Rosana Pereira Lopes, professora do departamento de Educação da UEL (Universidade Estadual de Londrina) defende ações sociais que construam um sistema com base no apoio da sociedade, unindo setor público, privado, pais, pois, no cenário atual, nesse momento, acredita que o ideal é que a criança permaneça onde está.

“A simples transferência não vai resolver o problema, vai agravar, porque é um problema maior, mais fundo. A educação, como instituição social, precisa de apoio provindo das bases do governo federal. Veio apoio a plano de saúde, a banco, às empresas, mas à escola é um direito público subjetivo e inalienável. Se o sistema privado, na pior das hipóteses, sofrer 30% de perda, é pouco provável que a rede estadual e municipal consiga absorver isso”, afirma.

Lopes aponta que trocar a criança de escola impacta a própria família, o poder público, a escola que perdeu o aluno e, principalmente, a criança que sofre a alteração. “A gente está falando de rompimentos de laços sociais, emocionais e cognitivos diante de uma situação que crianças e adolescentes já estão sofrendo com o rompimento inesperado com a suspensão das atividades presenciais da escola”. “O cognitivo não está desvinculado das questões emocionais e sociais”, acrescenta.

Ela cita que outros países que estão retomando as atividades já apresentaram sintomas de estresse pós-traumático. “Se crianças retornando às suas escolas podem apresentar essa característica, imagina mudando de escola, em que ela não assimilou a despedida, guardando a afetividade de rever as pessoas que conhece, o ambiente que ela conhecia passa a ser diferente. Ansiedade, agressividade, depressão geram dificuldade de concentração, que leva à dificuldade de aprendizagem de um aprendizado que já está em prejuízo”, aponta.

No âmbito das escolas particulares, a professora cita o impacto, quando parte delas teve investir para atuar no ensino remoto e que, mesmo com o retorno das aulas, terão gastos com segurança sanitária, como maior fluxo de limpeza, distribuição de EPIs e higienização, por exemplo.

No ensino público, menciona em um período regular há investimento médio de R$ 4.500 por aluno. “Em Londrina, se somarmos os dois últimos meses de transferência (abril e maio), temos 143 crianças, que até o final do ano terão custo de R$ 650 mil. Imagina o que virá quando o próprio sistema público terá que enfrentar para garantir segurança sanitária a todos?”, questiona.

Aprofundando-se ao tema, a professora demonstra que o problema das transferências não é só econômico e, ainda que fosse, é mais profundo que somente a troca de unidade escolar. Com o tempo, a escola pública pode levar a culpa por não oferecer ensino de qualidade, quando não há investimento para que ela supere o momento e nem tenha estrutura para absorver toda a demanda.

A professora cita que a educação é um direito de todos, dever do estado, com garantia a partir de zero ano e obrigatoriedade a partir dos 4 e que é preciso que a situação não seja resolvida de forma individual, mas que a sociedade se atente ao problema, que é maior, tem reflexos econômicos e sociais agora e no futuro.