À medida que as aplicações em inteligência artificial foram se sofisticando e interagindo em diversos setores, passaram a acumular e interpretar informações valiosas. Lojas de varejo, bancos, seguradoras, diversos setores do mercado possuem informações cada vez mais complexas sobre seus clientes e as ferramentas evoluem cada vez mais, disponibilizando dados multimídia. “Câmeras nas grandes cidades capturam dados, são capazes de reconhecer rosto, correlacionar com a mobilidade urbana, ou seja, você pode coletar dados a respeito das pessoas, o que desperta grandes questões científico-tecnológicas e de segurança, privacidade e ética”, afirma Raul Chequer, engenheiro de telecomunicações membro do IEEE (Institute of Electrical and Electronic Engineers).

Por isso, o engenheiro aponta que os primeiros anos da década apresentará grandes desafios na área de segurança, privacidade e ética para poder continuar usando legitimamente as tecnologias. “Trabalho de usar os dados sem ameaçar as pessoas, não permitir que a segurança seja rompida, manter a privacidade e até evitar que o tratamento por algoritmo congele ou estratifique certos prejulgamentos”, menciona. Isso porque a coleta e interpretação não é simples cientificamente, mas deve contemplar a subjetividade e complexidade humana para não colocar preconceitos anteriores ao trabalho futuro.

A futurista Jaquele Weigel tem opinião semelhante. “Na última década trocamos TI por tecnologias exponencias em convergência (...) O que vem por aí é incrível, porque ajudará o ser humano a lidar com a complexidade, mas se não houver discussão ética pode ser um desastre. Podemos tudo, mas não devemos tudo e a tecnologia não tem ética e a ética para o ser humano ainda tem gaps muito questionáveis”.

Ilustração da falsa Maria, personagem da ficção científica de 1927 "Metropolis", obra cinematográfica do alemão Fritz Lang, criada pelo artista gráfico britânico Steve De La Mare.
Ilustração da falsa Maria, personagem da ficção científica de 1927 "Metropolis", obra cinematográfica do alemão Fritz Lang, criada pelo artista gráfico britânico Steve De La Mare. | Foto: Steve De La Mare

INVASÃO

Se de um lado há instituições com dados em mãos, do outro há quem tente violar a segurança para chegar a essas informações. “É uma nova fase de técnicas de segurança, porque isso é uma corrida, os ataques se tornam mais sofisticados, as defesas precisam se sofisticar mais. Isso está na mesa de estratégias de grandes corporações e, claro, também dos governos que enxergam isso, tanto do ponto de vista ofensivo como defensivo, como instrumento militar, segurança nível defesa nacional.”

O que mostra que essa invasão também pode ocorrer de órgãos oficiais, a partir do momento em que os dispositivos permitem ter acesso de cunho particular. “No mundo todo, há uma quantidade gigantesca de câmeras espalhadas pelas cidades, uma capacidade enorme dos algoritmos reconhecerem as pessoas e serem capaz acompanhar você o dia inteiro, imagina o nível de invasão de privacidade que um governo mal-intencionado pode fazer de uma força tecnológica dessa”, discute.

Por isso, as discussões sobre ética e privacidade devem encabeçar decisões na próxima década sem desvincular das necessidades do novo mundo. “O que tem hoje em dia não responde ao mundo que a gente vive. É um grande problema que demanda que os cientistas se debrucem junto com políticos, sociólogos, economistas, porque a evolução é interdisciplinar e cada vez mais vai ser, todas as áreas são afetadas e de forma cada vez mais rápida, o que dificulta parar para pensar e obter respostas profundas sobre esses assuntos enquanto o ambiente está mudando”, avalia.

Imagem ilustrativa da imagem Futuro precisa debater ética
| Foto: Folha Arte

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