Imagem ilustrativa da imagem Clima: um inverno "infernal"
| Foto: Marco Jacobsen

A primavera só começa na segunda-feira, 23 de setembro, mas há quem diga que o calor chegou para valer. Gostos pessoais à parte, os termômetros não deixam mentir. Quem acha que fez muito calor para um final de inverno, não se enganou. Tanto é que o Instituto Nacional de Meteorologia acendeu o alerta laranja sobre uma forte onda de calor para os estados de Paraná e Santa Catarina na semana passada. Em Londrina o termômetro chegou aos 37 graus, mas o calorão não foi uma exclusividade da região sul. Mineiros e paulistas também sofrem, só para citar alguns. A hashtag calorão mostrou que o brasileiro está incomodado.

Juliana Anochi, climatologista do Grupo de Previsão de clima - CPTEC/INPE explica que considerando os meses de janeiro a agosto, as temperaturas em Londrina, neste ano, ficaram em média dois graus acima da média histórica dos últimos 10 anos, o que pode ser avaliado como um aumento considerável. Como setembro ainda não terminou, não é possível dizer se ele também entrará na mesma estatística, mas a previsão para o trimestre Setembro-Outubro-Novembro de 2019 (SON/2019) é sim de maior probabilidade de temperaturas mais elevadas do que a média, não só para Londrina quanto para o Brasil todo.

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Lincoln Alves, pesquisador do Inpe, explica que de forma geral o que se observa é que as estações estão sendo mais quentes e a causa seria o aquecimento global. “A média global desse aquecimento é de um grau, mas em algumas regiões já alcançou patamares maiores. No Brasil isso tem acontecido nas regiões Norte, Nordeste e Sul, um sinal amarelo de que devemos começar a nos adaptar à nova realidade. Entre os fatores que causam esse aquecimento maior nessas regiões está a mudança de padrão de circulação de ventos e de chuvas, justamente por causa do aumento da temperatura no globo como um todo e também por causa do uso do solo, com as cidades ocupando cada vez mais espaço.”

O pesquisador alerta que o aumento da temperatura global também tem influência sobre a quantidade de chuvas, fazendo com que haja extremos: muita chuva ou falta dela e isso já está sendo sentido.

Para o trimestre setembro/outubro/novembro, ou seja, grande parte da estação da primavera, a previsão é de que as chuvas sejam acima da faixa normal climatológica sobre a região sul e sul da Sudeste. Na faixa central das regiões sudeste e centro-oeste, assim como no estado do Pará, interior da Bahia e Norte do Tocantins, a previsão é de que as chuvas sejam abaixo da média.

ALÉM DO DESCONFORTO

Segundo Alexandre Costa, professor da Universidade Estadual do Ceará, é fato que as temperaturas estão mais altas e as ondas de calor não serão um problema apenas no Brasil.

“Hoje as ondas de calor já estão cinco vezes mais frequentes do que no período pré-industrial. Em 2015 quase quatro mil pessoas morreram na Índia e no Paquistão e neste ano, na França (junho/julho 2019) deve ter chegado a quase duas mil mortes, isso tudo é fato. A cada grau de mudança na temperatura global, os extremos aumentam de quatro a cinco vezes. Por exemplo, se aquece dois graus, estamos falando de uma chance de ondas de calor 20 vezes mais frequentes. E o que hoje é o extremo pode deixar de ser extremo”, alerta.

O especialista destaca que as altas temperaturas vão muito além de um desconforto, trazendo desdobramentos na saúde pública e na disponibilidade hídrica, já que há um aumento da evaporação, menos água nos reservatórios e maior demanda, tanto para as pessoas e animais quanto para a lavoura. “O risco climático é algo muito sério, muito preocupante. Também falamos de tempestades e incêndios florestais.”

Costa aponta também mais calor não significa não haver períodos de frio nem a eliminação do inverno, mas a tendência é que as ondas de frio fiquem cada vez mais raras e das de calor, mais frequentes e mais intensas. Ele destaca que é um evento de tempo sozinho não define toda a questão, por isso a importância da estatística.

Há também a variabilidade natural, como os fenômenos El Niño e La Niña, por isso os institutos de meteorologia trabalham com períodos de 30 anos. Entretanto, o aquecimento tem se mostrado mais acelerado a partir da década de 1980, por isso já é perceptível o aquecimento de uma década para outra, sendo quase dois décimos por década.

“Dados mostram que o aquecimento seguro é de 1,5 grau acima do período pré-industrial. Para segurar esse um grau que estamos hoje temos que cortar emissões pela metade até 2030. Isso para continuar o processo e zerar em 2050, estarmos em carbono neutro”, diz.

O período pré-industrial é tido como referência, de acordo com Costa, por três motivos: já termos medição com termômetro; ser um clima estável e porque a partir da Revolução Industrial (1760 a 1820/1840) começaram a ser usados combustíveis fósseis, como carvão e petróleo, o que começou a mudar a atmosfera terrestre, aumentar a concentração de gás carbônico e a intensidade do efeito estufa.

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TEORIAS SOBRE O AQUECIMENTO GLOBAL

- Proposição 01: O aquecimento global existe e é culpa do homem.

As temperaturas estariam se elevando devido à emissão dos chamados gases-estufa, como o CO2 (gás carbônico) e o CFC (clorofluorcarboneto). Os defensores desta tese se baseiam em dados do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), órgão ligado à ONU (Organização das Nações Unidas, que apontam que cerca de 90% das alterações climáticas foram causadas pelo homem e apenas 10% são naturais.

- Proposição 02: O Aquecimento Global existe, mas é um evento natural.

Alguns cientistas defendem que o processo de aquecimento global é natural pois o principal fator que influencia o clima da Terra seria o Sol, e não os gases atmosféricos. Dessa forma, com o aumento das atividades solares, a tendência seria o aquecimento médio das temperaturas no planeta.

- Proposição 03: O aquecimento global não existe.

Para os cientistas que defendem essa visão o aquecimento seria uma estratégia dos países desenvolvidos para evitar o aumento do consumo e do padrão de vida do mundo subdesenvolvido. Alguns afirmam que o planeta poderia inclusive se resfriar nos próximos anos, já que a atividade solar é cíclica.

Fonte: Revista Mundo Educação