, Grajaú, aqui é sem fama

Nos ensinamentos de Oxalá, isso é bacana

Na porta do cursinho, sim, docim de campana

LSD, me envolver, tem a manha

Diz que é contra o tráfico e adora todas as crianças

Só te vejo na biqueira, o ativista da semana

(Trecho de Boca de Lobo, de Criolo, Nave e Daniel Ganjaman)

*

E hoje um batuque um batuque

Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária

Em dia de parada

E a grandeza épica de um povo em formação

Nos atrai, nos deslumbra e estimula

Não importa nada:

Nem o traço do sobrado

Nem a lente do fantástico,

Nem o disco de Paul Simon

Ninguém, ninguém é cidadão

Se você for à festa do Pelô, e se você não for

Pense no Haiti, reze pelo Haiti

O Haiti é aqui

O Haiti não é aqui

(Trecho de Haiti, de Caetano Veloso e Gilberto Gil)

Confira alguns videoclipes:

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