Cássia Silene Dezan Garbelini, da Bebê Clínica: "Tentamos descobrir no exame clínico, na conversa com os pais, quais os fatores que estão ocasionando o bruxismo"
Cássia Silene Dezan Garbelini, da Bebê Clínica: "Tentamos descobrir no exame clínico, na conversa com os pais, quais os fatores que estão ocasionando o bruxismo" | Foto: Gina Mardones - Grupo Folha

A Bebê Clínica é um órgão da UEL (Universidade Estadual de Londrina) que presta serviço de ambulatório e pronto atendimento para crianças cadastradas no programa ou referenciadas nas Unidades Básicas de Saúde. Entre ambulatório e pronto socorro, são cerca de 60 pequenos pacientes por dia, totalizando 45 mil desde o início do trabalho no início dos anos 1990.

A coordenadora da residência em odontopediatria da Bebê Clínica, Cássia Silene Dezan Garbelini, relata que os casos de bruxismo tem crescido nos últimos anos, apesar de não ter números consolidados sobre o assunto. “Vemos mais relatos dos pais nas consultas. Pela minha experiência clínica, muitos casos estão ligados a episódios de ansiedade, como a separação dos pais, gravidez da mãe na chegada de um irmão, mudança de escola, perda de um ente querido. Tentamos descobrir no exame clínico, na conversa com os pais, quais os fatores que estão ocasionando o bruxismo e orientá-los da melhor forma possível.”

Agora, em parceria com a UFMG, mais um trabalho de pesquisa inicia, mas com foco no bruxismo em bebês. O protocolo de pesquisa está sendo fechado e as ações deve começar em 2020. Assim, será possível entender quando o bruxismo é considerado fisiológico e quando passa ser patológico. “No caso dos bebês, o bruxismo é considerado fisiológico, ou seja, faz parte do desenvolvimento da crianças nos primeiros dentes. Quando os primeiros incisivos nascem, isso causa uma instabilidade. Eles possuem os dentes da frente e atrás nenhum, gera uma falta de equilíbrio, o bebê mexe o queixo de um lado para o outro, inclusive acordados. Só quando nascem os dentes de trás há uma estabilidade. A partir dos três anos, quando todos os dentes de leite já nasceram, o bruxismo merece mais atenção”, explica a pesquisadora da universidade que está à frente do trabalho, Junia Serra-Negra.

NATURALMENTE

O agente penitenciário Ivan Pereira dos Santos é pai de João Pedro, 4, e Isaque, 9. Quando o filho mais velho tinha três anos, ele reparou os “estalos” no dente durante o sono. “ Na época, as residentes da Bebê Clínica pediram para que eu acompanhasse por um período. Em casa, não havia nenhum tipo de fator que poderia estar gerando ansiedade nele.”

Por ser um estágio justamente da transição de bebê para criança, após seis meses, Santos relata que o comportamento findou naturalmente. “Não houve nenhum desgaste dos dentes do Isaque, felizmente. Já com meu filho mais novo, não tive problemas.” O pai é bem consciente nos cuidados da saúde bucal dos filhos. “Fazemos toda uma logística em casa para cuidar dos dentes deles, é uma questão de saúde."

Ivan Santos  com o filho Isaque: "Cuidar dos dentes é uma questão de saúde"
Ivan Santos com o filho Isaque: "Cuidar dos dentes é uma questão de saúde" | Foto: Gina Mardones - Grupo Folha

IDADE ADULTA

Perda da estrutura dentária, dores crônicas no músculo da face, na articulação perto do ouvido e cefaleias são algumas das sequelas de quem não trata o bruxismo. Uma preocupação, segundo a professora da UFMG, Junia Serra-Negra, é que existe grande possibilidade de a criança com esse comportamento continue um "bruxômano" também na idade adulta.

E a pesquisadora ressalta: bruxismo não tem cura. “Esse comportamento vai e volta. É importante trabalhar com as emoções da criança, apreender a lidar com as suas próprias características. Se algo a estressa, é preciso aprender a lidar com isso. Nos adultos, comumente se usa placas nos dentes só como um paliativo, mas nas crianças é raro porque elas estão sempre em crescimento.”

Atividades físicas, artísticas e tudo que tragam prazer para a criança também auxiliam no tratamento. “Atividades prazerosas liberam endorfina, serotonina...Vimos em estudos que nossas crianças que fazem esportes, e fazem com prazer, a maioria não têm bruxismo.”

O estímulo através de tecnologias – principalmente o celular – também pode causar transtornos, tanto pela luz emitida como pela postura da criança e do adolescente. “A luz funciona como um gatilho para o cérebro, que interfere na produção de melatonina, hormônio do sono. Se atrapalho a fabricação dele, outro hormônio, o cortisol, considerado do estresse, começa a subir. Outro ponto é do bruxismo vigília, de apertar os dentes, quando por exemplo está se jogando ou competindo no celular.”

SONO TRANQUILO

Na Bebê Clínica, da UEL, de acordo com a coordenadora da residência em odontopediatria, Cássia Silene Dezan Garbelini, tem se trabalhado muito com protocolos para que os pais gerem um sono tranquilo nas crianças. “A partir das 17 horas pedimos para desacelerar as crianças. Consumo de cafeína, assistir filmes, videogames, tudo aquilo que liga a criança é preciso evitar. Construir uma rotina calmante, no aconchego do pai e da mãe, com uma iluminação baixa, contar uma história...um bom sono é uma ótima forma de prevenir o bruxismo.”